Comecei a chegar neste mundo, depois de um encontro de meus pais, no banco traseiro de um carro. No quarteirão do jardim público.
Não pretendiam nada sério. Estavam apenas ficando...
Ele com 19 e ela com 16, cheguei para atrapalhar...
Alguém escolheria começar o que chamam vida no banco traseiro de um carro?Entrar assim, estupidamente, naquilo que chamam História?
Minha mãe, quando comecei a ocupar espaço dentro dela, falou com a mãe dela, que falou com o marido dela e durante alguns dias o tema aborto debatia-se dentro de todas as cabeças, como um passarinho preso numa gaiola, querendo escapar. Eles queriam salvar o futuro... Eu era uma ameaça para o futuro.
Assistia a uma tempestade, sem poder me manifestar. Acabaram concordando que eu podia nascer. E que meus pais deviam casar.
Na igreja, minha mãe entrou com o sorriso encomendado pelo modista boiola: entre bem devagar e vá sorrindo para todos os lados. A gente fica mais bonita sorrindo. Meu pai, lá na frente olhava e sorria também. Muita gente nem sabia que eu estava ali...
O sorriso de ambos era uma forma de demonstrar que estavam fazendo o que devia ser feito. Mas, eles queriam mesmo é fugirem pra longe daquela situação e daquela noite, no banco de trás do carro.
Da festa do casamento eu nunca esqueço aquelas palavras gentis: na alegria e na tristeza; na saúde e na doença e que só a morte poria fim naquilo...
O padre deve ter acreditado, pois levou a cerimônia até o fim mostrando uma cara alegre.
Na lua-de-mel, apenas o indispensável. Não me lembro de nenhuma conversa amena entre os dois.
Constou que eu nasci de sete meses...
Nasci para atrapalhar... Estou crescendo e estou atrapalhando. Lá tenho culpa se eles decidiram casarem-se?
É a maior tolice isso de pensarem que é importante ter lugar para morar. Eu tenho. E daí?
A gente começa dentro de alguém. E a vida toda precisa morar dentro de alguém. O lugar humano é o humano. Sem isso, nenhum lugar é bom.
Até hoje ignoro o que sou para eles. É o mesmo que não ter onde morar.
Parece que até hoje meu lugar é o banco traseiro do carro parado na beira do jardim público, num canto escuro.
Vejo o mundo passando sob meus olhos...
Quando não se sabe por que nasceu, fica difícil saber para que nasceu. Criança indesejada é como lixo empurrado para baixo do tapete para salvar as aparências dos grandes. A partir daí, segue-se a lógica do absurdo e tudo pode vir a acontecer.
O psicólogo disse que a vida vale por si mesma... Já não suporto mais ouvir frases tão bonitas quanto vazias. O mundo anda cheio delas. Todos adoram dizer frases bonitas. Quase ninguém se preocupa em saber se a frase tem alguma ligação com a realidade. Vive-se a vida na tela esquecendo-se do chão que pisamos. A vida acontece no chão e ninguém olha para o chão, os olhos estão fixos na tela. É tudo uma ficção. Atores na tela e na platéia. Nenhum comprometimento com a vida. Basta representar. O prazer está em representar. Viver perdeu o sabor...
Bom é representar.
Todos se esmeram nisso.
No país da vida, não importa o veículo para chegar!
Não pretendiam nada sério. Estavam apenas ficando...
Ele com 19 e ela com 16, cheguei para atrapalhar...
Alguém escolheria começar o que chamam vida no banco traseiro de um carro?Entrar assim, estupidamente, naquilo que chamam História?
Minha mãe, quando comecei a ocupar espaço dentro dela, falou com a mãe dela, que falou com o marido dela e durante alguns dias o tema aborto debatia-se dentro de todas as cabeças, como um passarinho preso numa gaiola, querendo escapar. Eles queriam salvar o futuro... Eu era uma ameaça para o futuro.
Assistia a uma tempestade, sem poder me manifestar. Acabaram concordando que eu podia nascer. E que meus pais deviam casar.
Na igreja, minha mãe entrou com o sorriso encomendado pelo modista boiola: entre bem devagar e vá sorrindo para todos os lados. A gente fica mais bonita sorrindo. Meu pai, lá na frente olhava e sorria também. Muita gente nem sabia que eu estava ali...
O sorriso de ambos era uma forma de demonstrar que estavam fazendo o que devia ser feito. Mas, eles queriam mesmo é fugirem pra longe daquela situação e daquela noite, no banco de trás do carro.
Da festa do casamento eu nunca esqueço aquelas palavras gentis: na alegria e na tristeza; na saúde e na doença e que só a morte poria fim naquilo...
O padre deve ter acreditado, pois levou a cerimônia até o fim mostrando uma cara alegre.
Na lua-de-mel, apenas o indispensável. Não me lembro de nenhuma conversa amena entre os dois.
Constou que eu nasci de sete meses...
Nasci para atrapalhar... Estou crescendo e estou atrapalhando. Lá tenho culpa se eles decidiram casarem-se?
É a maior tolice isso de pensarem que é importante ter lugar para morar. Eu tenho. E daí?
A gente começa dentro de alguém. E a vida toda precisa morar dentro de alguém. O lugar humano é o humano. Sem isso, nenhum lugar é bom.
Até hoje ignoro o que sou para eles. É o mesmo que não ter onde morar.
Parece que até hoje meu lugar é o banco traseiro do carro parado na beira do jardim público, num canto escuro.
Vejo o mundo passando sob meus olhos...
Quando não se sabe por que nasceu, fica difícil saber para que nasceu. Criança indesejada é como lixo empurrado para baixo do tapete para salvar as aparências dos grandes. A partir daí, segue-se a lógica do absurdo e tudo pode vir a acontecer.
O psicólogo disse que a vida vale por si mesma... Já não suporto mais ouvir frases tão bonitas quanto vazias. O mundo anda cheio delas. Todos adoram dizer frases bonitas. Quase ninguém se preocupa em saber se a frase tem alguma ligação com a realidade. Vive-se a vida na tela esquecendo-se do chão que pisamos. A vida acontece no chão e ninguém olha para o chão, os olhos estão fixos na tela. É tudo uma ficção. Atores na tela e na platéia. Nenhum comprometimento com a vida. Basta representar. O prazer está em representar. Viver perdeu o sabor...
Bom é representar.
Todos se esmeram nisso.
No país da vida, não importa o veículo para chegar!