O VIAJANTE (Phellipe Marques)
Dormia profundamente, sonhando clarividente.
No sonho eu estava sentado num caminho, circundado de flores de lótus e seres observando meu aspecto.
Eu era um viajante, carente de respostas e não entendia direito o que estava fazendo naquele local, pois ao despertar de um sono profundo, encontrava-me sentado no centro da assembléia de seres que me observavam.
Conseguia perceber os raios de luz que iluminavam o infinito e meu ser estava em êxtase de tanta alegria.
Um homem veio lentamente em minha direção e sentou-se à minha frente.
Sentia um certo receio, medo de uma repreensão. Afinal, eu era um simples viajante e não entendia a razão de estar ali.
Então, timidamente perguntei:
- Qual o seu nome?
- Eu me chamo Zeniti Maro, mas muitos me conhecem como Buda Nitiren.
- Quem é o senhor? Eu o conheço?
- Sim, eu sempre estive aqui. Sou seu guia.
- Guia?
- Isso mesmo. Você não está perdido?
- É, na verdade estou. Mas como sabes disso?
- Também sou médico.
- Hã! Médico? Qual sua especialidade?
- O senhor pergunta demais, não acha?
- Por favor senhor, diga-me qual sua especialidade!
- Tudo bem, tenha calma! Minha especialidade é o espírito humano.
- Como assim?
Naquele momento, o homem olhou diretamente em meus olhos como se quisesse hipnotizar-me. Seu olhar transmitia um misto de paz e rigorosidade.
Então, ele sorriu levemente e disse:
- Parabéns! Você conseguiu transpor as barreiras do coração humano, do sofrimento e das adversidades, do egoísmo e da inércia, da escuridão da vida e hoje está aqui. Venceste um exército tão ou mais obscuro que o próprio Heich. Estou muito feliz!
- Mas doutor.....posso chamá-lo assim?
- Sim claro! Fique à vontade! Aqui você pode tudo!
- Eu não sei a razão de estar aqui, mas me sinto feliz.
- Isso é a iluminação da vida, meu jovem!
- É mesmo? Puxa! Posso fazer outra pergunta?
- Claro que sim!
- O que é a iluminação da vida?
- Hum! Você está vendo aquele homem sentado ali à direita, de cabelos compridos, sereno e de olhos brilhantes?
- Sim, ele está quase à minha frente.
- Vá até ele e pergunte!
- Ir lá? Mas porque o senhor mesmo não me responde?
- Posso responder-te com toda a certeza, mas não quero. Você precisa conhecê-lo também, pois somos médicos da mesma especialidade. Chegaste até aqui porque tiveste espírito de procura e esta é tua maior virtude, meu jovem! Por favor, vá até ele, sem medo!
Levantei-me e segui em direção ao homem indicado pelo doutor Nitiren. Sentei-me à sua frente e o olhei fixamente.
Estava ansiosíssimo e meu espírito clamava por aquela resposta. Porém, por mais incrível que pareça, não foi a primeira coisa que perguntei.
- Como é o seu nome?
- Meu nome é Jesus, caro amigo.
- Hã! Mas senhor, este não é teu reino, é?
- Não existem divisões no reino da transcendência, meu amigo. Só as pessoas de espírito elevado compreendem tal verdade.
- Desculpe-me senhor! É que o doutor Nitiren pediu que eu viesse até aqui.
- É eu sei disso!
- Sabe?
- Sei sim. Consigo perceber o seu espírito e seu semblante, meu jovem!
- Então o senhor é mesmo outro médico?
- Sim, sou sim.
- Ah! Então pode me responder uma única questão?
- Pegunte!
- Doutor, o que é a iluminação da vida?
- Uma bela pergunta, meu jovem!
- Doutor, responda a minha pergunta!
- Calma, caro amigo. Posso lhe fazer outra pergunta antes de responder?
- Acho que sim!
- Como você chegou aqui, meu jovem?
- Bem, eu estava em frente ao espelho em minha sala e, de repente, adormeci. Quando acordei estava aqui.
- Em frente ao espelho? Hum, muito interessante! O que fazia lá?
- Eu estava refletindo sobre toda a minha vida, relembrando tudo o que já havia feito de positivo e negativo às pessoas e ao mundo. E quando percebi já estava aqui.
- Você tem certeza que foi só isso que aconteceu?
- Não, não foi. Eu tenho vergonha de contar!
- Conte! Abra o seu coração!
Senti que podia confiar naquele homem.
Nitiren o tinha me indicado e era um bom médico também, compreensivo e amigo. Então, comecei a falar:
- Percebi quanto mal eu já havia causado às pessoas, doutor. E me arrependi, chorei e pedi perdão a mim mesmo pela culpa que sentia.
- Continue!
- Depois de alguns minutos, meus pensamentos me levaram até as crianças desnutridas da Somália e da Etiópia e isso me deixou profundamente triste.
- Entendo!
- Então percebi que preciso ser feliz junto com as crianças africanas e todas as pessoas. Tomei a decisão de fazer da minha própria vida uma ferramenta de luta em prol da felicidade humana, baseada na firme convicção de que o ser humano é infinito em potencial de transformação.
- Muito bem, meu jovem! Preciso dizer mais alguma coisa?
- Como assim?
- Você já sabe o que é a iluminação da vida e por isso está aqui. Acabou de me relatar a transcendência de seu espírito e mesmo não sendo cristão, consegues compreender o meu coração melhor do que ninguém.
- O seu coração, doutor?
- Sim, a alegria que sentes agora é a felicidade absoluta, consciente de sua missão como ser humano de espírito elevado e nobre e é o que há em meu coração e é a essência da vida do nosso amigo Nitiren. Isso é a iluminação!
- Puxa! É isso mesmo! Que mágico!
- Você mesmo respondeu a pergunta, meu jovem!
Minha alma explodia de tanta gratidão. Eu encontrara naquele sonho a revelação de uma vida inteira, tesouro maior da mais longínqua dimensão espiritual do homem.
Eu queria pular, dançar, rir, chorar, cantar e correr. Precisava agradecer aqueles dois homens de alguma forma e então disse:
- Muito obrigado!
De repente, acordei. Eles não estavam mais lá.
Via um reflexo luminoso que emergia de todo o meu ser. Lá os encontrei em meio a assembléia de seres.
Gandhi olhava-me com serenidade, King discursava com fervor, Madre Teresa fazia uma oração, Florence Nightingale cuidava dos deserdados e Beethoven regia a nona sinfonia, hino maior da harmonia que vislumbrei naquele instante.
Nitiren e Jesus sorriam e reverenciavam minha vida com profundo respeito e admiração.
O espelho à minha frente.
Dormia profundamente, sonhando clarividente.
No sonho eu estava sentado num caminho, circundado de flores de lótus e seres observando meu aspecto.
Eu era um viajante, carente de respostas e não entendia direito o que estava fazendo naquele local, pois ao despertar de um sono profundo, encontrava-me sentado no centro da assembléia de seres que me observavam.
Conseguia perceber os raios de luz que iluminavam o infinito e meu ser estava em êxtase de tanta alegria.
Um homem veio lentamente em minha direção e sentou-se à minha frente.
Sentia um certo receio, medo de uma repreensão. Afinal, eu era um simples viajante e não entendia a razão de estar ali.
Então, timidamente perguntei:
- Qual o seu nome?
- Eu me chamo Zeniti Maro, mas muitos me conhecem como Buda Nitiren.
- Quem é o senhor? Eu o conheço?
- Sim, eu sempre estive aqui. Sou seu guia.
- Guia?
- Isso mesmo. Você não está perdido?
- É, na verdade estou. Mas como sabes disso?
- Também sou médico.
- Hã! Médico? Qual sua especialidade?
- O senhor pergunta demais, não acha?
- Por favor senhor, diga-me qual sua especialidade!
- Tudo bem, tenha calma! Minha especialidade é o espírito humano.
- Como assim?
Naquele momento, o homem olhou diretamente em meus olhos como se quisesse hipnotizar-me. Seu olhar transmitia um misto de paz e rigorosidade.
Então, ele sorriu levemente e disse:
- Parabéns! Você conseguiu transpor as barreiras do coração humano, do sofrimento e das adversidades, do egoísmo e da inércia, da escuridão da vida e hoje está aqui. Venceste um exército tão ou mais obscuro que o próprio Heich. Estou muito feliz!
- Mas doutor.....posso chamá-lo assim?
- Sim claro! Fique à vontade! Aqui você pode tudo!
- Eu não sei a razão de estar aqui, mas me sinto feliz.
- Isso é a iluminação da vida, meu jovem!
- É mesmo? Puxa! Posso fazer outra pergunta?
- Claro que sim!
- O que é a iluminação da vida?
- Hum! Você está vendo aquele homem sentado ali à direita, de cabelos compridos, sereno e de olhos brilhantes?
- Sim, ele está quase à minha frente.
- Vá até ele e pergunte!
- Ir lá? Mas porque o senhor mesmo não me responde?
- Posso responder-te com toda a certeza, mas não quero. Você precisa conhecê-lo também, pois somos médicos da mesma especialidade. Chegaste até aqui porque tiveste espírito de procura e esta é tua maior virtude, meu jovem! Por favor, vá até ele, sem medo!
Levantei-me e segui em direção ao homem indicado pelo doutor Nitiren. Sentei-me à sua frente e o olhei fixamente.
Estava ansiosíssimo e meu espírito clamava por aquela resposta. Porém, por mais incrível que pareça, não foi a primeira coisa que perguntei.
- Como é o seu nome?
- Meu nome é Jesus, caro amigo.
- Hã! Mas senhor, este não é teu reino, é?
- Não existem divisões no reino da transcendência, meu amigo. Só as pessoas de espírito elevado compreendem tal verdade.
- Desculpe-me senhor! É que o doutor Nitiren pediu que eu viesse até aqui.
- É eu sei disso!
- Sabe?
- Sei sim. Consigo perceber o seu espírito e seu semblante, meu jovem!
- Então o senhor é mesmo outro médico?
- Sim, sou sim.
- Ah! Então pode me responder uma única questão?
- Pegunte!
- Doutor, o que é a iluminação da vida?
- Uma bela pergunta, meu jovem!
- Doutor, responda a minha pergunta!
- Calma, caro amigo. Posso lhe fazer outra pergunta antes de responder?
- Acho que sim!
- Como você chegou aqui, meu jovem?
- Bem, eu estava em frente ao espelho em minha sala e, de repente, adormeci. Quando acordei estava aqui.
- Em frente ao espelho? Hum, muito interessante! O que fazia lá?
- Eu estava refletindo sobre toda a minha vida, relembrando tudo o que já havia feito de positivo e negativo às pessoas e ao mundo. E quando percebi já estava aqui.
- Você tem certeza que foi só isso que aconteceu?
- Não, não foi. Eu tenho vergonha de contar!
- Conte! Abra o seu coração!
Senti que podia confiar naquele homem.
Nitiren o tinha me indicado e era um bom médico também, compreensivo e amigo. Então, comecei a falar:
- Percebi quanto mal eu já havia causado às pessoas, doutor. E me arrependi, chorei e pedi perdão a mim mesmo pela culpa que sentia.
- Continue!
- Depois de alguns minutos, meus pensamentos me levaram até as crianças desnutridas da Somália e da Etiópia e isso me deixou profundamente triste.
- Entendo!
- Então percebi que preciso ser feliz junto com as crianças africanas e todas as pessoas. Tomei a decisão de fazer da minha própria vida uma ferramenta de luta em prol da felicidade humana, baseada na firme convicção de que o ser humano é infinito em potencial de transformação.
- Muito bem, meu jovem! Preciso dizer mais alguma coisa?
- Como assim?
- Você já sabe o que é a iluminação da vida e por isso está aqui. Acabou de me relatar a transcendência de seu espírito e mesmo não sendo cristão, consegues compreender o meu coração melhor do que ninguém.
- O seu coração, doutor?
- Sim, a alegria que sentes agora é a felicidade absoluta, consciente de sua missão como ser humano de espírito elevado e nobre e é o que há em meu coração e é a essência da vida do nosso amigo Nitiren. Isso é a iluminação!
- Puxa! É isso mesmo! Que mágico!
- Você mesmo respondeu a pergunta, meu jovem!
Minha alma explodia de tanta gratidão. Eu encontrara naquele sonho a revelação de uma vida inteira, tesouro maior da mais longínqua dimensão espiritual do homem.
Eu queria pular, dançar, rir, chorar, cantar e correr. Precisava agradecer aqueles dois homens de alguma forma e então disse:
- Muito obrigado!
De repente, acordei. Eles não estavam mais lá.
Via um reflexo luminoso que emergia de todo o meu ser. Lá os encontrei em meio a assembléia de seres.
Gandhi olhava-me com serenidade, King discursava com fervor, Madre Teresa fazia uma oração, Florence Nightingale cuidava dos deserdados e Beethoven regia a nona sinfonia, hino maior da harmonia que vislumbrei naquele instante.
Nitiren e Jesus sorriam e reverenciavam minha vida com profundo respeito e admiração.
O espelho à minha frente.