Esmer ( MEU LOUCO AMIGO IMAGINÁRIO)
Tudo recomeçou há pouco tempo. Não lembro exatamente como nem quando ao certo. Uma das várias explicações para tal fato era a rotina intensa pela qual eu vinha passando. Assim falou o psicólogo com quem vinha me consultando ultimamente.
Como conseqüência disto, pedi demissão do emprego; minha namorada me pediu um tempo ─ Ela disse que seria melhor assim; às vezes precisamos apenas de um tempo para que as coisas se acertem ─, mas pra mim não funcionava desse jeito. Duas semanas já haviam se passado, porém eu não vinha notando nenhuma mudança ─ pelo menos para melhor. Meu péssimo desempenho na faculdade contribuiu para que as coisas piorassem um pouco. Com 25 anos, morando sozinho desde os 17, sobrevivendo com pouco mais de um salário mínimo e a ajuda de alguns familiares; era essa a minha realidade. Não que eu achasse ruim viver só; até que era legal a “independência”. Falo dessa maneira, porque, embora eu dependesse pouco dos meus pais, ainda não me sentia totalmente livre, pra ser sincero... Me sentia um fracassado. Deixe-me contar-lhes um pouco da minha história, tentarei ser o mais breve possível.
Tudo começou na minha infância. Quando eu tinha mais ou menos cinco anos, ─ fui filho único até esta idade, depois minha mãe ficou grávida novamente ─ nessa época tínhamos acabado de nos mudar, o meu pai havia sido transferido para uma cidade a poucos quilômetros de nossa cidade natal e achou melhor levar toda a família junto. Ele trabalhava numa empresa de mineração, seu horário de trabalho alternava; uma semana ele trabalhava durante o dia, na outra trabalhava durante a noite, no chamado “corujão”.
Com a nossa mudança, a sua presença em casa era cada vez mais escassa, geralmente quando não estava trabalhando, estava dormindo. Aos finais de semana, quando tinha um tempo livre, saía para beber e só voltava para casa, bêbado.
Eu ainda não compreendia as coisas direito nessa época, mas sentia algo que não sei explicar. Tão novo e eu já padecia de uma solidão sufocante. Isso tudo durou até quando consegui um amigo, ele era especial, pois eu o criei. O nome do meu amigo era Esmer, ele me fazia companhia, brincava comigo, mas era muito levado e às vezes me influenciava a fazer coisas erradas. Porém quando o meu pai me colocava de castigo ele me fazia companhia.
Uma vez estávamos brincando de bombeiros, ateamos fogo a umas caixas velhas, minha mãe chegou na hora, tentei explicar que não tinha feito aquilo sozinho, mas ela não me ouviu.
O Esmer me acompanhou até os oito anos. Quando o meu irmãozinho fez três anos, o meu amigo desapareceu misteriosamente. Acho que ele não gostou de dividir a atenção com o meu irmão e decidiu ir embora; desse tempo para cá nunca mais o vi. Estava a maior parte do tempo brincando com o meu irmão e também fiz amigos na escola.
Recentemente, pouco depois dos meus problemas começarem, tive a vaga impressão de que o meu amigo imaginário havia voltado. Eu estava indo para casa, quando ao passar por um quiosque mal iluminado da pracinha uma estranha figura cumprimentou-me como se fosse um velho conhecido. Um vento frio gelou-me a espinha, uma sensação estranha tomou conta de todo o meu ser; respondi ao cumprimento e segui viagem, mas era como se algo estivesse me seguindo. Chegando em casa sentei por alguns minutos antes de ir tomar banho, coloquei uma musica, enchi um copo de Whisky e me recostei à meia parede que separava os cômodos. Após ouvir duas musicas e tomar todo o copo de Black Label, deixei o som ligado e segui para o banheiro; depois de uma chuveirada de 15 minutos eu estava me sentindo bem melhor. Saí do banheiro enxugando o cabelo, quando cheguei no quarto assustei-me com um homem estranho sentado em minha cama, rapidamente peguei um bastão e ameaçando-o perguntei quem era:
─ Quem é você? Vamos diga quem é antes que eu lhe parta a cara!
Ele sorriu pra mim, um sorriso maléfico e com uma expressão de escárnio na face, respondeu-me:
─ Ora... Ora; como as pessoas tendem a esquecer das coisas tão facilmente. Por acaso não se lembra de mim realmente? Sou eu Carlos, o fantasma dos natais passados!
Uma sensação de desespero tomou conta de mim, como ele poderia saber o meu nome? Por qual motivo ele estava ali em meu quarto? E o mais importante, por qual razão ele estava fazendo aquela velha piada?
A paciência faltou-me, mais uma vez ordenei que ele se explicasse:
─ Vamos, pare com esta piada sem graça e me diga quem é você e o que quer aqui, caso contrário a policia vai ter que vir fazer o levantamento do cadáver de um invasor!
Ele mais uma vez sorriu, era como se tudo o que eu dissesse soasse como uma grande piada em seus ouvidos. Mais uma vez ele veio com uma de suas charadas:
─ Quem sou eu? Eu sou o eco dos que gritam em desespero, o reflexo do semblante sem face, sou a esperança que brota e que ao mesmo tempo desvanece, eu sou tudo quando o nada teima em persistir, e enquanto tudo desmorona, eu sou o único que continua a existir! Sou o seu melhor amigo, sei mais de você do que você conhece a si mesmo, então Carlos se lembrou de mim?
O intruso não estava me deixando outra escolha senão partir para a violência, além de invadir minha casa ainda estava usando joguinhos para caçoar de mim, já avançando para cima dele eu falei aos berros:
─ Você teve a sua ultima chance! Já que você não quer se identificar por bem vai me dizer quem é da maneira mais dolorosa ─ falando isso, avancei para cima dele furioso─ Dei uma cacetada com toda a força em sua cabeça; fechei os olhos para não presenciar a cena, quando abri os olhos me assustei, não havia mais ninguém no quarto.
Eu não podia acreditar no que os meus olhos estavam vendo, vasculhei os quatro pequenos cômodos do apartamento atrás do indivíduo, nada encontrei. Eu não tinha ouvido barulho de porta se abrindo, nem tão pouco era possível que ele tivesse fugido pela janela; encontrávamos no terceiro andar do prédio, se ele tivesse saltado estaria lá embaixo espalhado no concreto como uma omelete. Me recompus deste susto e fui ao banheiro jogar uma água no rosto, eu não queria acreditar em tudo o que tinha acontecido ─ isso se realmente teria acontecido algo.
Oh merda! Já não bastava tudo que eu vinha passando ultimamente, agora estou começando a ter alucinação. O pior de tudo é que eu estava vendo um homem, se ao menos fosse uma loira gostos ─ tipo Luana Piovani no filme mulher invisível─, mas não, eu estava agora vendo um maldito “barbado”.
Ainda não havia me recuperado totalmente do ocorrido, quando me assustei com o toque do celular; eu esqueci-me totalmente que havia combinado de sair com alguns ex-colegas de trabalho. Atendi o celular atônito:
─ Alô!
Era o Cristiano, um colega que trabalhava no setor financeiro do meu antigo emprego. Ele era um cara legal, mas inconveniente quando o assunto se tratava de respeitar a privacidade dos outros; estava lá embaixo me esperando no carro. Perguntou se eu ainda iria demorar, eu disse que não. Vesti uma calça e uma camisa rapidamente, calcei o sapato e me apressei para não deixá-lo esperando; enquanto eu me debatia às pressas me arrumando o Cristiano estava aos berros lá fora me apressando. Ele já estava aparentemente bêbado, pensei em desistir, mas já o tinha feito ir até lá, não seria justo. O sujeito estranho com quem eu tive aquele embate não saía da minha cabeça... Terá sido aquilo apenas fruto da minha imaginação, ou realmente aconteceu? A dúvida esmagava a minha mente, sentia como se estivesse com a cabeça presa em um “torno”.
Cristiano se incomodou com o meu silêncio e iniciou um diálogo mais sem nexo do que o que eu tive antes. Estávamos falando sobre uma ex-colega do trabalho... Segundo o próprio ela era louca por mim. Este assunto não durou muito, pois logo chegamos à festa. O resto da história vocês já sabem, bebemos muito, quem estava disposto dançou. Eu como estava desanimado não liguei pra nada daquilo, não via a hora de voltar pra casa e descansar, mesmo que ao chegar lá eu encontrasse aquele louco novamente.
Se eu não tivesse bebido tanto aquela talvez fosse a noite mais longa de toda a minha existência, mas não foi; às 4:00 da manhã entramos no carro e fomos embora. Chegando à porta de casa despedi-me e entrei.
Acordei à tarde com uma ressaca imensurável, ergui a cabeça lentamente, estava tonto depois da bebedeira. Dizem que susto cura soluço, só que no meu caso ele curou a ressaca. O sujeito da noite passada estava sentado na minha poltrona assistindo TV; olhou para mim com o mesmo olhar, e cheio de si começou a falar com a mesma expressão irônica em tom de desafio:
─ Pensou que estava livre de mim Carlos? Sei o que você está pensando, mas desde já lhe garanto que eu não sou uma mera ilusão. Eu sou e fui a melhor coisa que já aconteceu em sua vida até hoje, como você pode ter me esquecido? Como se atreveu a me tratar como se fosse um brinquedo velho que após ter ganhado um novo você simplesmente joga no fundo de um baú?
Eu estava cheio de toda aquela história de esquecimento, eu nunca o tinha visto em minha vida, não fazia idéia do que ele estava falando, decidi dar um basta àquela conversa:
─ Amigo não sei do que você está falando, eu nunca o vi antes. Você fala sobre esta história de esquecimento; não sei quanto a você, mas eu não sou Gay, você deve estar me confundindo com outra pessoa!
Ele insistiu:
─ Bem... Bem senhor Carlos, acho que vou ter que refrescar a sua mente. Aqui vai uma dica! Lembra-se da vez que quase incendiamos o quintal de sua casa quando você era criança? Você teve a idéia de brincar com fogo e eu o ajudei, mas quando a sua mãe chegou você jogou a culpa toda para mim... Outra dica, o meu nome começa com a letra E, éramos amigos até o seu irmão fazer três anos e você dedicar toda a sua atenção a ele esquecendo-me.
Vagas lembranças começaram a surgir na minha mente, mas isso só me fazia mais confuso; na minha infância eu pus fogo no quintal da minha casa, mas nessa época eu tinha apenas um amigo imaginário. Eu não acreditava no que estava ouvindo, ninguém sabia deste amigo, exceto meus pais devido às constantes culpas que eu atribuía a ele. Isso só poderia ser alguma brincadeira de mau gosto, alguém deve ter conversado com meus pais e descoberto a respeito desta história, e agora estava querendo me pregar uma peça. Como ele podia mentir tão descaradamente? Meu amigo imaginário era um garotinho de sete anos, não um homem de quase trinta anos; decidi conversar com o suposto homem imaginário:
─ Esta história que você me contou é bem familiar, mas sinto em informá-lo que você não se parece nenhum pouco com quem está tentando fingir ser; sendo assim é melhor que você volte pra onde quer que seja e não me venha mais com essa conversa!
Ele novamente falando:
─ Oh! Vejo que você está começando a recuperar a memória. Acho que até já sabe o meu nome, mesmo assim ainda reluta em me chamar por ele. Você sabe que sou eu e sabe por que eu vim.
─ Novamente com esse papo estranho! Eu já lhe disse, não lhe conheço! Mesmo que já o tenha conhecido não me lembro de você! E tem mais, não te chamei coisa nenhuma!
─ Ah, você chamou sim! É sempre assim, você sempre foi um fraco, um covarde; eu pensei que era apenas quando você tinha cinco anos, mas agora vejo o grande merda que você sempre foi!
Eu podia suportar muitas coisas, ele invadir minha casa enquanto eu estava no banho, invadir enquanto eu dormia, mas me ofender eu não admitia! Levantei da cama cambaleando e dei-lhe um soco em cheio no meio da cara, infelizmente não acertei; aparentemente o murro atravessou-lhe, insisti e mais uma vez dei outro soco ─ dessa vez eu não erraria, o primeiro foi por que eu ainda estava tonto─ Após mais três tentativas caí no chão estafado, recuperei o fôlego aos poucos e decidi ter um diálogo mais direto com ele:
─ Tá bom você me venceu pelo cansaço! Diga o que você quer de mim. Mas primeiro me explique esta história de você ser meu amigo imaginário.
─ Bem... A questão não é o que eu quero de você, sim o que você quer. Eu vim apenas porque você me chamou; ou você acha que eu preferia ser teu amigo imaginário do que ser de uma morena linda? A questão é que você me criou e sendo assim sou obrigado a ser seu amigo, ou seja, não tenho outra opção!
─Então você tá me dizendo que você realmente é o amigo imaginário da minha infância? Cara! Que história louca! Mas pelo que me lembro você era uma criança, não um... Um... Você sabe isso aí!
─ Tá bom... Admito! Estou fora de forma, mas você esperava quem? Um mister universo? Eu me alimento basicamente do mesmo que você! Ah, e por falar nisso! Seria legal você diminuir a batata frita cara; tô te falando, esse negócio é uma bomba; eu conheço outro amigo imaginário que morreu de tanto comer essas porcarias!
─ Você quer me dizer que este tempo todo você viveu comigo e eu não te via?
─ Não... As coisas não funcionam assim no ramo dos amigos imaginários. A partir do momento que você me cria nós temos um vínculo indissolúvel! Mas você só pode me ver enquanto quiser. Mesmo assim eu ainda coexisto junto a você, só que em outro mundo. E levamos praticamente a mesma vida que o outro leva.
─ Então nesse tal universo imaginário você tem a mesma vida miserável que a minha?
─ Não... Eu só herdei de você o péssimo hábito alimentar! Lá eu sou um empresário de sucesso.
─ Poxa! Obrigado por me contar isso de maneira tão sensível!
─ Não tem de quê! Aí será que eu posso comer aquele pedaço de pizza que está no congelador?
─ Só depois que você me esclarecer esta merda toda! Você disse que eu te chamei, mas eu não me lembro disso!
─Tá bom, vou te explicar desde o começo. Você é meio sequelado não? Bem aqui vai! Você lembra de quando você me criou?
─ Sim!
─ Nessa época você era uma criança ainda, mas sentia-se só e infeliz e precisava de um amigo. Foi aí que eu surgi para te fazer companhia. Agora você está do mesmo jeito, então vim para ajudá-lo.Tudo recomeçou há pouco tempo. Não lembro exatamente como nem quando ao certo. Uma das várias explicações para tal fato era a rotina intensa pela qual eu vinha passando. Assim falou o psicólogo com quem vinha me consultando ultimamente.
Como conseqüência disto, pedi demissão do emprego; minha namorada me pediu um tempo ─ Ela disse que seria melhor assim; às vezes precisamos apenas de um tempo para que as coisas se acertem ─, mas pra mim não funcionava desse jeito. Duas semanas já haviam se passado, porém eu não vinha notando nenhuma mudança ─ pelo menos para melhor. Meu péssimo desempenho na faculdade contribuiu para que as coisas piorassem um pouco. Com 25 anos, morando sozinho desde os 17, sobrevivendo com pouco mais de um salário mínimo e a ajuda de alguns familiares; era essa a minha realidade. Não que eu achasse ruim viver só; até que era legal a “independência”. Falo dessa maneira, porque, embora eu dependesse pouco dos meus pais, ainda não me sentia totalmente livre, pra ser sincero... Me sentia um fracassado. Deixe-me contar-lhes um pouco da minha história, tentarei ser o mais breve possível.
Tudo começou na minha infância. Quando eu tinha mais ou menos cinco anos, ─ fui filho único até esta idade, depois minha mãe ficou grávida novamente ─ nessa época tínhamos acabado de nos mudar, o meu pai havia sido transferido para uma cidade a poucos quilômetros de nossa cidade natal e achou melhor levar toda a família junto. Ele trabalhava numa empresa de mineração, seu horário de trabalho alternava; uma semana ele trabalhava durante o dia, na outra trabalhava durante a noite, no chamado “corujão”.
Com a nossa mudança, a sua presença em casa era cada vez mais escassa, geralmente quando não estava trabalhando, estava dormindo. Aos finais de semana, quando tinha um tempo livre, saía para beber e só voltava para casa, bêbado.
Eu ainda não compreendia as coisas direito nessa época, mas sentia algo que não sei explicar. Tão novo e eu já padecia de uma solidão sufocante. Isso tudo durou até quando consegui um amigo, ele era especial, pois eu o criei. O nome do meu amigo era Esmer, ele me fazia companhia, brincava comigo, mas era muito levado e às vezes me influenciava a fazer coisas erradas. Porém quando o meu pai me colocava de castigo ele me fazia companhia.
Uma vez estávamos brincando de bombeiros, ateamos fogo a umas caixas velhas, minha mãe chegou na hora, tentei explicar que não tinha feito aquilo sozinho, mas ela não me ouviu.
O Esmer me acompanhou até os oito anos. Quando o meu irmãozinho fez três anos, o meu amigo desapareceu misteriosamente. Acho que ele não gostou de dividir a atenção com o meu irmão e decidiu ir embora; desse tempo para cá nunca mais o vi. Estava a maior parte do tempo brincando com o meu irmão e também fiz amigos na escola.
Recentemente, pouco depois dos meus problemas começarem, tive a vaga impressão de que o meu amigo imaginário havia voltado. Eu estava indo para casa, quando ao passar por um quiosque mal iluminado da pracinha uma estranha figura cumprimentou-me como se fosse um velho conhecido. Um vento frio gelou-me a espinha, uma sensação estranha tomou conta de todo o meu ser; respondi ao cumprimento e segui viagem, mas era como se algo estivesse me seguindo. Chegando em casa sentei por alguns minutos antes de ir tomar banho, coloquei uma musica, enchi um copo de Whisky e me recostei à meia parede que separava os cômodos. Após ouvir duas musicas e tomar todo o copo de Black Label, deixei o som ligado e segui para o banheiro; depois de uma chuveirada de 15 minutos eu estava me sentindo bem melhor. Saí do banheiro enxugando o cabelo, quando cheguei no quarto assustei-me com um homem estranho sentado em minha cama, rapidamente peguei um bastão e ameaçando-o perguntei quem era:
─ Quem é você? Vamos diga quem é antes que eu lhe parta a cara!
Ele sorriu pra mim, um sorriso maléfico e com uma expressão de escárnio na face, respondeu-me:
─ Ora... Ora; como as pessoas tendem a esquecer das coisas tão facilmente. Por acaso não se lembra de mim realmente? Sou eu Carlos, o fantasma dos natais passados!
Uma sensação de desespero tomou conta de mim, como ele poderia saber o meu nome? Por qual motivo ele estava ali em meu quarto? E o mais importante, por qual razão ele estava fazendo aquela velha piada?
A paciência faltou-me, mais uma vez ordenei que ele se explicasse:
─ Vamos, pare com esta piada sem graça e me diga quem é você e o que quer aqui, caso contrário a policia vai ter que vir fazer o levantamento do cadáver de um invasor!
Ele mais uma vez sorriu, era como se tudo o que eu dissesse soasse como uma grande piada em seus ouvidos. Mais uma vez ele veio com uma de suas charadas:
─ Quem sou eu? Eu sou o eco dos que gritam em desespero, o reflexo do semblante sem face, sou a esperança que brota e que ao mesmo tempo desvanece, eu sou tudo quando o nada teima em persistir, e enquanto tudo desmorona, eu sou o único que continua a existir! Sou o seu melhor amigo, sei mais de você do que você conhece a si mesmo, então Carlos se lembrou de mim?
O intruso não estava me deixando outra escolha senão partir para a violência, além de invadir minha casa ainda estava usando joguinhos para caçoar de mim, já avançando para cima dele eu falei aos berros:
─ Você teve a sua ultima chance! Já que você não quer se identificar por bem vai me dizer quem é da maneira mais dolorosa ─ falando isso, avancei para cima dele furioso─ Dei uma cacetada com toda a força em sua cabeça; fechei os olhos para não presenciar a cena, quando abri os olhos me assustei, não havia mais ninguém no quarto.
Eu não podia acreditar no que os meus olhos estavam vendo, vasculhei os quatro pequenos cômodos do apartamento atrás do indivíduo, nada encontrei. Eu não tinha ouvido barulho de porta se abrindo, nem tão pouco era possível que ele tivesse fugido pela janela; encontrávamos no terceiro andar do prédio, se ele tivesse saltado estaria lá embaixo espalhado no concreto como uma omelete. Me recompus deste susto e fui ao banheiro jogar uma água no rosto, eu não queria acreditar em tudo o que tinha acontecido ─ isso se realmente teria acontecido algo.
Oh merda! Já não bastava tudo que eu vinha passando ultimamente, agora estou começando a ter alucinação. O pior de tudo é que eu estava vendo um homem, se ao menos fosse uma loira gostos ─ tipo Luana Piovani no filme mulher invisível─, mas não, eu estava agora vendo um maldito “barbado”.
Ainda não havia me recuperado totalmente do ocorrido, quando me assustei com o toque do celular; eu esqueci-me totalmente que havia combinado de sair com alguns ex-colegas de trabalho. Atendi o celular atônito:
─ Alô!
Era o Cristiano, um colega que trabalhava no setor financeiro do meu antigo emprego. Ele era um cara legal, mas inconveniente quando o assunto se tratava de respeitar a privacidade dos outros; estava lá embaixo me esperando no carro. Perguntou se eu ainda iria demorar, eu disse que não. Vesti uma calça e uma camisa rapidamente, calcei o sapato e me apressei para não deixá-lo esperando; enquanto eu me debatia às pressas me arrumando o Cristiano estava aos berros lá fora me apressando. Ele já estava aparentemente bêbado, pensei em desistir, mas já o tinha feito ir até lá, não seria justo. O sujeito estranho com quem eu tive aquele embate não saía da minha cabeça... Terá sido aquilo apenas fruto da minha imaginação, ou realmente aconteceu? A dúvida esmagava a minha mente, sentia como se estivesse com a cabeça presa em um “torno”.
Cristiano se incomodou com o meu silêncio e iniciou um diálogo mais sem nexo do que o que eu tive antes. Estávamos falando sobre uma ex-colega do trabalho... Segundo o próprio ela era louca por mim. Este assunto não durou muito, pois logo chegamos à festa. O resto da história vocês já sabem, bebemos muito, quem estava disposto dançou. Eu como estava desanimado não liguei pra nada daquilo, não via a hora de voltar pra casa e descansar, mesmo que ao chegar lá eu encontrasse aquele louco novamente.
Se eu não tivesse bebido tanto aquela talvez fosse a noite mais longa de toda a minha existência, mas não foi; às 4:00 da manhã entramos no carro e fomos embora. Chegando à porta de casa despedi-me e entrei.
Acordei à tarde com uma ressaca imensurável, ergui a cabeça lentamente, estava tonto depois da bebedeira. Dizem que susto cura soluço, só que no meu caso ele curou a ressaca. O sujeito da noite passada estava sentado na minha poltrona assistindo TV; olhou para mim com o mesmo olhar, e cheio de si começou a falar com a mesma expressão irônica em tom de desafio:
─ Pensou que estava livre de mim Carlos? Sei o que você está pensando, mas desde já lhe garanto que eu não sou uma mera ilusão. Eu sou e fui a melhor coisa que já aconteceu em sua vida até hoje, como você pode ter me esquecido? Como se atreveu a me tratar como se fosse um brinquedo velho que após ter ganhado um novo você simplesmente joga no fundo de um baú?
Eu estava cheio de toda aquela história de esquecimento, eu nunca o tinha visto em minha vida, não fazia idéia do que ele estava falando, decidi dar um basta àquela conversa:
─ Amigo não sei do que você está falando, eu nunca o vi antes. Você fala sobre esta história de esquecimento; não sei quanto a você, mas eu não sou Gay, você deve estar me confundindo com outra pessoa!
Ele insistiu:
─ Bem... Bem senhor Carlos, acho que vou ter que refrescar a sua mente. Aqui vai uma dica! Lembra-se da vez que quase incendiamos o quintal de sua casa quando você era criança? Você teve a idéia de brincar com fogo e eu o ajudei, mas quando a sua mãe chegou você jogou a culpa toda para mim... Outra dica, o meu nome começa com a letra E, éramos amigos até o seu irmão fazer três anos e você dedicar toda a sua atenção a ele esquecendo-me.
Vagas lembranças começaram a surgir na minha mente, mas isso só me fazia mais confuso; na minha infância eu pus fogo no quintal da minha casa, mas nessa época eu tinha apenas um amigo imaginário. Eu não acreditava no que estava ouvindo, ninguém sabia deste amigo, exceto meus pais devido às constantes culpas que eu atribuía a ele. Isso só poderia ser alguma brincadeira de mau gosto, alguém deve ter conversado com meus pais e descoberto a respeito desta história, e agora estava querendo me pregar uma peça. Como ele podia mentir tão descaradamente? Meu amigo imaginário era um garotinho de sete anos, não um homem de quase trinta anos; decidi conversar com o suposto homem imaginário:
─ Esta história que você me contou é bem familiar, mas sinto em informá-lo que você não se parece nenhum pouco com quem está tentando fingir ser; sendo assim é melhor que você volte pra onde quer que seja e não me venha mais com essa conversa!
Ele novamente falando:
─ Oh! Vejo que você está começando a recuperar a memória. Acho que até já sabe o meu nome, mesmo assim ainda reluta em me chamar por ele. Você sabe que sou eu e sabe por que eu vim.
─ Novamente com esse papo estranho! Eu já lhe disse, não lhe conheço! Mesmo que já o tenha conhecido não me lembro de você! E tem mais, não te chamei coisa nenhuma!
─ Ah, você chamou sim! É sempre assim, você sempre foi um fraco, um covarde; eu pensei que era apenas quando você tinha cinco anos, mas agora vejo o grande merda que você sempre foi!
Eu podia suportar muitas coisas, ele invadir minha casa enquanto eu estava no banho, invadir enquanto eu dormia, mas me ofender eu não admitia! Levantei da cama cambaleando e dei-lhe um soco em cheio no meio da cara, infelizmente não acertei; aparentemente o murro atravessou-lhe, insisti e mais uma vez dei outro soco ─ dessa vez eu não erraria, o primeiro foi por que eu ainda estava tonto─ Após mais três tentativas caí no chão estafado, recuperei o fôlego aos poucos e decidi ter um diálogo mais direto com ele:
─ Tá bom você me venceu pelo cansaço! Diga o que você quer de mim. Mas primeiro me explique esta história de você ser meu amigo imaginário.
─ Bem... A questão não é o que eu quero de você, sim o que você quer. Eu vim apenas porque você me chamou; ou você acha que eu preferia ser teu amigo imaginário do que ser de uma morena linda? A questão é que você me criou e sendo assim sou obrigado a ser seu amigo, ou seja, não tenho outra opção!
─Então você tá me dizendo que você realmente é o amigo imaginário da minha infância? Cara! Que história louca! Mas pelo que me lembro você era uma criança, não um... Um... Você sabe isso aí!
─ Tá bom... Admito! Estou fora de forma, mas você esperava quem? Um mister universo? Eu me alimento basicamente do mesmo que você! Ah, e por falar nisso! Seria legal você diminuir a batata frita cara; tô te falando, esse negócio é uma bomba; eu conheço outro amigo imaginário que morreu de tanto comer essas porcarias!
─ Você quer me dizer que este tempo todo você viveu comigo e eu não te via?
─ Não... As coisas não funcionam assim no ramo dos amigos imaginários. A partir do momento que você me cria nós temos um vínculo indissolúvel! Mas você só pode me ver enquanto quiser. Mesmo assim eu ainda coexisto junto a você, só que em outro mundo. E levamos praticamente a mesma vida que o outro leva.
─ Então nesse tal universo imaginário você tem a mesma vida miserável que a minha?
─ Não... Eu só herdei de você o péssimo hábito alimentar! Lá eu sou um empresário de sucesso.
─ Poxa! Obrigado por me contar isso de maneira tão sensível!
─ Não tem de quê! Aí será que eu posso comer aquele pedaço de pizza que está no congelador?
─ Só depois que você me esclarecer esta merda toda! Você disse que eu te chamei, mas eu não me lembro disso!
─Tá bom, vou te explicar desde o começo. Você é meio sequelado não? Bem aqui vai! Você lembra de quando você me criou?
─ Sim!
─ Nessa época você era uma criança ainda, mas sentia-se só e infeliz e precisava de um amigo. Foi aí que eu surgi para te fazer companhia. Agora você está do mesmo jeito, então vim para ajudá-lo.
Continua...
Tudo recomeçou há pouco tempo. Não lembro exatamente como nem quando ao certo. Uma das várias explicações para tal fato era a rotina intensa pela qual eu vinha passando. Assim falou o psicólogo com quem vinha me consultando ultimamente.
Como conseqüência disto, pedi demissão do emprego; minha namorada me pediu um tempo ─ Ela disse que seria melhor assim; às vezes precisamos apenas de um tempo para que as coisas se acertem ─, mas pra mim não funcionava desse jeito. Duas semanas já haviam se passado, porém eu não vinha notando nenhuma mudança ─ pelo menos para melhor. Meu péssimo desempenho na faculdade contribuiu para que as coisas piorassem um pouco. Com 25 anos, morando sozinho desde os 17, sobrevivendo com pouco mais de um salário mínimo e a ajuda de alguns familiares; era essa a minha realidade. Não que eu achasse ruim viver só; até que era legal a “independência”. Falo dessa maneira, porque, embora eu dependesse pouco dos meus pais, ainda não me sentia totalmente livre, pra ser sincero... Me sentia um fracassado. Deixe-me contar-lhes um pouco da minha história, tentarei ser o mais breve possível.
Tudo começou na minha infância. Quando eu tinha mais ou menos cinco anos, ─ fui filho único até esta idade, depois minha mãe ficou grávida novamente ─ nessa época tínhamos acabado de nos mudar, o meu pai havia sido transferido para uma cidade a poucos quilômetros de nossa cidade natal e achou melhor levar toda a família junto. Ele trabalhava numa empresa de mineração, seu horário de trabalho alternava; uma semana ele trabalhava durante o dia, na outra trabalhava durante a noite, no chamado “corujão”.
Com a nossa mudança, a sua presença em casa era cada vez mais escassa, geralmente quando não estava trabalhando, estava dormindo. Aos finais de semana, quando tinha um tempo livre, saía para beber e só voltava para casa, bêbado.
Eu ainda não compreendia as coisas direito nessa época, mas sentia algo que não sei explicar. Tão novo e eu já padecia de uma solidão sufocante. Isso tudo durou até quando consegui um amigo, ele era especial, pois eu o criei. O nome do meu amigo era Esmer, ele me fazia companhia, brincava comigo, mas era muito levado e às vezes me influenciava a fazer coisas erradas. Porém quando o meu pai me colocava de castigo ele me fazia companhia.
Uma vez estávamos brincando de bombeiros, ateamos fogo a umas caixas velhas, minha mãe chegou na hora, tentei explicar que não tinha feito aquilo sozinho, mas ela não me ouviu.
O Esmer me acompanhou até os oito anos. Quando o meu irmãozinho fez três anos, o meu amigo desapareceu misteriosamente. Acho que ele não gostou de dividir a atenção com o meu irmão e decidiu ir embora; desse tempo para cá nunca mais o vi. Estava a maior parte do tempo brincando com o meu irmão e também fiz amigos na escola.
Recentemente, pouco depois dos meus problemas começarem, tive a vaga impressão de que o meu amigo imaginário havia voltado. Eu estava indo para casa, quando ao passar por um quiosque mal iluminado da pracinha uma estranha figura cumprimentou-me como se fosse um velho conhecido. Um vento frio gelou-me a espinha, uma sensação estranha tomou conta de todo o meu ser; respondi ao cumprimento e segui viagem, mas era como se algo estivesse me seguindo. Chegando em casa sentei por alguns minutos antes de ir tomar banho, coloquei uma musica, enchi um copo de Whisky e me recostei à meia parede que separava os cômodos. Após ouvir duas musicas e tomar todo o copo de Black Label, deixei o som ligado e segui para o banheiro; depois de uma chuveirada de 15 minutos eu estava me sentindo bem melhor. Saí do banheiro enxugando o cabelo, quando cheguei no quarto assustei-me com um homem estranho sentado em minha cama, rapidamente peguei um bastão e ameaçando-o perguntei quem era:
─ Quem é você? Vamos diga quem é antes que eu lhe parta a cara!
Ele sorriu pra mim, um sorriso maléfico e com uma expressão de escárnio na face, respondeu-me:
─ Ora... Ora; como as pessoas tendem a esquecer das coisas tão facilmente. Por acaso não se lembra de mim realmente? Sou eu Carlos, o fantasma dos natais passados!
Uma sensação de desespero tomou conta de mim, como ele poderia saber o meu nome? Por qual motivo ele estava ali em meu quarto? E o mais importante, por qual razão ele estava fazendo aquela velha piada?
A paciência faltou-me, mais uma vez ordenei que ele se explicasse:
─ Vamos, pare com esta piada sem graça e me diga quem é você e o que quer aqui, caso contrário a policia vai ter que vir fazer o levantamento do cadáver de um invasor!
Ele mais uma vez sorriu, era como se tudo o que eu dissesse soasse como uma grande piada em seus ouvidos. Mais uma vez ele veio com uma de suas charadas:
─ Quem sou eu? Eu sou o eco dos que gritam em desespero, o reflexo do semblante sem face, sou a esperança que brota e que ao mesmo tempo desvanece, eu sou tudo quando o nada teima em persistir, e enquanto tudo desmorona, eu sou o único que continua a existir! Sou o seu melhor amigo, sei mais de você do que você conhece a si mesmo, então Carlos se lembrou de mim?
O intruso não estava me deixando outra escolha senão partir para a violência, além de invadir minha casa ainda estava usando joguinhos para caçoar de mim, já avançando para cima dele eu falei aos berros:
─ Você teve a sua ultima chance! Já que você não quer se identificar por bem vai me dizer quem é da maneira mais dolorosa ─ falando isso, avancei para cima dele furioso─ Dei uma cacetada com toda a força em sua cabeça; fechei os olhos para não presenciar a cena, quando abri os olhos me assustei, não havia mais ninguém no quarto.
Eu não podia acreditar no que os meus olhos estavam vendo, vasculhei os quatro pequenos cômodos do apartamento atrás do indivíduo, nada encontrei. Eu não tinha ouvido barulho de porta se abrindo, nem tão pouco era possível que ele tivesse fugido pela janela; encontrávamos no terceiro andar do prédio, se ele tivesse saltado estaria lá embaixo espalhado no concreto como uma omelete. Me recompus deste susto e fui ao banheiro jogar uma água no rosto, eu não queria acreditar em tudo o que tinha acontecido ─ isso se realmente teria acontecido algo.
Oh merda! Já não bastava tudo que eu vinha passando ultimamente, agora estou começando a ter alucinação. O pior de tudo é que eu estava vendo um homem, se ao menos fosse uma loira gostos ─ tipo Luana Piovani no filme mulher invisível─, mas não, eu estava agora vendo um maldito “barbado”.
Ainda não havia me recuperado totalmente do ocorrido, quando me assustei com o toque do celular; eu esqueci-me totalmente que havia combinado de sair com alguns ex-colegas de trabalho. Atendi o celular atônito:
─ Alô!
Era o Cristiano, um colega que trabalhava no setor financeiro do meu antigo emprego. Ele era um cara legal, mas inconveniente quando o assunto se tratava de respeitar a privacidade dos outros; estava lá embaixo me esperando no carro. Perguntou se eu ainda iria demorar, eu disse que não. Vesti uma calça e uma camisa rapidamente, calcei o sapato e me apressei para não deixá-lo esperando; enquanto eu me debatia às pressas me arrumando o Cristiano estava aos berros lá fora me apressando. Ele já estava aparentemente bêbado, pensei em desistir, mas já o tinha feito ir até lá, não seria justo. O sujeito estranho com quem eu tive aquele embate não saía da minha cabeça... Terá sido aquilo apenas fruto da minha imaginação, ou realmente aconteceu? A dúvida esmagava a minha mente, sentia como se estivesse com a cabeça presa em um “torno”.
Cristiano se incomodou com o meu silêncio e iniciou um diálogo mais sem nexo do que o que eu tive antes. Estávamos falando sobre uma ex-colega do trabalho... Segundo o próprio ela era louca por mim. Este assunto não durou muito, pois logo chegamos à festa. O resto da história vocês já sabem, bebemos muito, quem estava disposto dançou. Eu como estava desanimado não liguei pra nada daquilo, não via a hora de voltar pra casa e descansar, mesmo que ao chegar lá eu encontrasse aquele louco novamente.
Se eu não tivesse bebido tanto aquela talvez fosse a noite mais longa de toda a minha existência, mas não foi; às 4:00 da manhã entramos no carro e fomos embora. Chegando à porta de casa despedi-me e entrei.
Acordei à tarde com uma ressaca imensurável, ergui a cabeça lentamente, estava tonto depois da bebedeira. Dizem que susto cura soluço, só que no meu caso ele curou a ressaca. O sujeito da noite passada estava sentado na minha poltrona assistindo TV; olhou para mim com o mesmo olhar, e cheio de si começou a falar com a mesma expressão irônica em tom de desafio:
─ Pensou que estava livre de mim Carlos? Sei o que você está pensando, mas desde já lhe garanto que eu não sou uma mera ilusão. Eu sou e fui a melhor coisa que já aconteceu em sua vida até hoje, como você pode ter me esquecido? Como se atreveu a me tratar como se fosse um brinquedo velho que após ter ganhado um novo você simplesmente joga no fundo de um baú?
Eu estava cheio de toda aquela história de esquecimento, eu nunca o tinha visto em minha vida, não fazia idéia do que ele estava falando, decidi dar um basta àquela conversa:
─ Amigo não sei do que você está falando, eu nunca o vi antes. Você fala sobre esta história de esquecimento; não sei quanto a você, mas eu não sou Gay, você deve estar me confundindo com outra pessoa!
Ele insistiu:
─ Bem... Bem senhor Carlos, acho que vou ter que refrescar a sua mente. Aqui vai uma dica! Lembra-se da vez que quase incendiamos o quintal de sua casa quando você era criança? Você teve a idéia de brincar com fogo e eu o ajudei, mas quando a sua mãe chegou você jogou a culpa toda para mim... Outra dica, o meu nome começa com a letra E, éramos amigos até o seu irmão fazer três anos e você dedicar toda a sua atenção a ele esquecendo-me.
Vagas lembranças começaram a surgir na minha mente, mas isso só me fazia mais confuso; na minha infância eu pus fogo no quintal da minha casa, mas nessa época eu tinha apenas um amigo imaginário. Eu não acreditava no que estava ouvindo, ninguém sabia deste amigo, exceto meus pais devido às constantes culpas que eu atribuía a ele. Isso só poderia ser alguma brincadeira de mau gosto, alguém deve ter conversado com meus pais e descoberto a respeito desta história, e agora estava querendo me pregar uma peça. Como ele podia mentir tão descaradamente? Meu amigo imaginário era um garotinho de sete anos, não um homem de quase trinta anos; decidi conversar com o suposto homem imaginário:
─ Esta história que você me contou é bem familiar, mas sinto em informá-lo que você não se parece nenhum pouco com quem está tentando fingir ser; sendo assim é melhor que você volte pra onde quer que seja e não me venha mais com essa conversa!
Ele novamente falando:
─ Oh! Vejo que você está começando a recuperar a memória. Acho que até já sabe o meu nome, mesmo assim ainda reluta em me chamar por ele. Você sabe que sou eu e sabe por que eu vim.
─ Novamente com esse papo estranho! Eu já lhe disse, não lhe conheço! Mesmo que já o tenha conhecido não me lembro de você! E tem mais, não te chamei coisa nenhuma!
─ Ah, você chamou sim! É sempre assim, você sempre foi um fraco, um covarde; eu pensei que era apenas quando você tinha cinco anos, mas agora vejo o grande merda que você sempre foi!
Eu podia suportar muitas coisas, ele invadir minha casa enquanto eu estava no banho, invadir enquanto eu dormia, mas me ofender eu não admitia! Levantei da cama cambaleando e dei-lhe um soco em cheio no meio da cara, infelizmente não acertei; aparentemente o murro atravessou-lhe, insisti e mais uma vez dei outro soco ─ dessa vez eu não erraria, o primeiro foi por que eu ainda estava tonto─ Após mais três tentativas caí no chão estafado, recuperei o fôlego aos poucos e decidi ter um diálogo mais direto com ele:
─ Tá bom você me venceu pelo cansaço! Diga o que você quer de mim. Mas primeiro me explique esta história de você ser meu amigo imaginário.
─ Bem... A questão não é o que eu quero de você, sim o que você quer. Eu vim apenas porque você me chamou; ou você acha que eu preferia ser teu amigo imaginário do que ser de uma morena linda? A questão é que você me criou e sendo assim sou obrigado a ser seu amigo, ou seja, não tenho outra opção!
─Então você tá me dizendo que você realmente é o amigo imaginário da minha infância? Cara! Que história louca! Mas pelo que me lembro você era uma criança, não um... Um... Você sabe isso aí!
─ Tá bom... Admito! Estou fora de forma, mas você esperava quem? Um mister universo? Eu me alimento basicamente do mesmo que você! Ah, e por falar nisso! Seria legal você diminuir a batata frita cara; tô te falando, esse negócio é uma bomba; eu conheço outro amigo imaginário que morreu de tanto comer essas porcarias!
─ Você quer me dizer que este tempo todo você viveu comigo e eu não te via?
─ Não... As coisas não funcionam assim no ramo dos amigos imaginários. A partir do momento que você me cria nós temos um vínculo indissolúvel! Mas você só pode me ver enquanto quiser. Mesmo assim eu ainda coexisto junto a você, só que em outro mundo. E levamos praticamente a mesma vida que o outro leva.
─ Então nesse tal universo imaginário você tem a mesma vida miserável que a minha?
─ Não... Eu só herdei de você o péssimo hábito alimentar! Lá eu sou um empresário de sucesso.
─ Poxa! Obrigado por me contar isso de maneira tão sensível!
─ Não tem de quê! Aí será que eu posso comer aquele pedaço de pizza que está no congelador?
─ Só depois que você me esclarecer esta merda toda! Você disse que eu te chamei, mas eu não me lembro disso!
─Tá bom, vou te explicar desde o começo. Você é meio sequelado não? Bem aqui vai! Você lembra de quando você me criou?
─ Sim!
─ Nessa época você era uma criança ainda, mas sentia-se só e infeliz e precisava de um amigo. Foi aí que eu surgi para te fazer companhia. Agora você está do mesmo jeito, então vim para ajudá-lo.Tudo recomeçou há pouco tempo. Não lembro exatamente como nem quando ao certo. Uma das várias explicações para tal fato era a rotina intensa pela qual eu vinha passando. Assim falou o psicólogo com quem vinha me consultando ultimamente.
Como conseqüência disto, pedi demissão do emprego; minha namorada me pediu um tempo ─ Ela disse que seria melhor assim; às vezes precisamos apenas de um tempo para que as coisas se acertem ─, mas pra mim não funcionava desse jeito. Duas semanas já haviam se passado, porém eu não vinha notando nenhuma mudança ─ pelo menos para melhor. Meu péssimo desempenho na faculdade contribuiu para que as coisas piorassem um pouco. Com 25 anos, morando sozinho desde os 17, sobrevivendo com pouco mais de um salário mínimo e a ajuda de alguns familiares; era essa a minha realidade. Não que eu achasse ruim viver só; até que era legal a “independência”. Falo dessa maneira, porque, embora eu dependesse pouco dos meus pais, ainda não me sentia totalmente livre, pra ser sincero... Me sentia um fracassado. Deixe-me contar-lhes um pouco da minha história, tentarei ser o mais breve possível.
Tudo começou na minha infância. Quando eu tinha mais ou menos cinco anos, ─ fui filho único até esta idade, depois minha mãe ficou grávida novamente ─ nessa época tínhamos acabado de nos mudar, o meu pai havia sido transferido para uma cidade a poucos quilômetros de nossa cidade natal e achou melhor levar toda a família junto. Ele trabalhava numa empresa de mineração, seu horário de trabalho alternava; uma semana ele trabalhava durante o dia, na outra trabalhava durante a noite, no chamado “corujão”.
Com a nossa mudança, a sua presença em casa era cada vez mais escassa, geralmente quando não estava trabalhando, estava dormindo. Aos finais de semana, quando tinha um tempo livre, saía para beber e só voltava para casa, bêbado.
Eu ainda não compreendia as coisas direito nessa época, mas sentia algo que não sei explicar. Tão novo e eu já padecia de uma solidão sufocante. Isso tudo durou até quando consegui um amigo, ele era especial, pois eu o criei. O nome do meu amigo era Esmer, ele me fazia companhia, brincava comigo, mas era muito levado e às vezes me influenciava a fazer coisas erradas. Porém quando o meu pai me colocava de castigo ele me fazia companhia.
Uma vez estávamos brincando de bombeiros, ateamos fogo a umas caixas velhas, minha mãe chegou na hora, tentei explicar que não tinha feito aquilo sozinho, mas ela não me ouviu.
O Esmer me acompanhou até os oito anos. Quando o meu irmãozinho fez três anos, o meu amigo desapareceu misteriosamente. Acho que ele não gostou de dividir a atenção com o meu irmão e decidiu ir embora; desse tempo para cá nunca mais o vi. Estava a maior parte do tempo brincando com o meu irmão e também fiz amigos na escola.
Recentemente, pouco depois dos meus problemas começarem, tive a vaga impressão de que o meu amigo imaginário havia voltado. Eu estava indo para casa, quando ao passar por um quiosque mal iluminado da pracinha uma estranha figura cumprimentou-me como se fosse um velho conhecido. Um vento frio gelou-me a espinha, uma sensação estranha tomou conta de todo o meu ser; respondi ao cumprimento e segui viagem, mas era como se algo estivesse me seguindo. Chegando em casa sentei por alguns minutos antes de ir tomar banho, coloquei uma musica, enchi um copo de Whisky e me recostei à meia parede que separava os cômodos. Após ouvir duas musicas e tomar todo o copo de Black Label, deixei o som ligado e segui para o banheiro; depois de uma chuveirada de 15 minutos eu estava me sentindo bem melhor. Saí do banheiro enxugando o cabelo, quando cheguei no quarto assustei-me com um homem estranho sentado em minha cama, rapidamente peguei um bastão e ameaçando-o perguntei quem era:
─ Quem é você? Vamos diga quem é antes que eu lhe parta a cara!
Ele sorriu pra mim, um sorriso maléfico e com uma expressão de escárnio na face, respondeu-me:
─ Ora... Ora; como as pessoas tendem a esquecer das coisas tão facilmente. Por acaso não se lembra de mim realmente? Sou eu Carlos, o fantasma dos natais passados!
Uma sensação de desespero tomou conta de mim, como ele poderia saber o meu nome? Por qual motivo ele estava ali em meu quarto? E o mais importante, por qual razão ele estava fazendo aquela velha piada?
A paciência faltou-me, mais uma vez ordenei que ele se explicasse:
─ Vamos, pare com esta piada sem graça e me diga quem é você e o que quer aqui, caso contrário a policia vai ter que vir fazer o levantamento do cadáver de um invasor!
Ele mais uma vez sorriu, era como se tudo o que eu dissesse soasse como uma grande piada em seus ouvidos. Mais uma vez ele veio com uma de suas charadas:
─ Quem sou eu? Eu sou o eco dos que gritam em desespero, o reflexo do semblante sem face, sou a esperança que brota e que ao mesmo tempo desvanece, eu sou tudo quando o nada teima em persistir, e enquanto tudo desmorona, eu sou o único que continua a existir! Sou o seu melhor amigo, sei mais de você do que você conhece a si mesmo, então Carlos se lembrou de mim?
O intruso não estava me deixando outra escolha senão partir para a violência, além de invadir minha casa ainda estava usando joguinhos para caçoar de mim, já avançando para cima dele eu falei aos berros:
─ Você teve a sua ultima chance! Já que você não quer se identificar por bem vai me dizer quem é da maneira mais dolorosa ─ falando isso, avancei para cima dele furioso─ Dei uma cacetada com toda a força em sua cabeça; fechei os olhos para não presenciar a cena, quando abri os olhos me assustei, não havia mais ninguém no quarto.
Eu não podia acreditar no que os meus olhos estavam vendo, vasculhei os quatro pequenos cômodos do apartamento atrás do indivíduo, nada encontrei. Eu não tinha ouvido barulho de porta se abrindo, nem tão pouco era possível que ele tivesse fugido pela janela; encontrávamos no terceiro andar do prédio, se ele tivesse saltado estaria lá embaixo espalhado no concreto como uma omelete. Me recompus deste susto e fui ao banheiro jogar uma água no rosto, eu não queria acreditar em tudo o que tinha acontecido ─ isso se realmente teria acontecido algo.
Oh merda! Já não bastava tudo que eu vinha passando ultimamente, agora estou começando a ter alucinação. O pior de tudo é que eu estava vendo um homem, se ao menos fosse uma loira gostos ─ tipo Luana Piovani no filme mulher invisível─, mas não, eu estava agora vendo um maldito “barbado”.
Ainda não havia me recuperado totalmente do ocorrido, quando me assustei com o toque do celular; eu esqueci-me totalmente que havia combinado de sair com alguns ex-colegas de trabalho. Atendi o celular atônito:
─ Alô!
Era o Cristiano, um colega que trabalhava no setor financeiro do meu antigo emprego. Ele era um cara legal, mas inconveniente quando o assunto se tratava de respeitar a privacidade dos outros; estava lá embaixo me esperando no carro. Perguntou se eu ainda iria demorar, eu disse que não. Vesti uma calça e uma camisa rapidamente, calcei o sapato e me apressei para não deixá-lo esperando; enquanto eu me debatia às pressas me arrumando o Cristiano estava aos berros lá fora me apressando. Ele já estava aparentemente bêbado, pensei em desistir, mas já o tinha feito ir até lá, não seria justo. O sujeito estranho com quem eu tive aquele embate não saía da minha cabeça... Terá sido aquilo apenas fruto da minha imaginação, ou realmente aconteceu? A dúvida esmagava a minha mente, sentia como se estivesse com a cabeça presa em um “torno”.
Cristiano se incomodou com o meu silêncio e iniciou um diálogo mais sem nexo do que o que eu tive antes. Estávamos falando sobre uma ex-colega do trabalho... Segundo o próprio ela era louca por mim. Este assunto não durou muito, pois logo chegamos à festa. O resto da história vocês já sabem, bebemos muito, quem estava disposto dançou. Eu como estava desanimado não liguei pra nada daquilo, não via a hora de voltar pra casa e descansar, mesmo que ao chegar lá eu encontrasse aquele louco novamente.
Se eu não tivesse bebido tanto aquela talvez fosse a noite mais longa de toda a minha existência, mas não foi; às 4:00 da manhã entramos no carro e fomos embora. Chegando à porta de casa despedi-me e entrei.
Acordei à tarde com uma ressaca imensurável, ergui a cabeça lentamente, estava tonto depois da bebedeira. Dizem que susto cura soluço, só que no meu caso ele curou a ressaca. O sujeito da noite passada estava sentado na minha poltrona assistindo TV; olhou para mim com o mesmo olhar, e cheio de si começou a falar com a mesma expressão irônica em tom de desafio:
─ Pensou que estava livre de mim Carlos? Sei o que você está pensando, mas desde já lhe garanto que eu não sou uma mera ilusão. Eu sou e fui a melhor coisa que já aconteceu em sua vida até hoje, como você pode ter me esquecido? Como se atreveu a me tratar como se fosse um brinquedo velho que após ter ganhado um novo você simplesmente joga no fundo de um baú?
Eu estava cheio de toda aquela história de esquecimento, eu nunca o tinha visto em minha vida, não fazia idéia do que ele estava falando, decidi dar um basta àquela conversa:
─ Amigo não sei do que você está falando, eu nunca o vi antes. Você fala sobre esta história de esquecimento; não sei quanto a você, mas eu não sou Gay, você deve estar me confundindo com outra pessoa!
Ele insistiu:
─ Bem... Bem senhor Carlos, acho que vou ter que refrescar a sua mente. Aqui vai uma dica! Lembra-se da vez que quase incendiamos o quintal de sua casa quando você era criança? Você teve a idéia de brincar com fogo e eu o ajudei, mas quando a sua mãe chegou você jogou a culpa toda para mim... Outra dica, o meu nome começa com a letra E, éramos amigos até o seu irmão fazer três anos e você dedicar toda a sua atenção a ele esquecendo-me.
Vagas lembranças começaram a surgir na minha mente, mas isso só me fazia mais confuso; na minha infância eu pus fogo no quintal da minha casa, mas nessa época eu tinha apenas um amigo imaginário. Eu não acreditava no que estava ouvindo, ninguém sabia deste amigo, exceto meus pais devido às constantes culpas que eu atribuía a ele. Isso só poderia ser alguma brincadeira de mau gosto, alguém deve ter conversado com meus pais e descoberto a respeito desta história, e agora estava querendo me pregar uma peça. Como ele podia mentir tão descaradamente? Meu amigo imaginário era um garotinho de sete anos, não um homem de quase trinta anos; decidi conversar com o suposto homem imaginário:
─ Esta história que você me contou é bem familiar, mas sinto em informá-lo que você não se parece nenhum pouco com quem está tentando fingir ser; sendo assim é melhor que você volte pra onde quer que seja e não me venha mais com essa conversa!
Ele novamente falando:
─ Oh! Vejo que você está começando a recuperar a memória. Acho que até já sabe o meu nome, mesmo assim ainda reluta em me chamar por ele. Você sabe que sou eu e sabe por que eu vim.
─ Novamente com esse papo estranho! Eu já lhe disse, não lhe conheço! Mesmo que já o tenha conhecido não me lembro de você! E tem mais, não te chamei coisa nenhuma!
─ Ah, você chamou sim! É sempre assim, você sempre foi um fraco, um covarde; eu pensei que era apenas quando você tinha cinco anos, mas agora vejo o grande merda que você sempre foi!
Eu podia suportar muitas coisas, ele invadir minha casa enquanto eu estava no banho, invadir enquanto eu dormia, mas me ofender eu não admitia! Levantei da cama cambaleando e dei-lhe um soco em cheio no meio da cara, infelizmente não acertei; aparentemente o murro atravessou-lhe, insisti e mais uma vez dei outro soco ─ dessa vez eu não erraria, o primeiro foi por que eu ainda estava tonto─ Após mais três tentativas caí no chão estafado, recuperei o fôlego aos poucos e decidi ter um diálogo mais direto com ele:
─ Tá bom você me venceu pelo cansaço! Diga o que você quer de mim. Mas primeiro me explique esta história de você ser meu amigo imaginário.
─ Bem... A questão não é o que eu quero de você, sim o que você quer. Eu vim apenas porque você me chamou; ou você acha que eu preferia ser teu amigo imaginário do que ser de uma morena linda? A questão é que você me criou e sendo assim sou obrigado a ser seu amigo, ou seja, não tenho outra opção!
─Então você tá me dizendo que você realmente é o amigo imaginário da minha infância? Cara! Que história louca! Mas pelo que me lembro você era uma criança, não um... Um... Você sabe isso aí!
─ Tá bom... Admito! Estou fora de forma, mas você esperava quem? Um mister universo? Eu me alimento basicamente do mesmo que você! Ah, e por falar nisso! Seria legal você diminuir a batata frita cara; tô te falando, esse negócio é uma bomba; eu conheço outro amigo imaginário que morreu de tanto comer essas porcarias!
─ Você quer me dizer que este tempo todo você viveu comigo e eu não te via?
─ Não... As coisas não funcionam assim no ramo dos amigos imaginários. A partir do momento que você me cria nós temos um vínculo indissolúvel! Mas você só pode me ver enquanto quiser. Mesmo assim eu ainda coexisto junto a você, só que em outro mundo. E levamos praticamente a mesma vida que o outro leva.
─ Então nesse tal universo imaginário você tem a mesma vida miserável que a minha?
─ Não... Eu só herdei de você o péssimo hábito alimentar! Lá eu sou um empresário de sucesso.
─ Poxa! Obrigado por me contar isso de maneira tão sensível!
─ Não tem de quê! Aí será que eu posso comer aquele pedaço de pizza que está no congelador?
─ Só depois que você me esclarecer esta merda toda! Você disse que eu te chamei, mas eu não me lembro disso!
─Tá bom, vou te explicar desde o começo. Você é meio sequelado não? Bem aqui vai! Você lembra de quando você me criou?
─ Sim!
─ Nessa época você era uma criança ainda, mas sentia-se só e infeliz e precisava de um amigo. Foi aí que eu surgi para te fazer companhia. Agora você está do mesmo jeito, então vim para ajudá-lo.
Continua...