O FANTASMA

O FANTASMA

Do outro lado da rua ele morava. Era bem velho. Usava sempre a mesma bermuda marrom, a camisa de linha esverdeada, nos pés trazia chinelos de borracha, com tiras pretas, nas mãos sempre um cigarro. Gostava mesmo de ficar na frente da casa de sua filha na parte da tarde antes do sol cair.

A Dona Clotilde mudara-se para a nova casa há poucos tempos e não tinha feito amizade com os vizinhos. À tardinha ela colocava uma cadeira na varanda e ficava um pouco observando o movimento do que se passava lá fora. E o velho era assíduo todas as tardes. Às vezes, ela o via com alguma ferramenta na mão, às vezes ele dava-lhe adeusinho ao que ela respondia acenando com a mão e sorrindo meio sem graça. Jamais tinham trocado uma frase,

Certa manhã ao voltar da feira com o carrinho cheio de frutas para os seus dois netinhos, ela encontrou com a Elisa a sua vizinha da frente. Curiosa como era resolveu perguntar: - E o senhor que fica todas as tardes no seu quintal. Ele não está mais morando com vocês? A Elisa estranhou a pergunta. Dona Clotilde foi descrevendo detalhadamente as roupas, os traços do rosto, os gestos.

A Elisa estava meio assustada, não acreditando no que a Dona Clotilde lhe contava. Ao chegar a casa, pediu para Dona Clotilde, espera-la. Ela voltou com umas fotos na mão. E mostrou à vizinha, perguntando-lhe: - È este? Dona Clotilde, sorriu dizendo: - É ele. O que foi que aconteceu com ele para você estar assim tão assustada.

Enquanto as duas conversavam parece que um ar frio passou entre elas. Elisa então contou: - Este era meu pai. O nome dele era Roberto. Ele morreu faz três anos e meio. As ferramentas que você falou ter visto, são as ferramentas dele que até hoje estão lá em casa para ser doadas. Muitas vezes fico imaginando em dar tudo para o primeiro que aparecer, depois fico com pena. Há três meses, eu e meu marido fizemos uma arrumação nas ferramentas e separamos um lote para doação. Apareceu um primo meu que estava precisando de algumas e acabou levando.

Dona Clotilde ficou colada com os pés no chão. Até tinha acenado para o fantasma. Credo benzeu-se, para livrar-se da lembrança daquele velho em frente a sua casa. Mal sabia ela, que aquele tinha sido o primeiro fantasma de sua vida. Tempos depois, do canal de clarividência ter sido aberto, ela via tudo, até a cachorrinha que morrera na veterinária duas horas antes dela entrar com seu gato para ser vacinado.

Aradia Rhianon
Enviado por Aradia Rhianon em 27/12/2011
Código do texto: T3408246
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