CONTO DO VIGÁRIO
Ele saiu de casa ainda cedo. O amanhecer bocejava preguiçoso entre tímidos raios de sol alaranjados e espessos rolos de neblina que pairavam sonolentos nas bordas do horizonte. Este seria o primeiro de muitos dia que jamais se apagariam de sua memória. Passos rápidos o levavam em direção ao futuro.
O homem vestido de cinza veio em sua direção surgiu como por encanto, não se sabe de onde. Um forte esbarrão e pronto, estava consumado o roubo. Tão subitamente quanto surgiu desapareceu, levando carteira, celular, a maleta e dentro a passagem para Salvador. Não adiantou Boletim de Ocorrência na Delegacia, telefonemas para a companhia aérea, pedidos de desculpas para a noiva que ficara por horas aguardando em frente ao altar da magnífica Igreja dos Afogados na capital baiana. O casamento não aconteceu.
Seis anos mais tarde...
Cuidado esmerado com o terno, cabelos escovadíssimos, perfume de primeira, barba escanhoada no capricho, sapatos de puro cromo alemão muito lustrados, enfim, estava pronto, rumou para a igreja onde com certeza iria encontrar uma nova dimensão para a sua vida. Do velho amor baiano já não restava a mais tênue lembrança.
O automóvel impecavelmente limpo estacionou diante da Ermida Dom Bosco na capital federal. As luzes davam um brilho fantástico à fachada de concreto armado e lâminas de vidro em vários tons de azul que compunham os arcos da suntuosa ermida.
Diante do altar transpirando a cântaros, a boca seca pela demora, recebeu a notícia. A noiva não viria, embarcara para Paris naquela manhã com um outro noivo.
Quatro anos depois...
Complexo da Pampulha, Belo Horizonte, a Capela de São Francisco de Assis está apinhada de elegantes convidados, todos muito bem ajeitados em seus trajes de gala. Em poucos minutos será iniciada a cerimônia de casamento. O noivo mais uma vez ansioso transpira em abundância. As portas da igreja se abrem e ao som vibrante do órgão e do coral surge deslumbrante a noiva, belíssima. Como por encanto os corações param de pulsar e a respiração fica suspensa no ar. O instante é mágico. Mais uma vez o destino intervem, todas as luzes se apagam e com um estrondo ensurdecedor um raio rasga o céu e explode no vitral bem acima da porta onde a noiva principiava sua caminhada. Dizem que até hoje a moça está internada em estado de choque.
Mais cinco anos se passou...
Tentar mais uma vez. Agora mais maduro e escaldado optara por uma capela discreta no interior de São Paulo, cidade de São Francisco Xavier no Vale do Paraíba, o número de convidados também foi reduzido. Alguns foram esquecidos, outros esqueceram de comparecer.
Em pé junto ao sacristão eu aguardava a noiva. Barba por fazer, terno mal ajambrado, um certo enjôo no estômago e irremediavelmente transpirava. A noiva entrou e, por incrível que pareça, caminhou até mim sem qualquer incidente. Trêmulo de emoção e ansiedade ajoelhou-se ao seu lado, iniciava-se a tão esperada cerimônia. O padre sabedor da triste sina que pairava sobre o noivo procurou ser o mais breve possível. Notava-se claramente a sua preocupação. Pulou longos trechos do sermão que havia preparado e foi direto à pergunta crucial:
- Aceita esta moça como sua esposa na alegria e na tristeza até que a morte os separe?
Alguma coisa estava errada, nada havia acontecido... Não ia dar certo.
- Não, Seu Padre, eu não quero me casar.
Outros dez anos se passaram...
Passo Fundo, interior gaúcho, diante da Capela de Santo Antonio...
- Ba tchê! Dizem que o vigário desta paróquia celebra lindos casamentos.
- Pois é, me parece que tem muita experiência... Dizem que tentou casar inúmeras vezes e nunca deu certo. Parece-me que as noivas foram todas abduzidas por discos voadores.
- Ora! Que conversa mais sem pé nem cabeça. Vigário só tem experiência de casamento dos outros. Eles é que são felizes nunca se casam. Desse mal estão livres. E vamos entrar que a noiva já chegou...
Ele saiu de casa ainda cedo. O amanhecer bocejava preguiçoso entre tímidos raios de sol alaranjados e espessos rolos de neblina que pairavam sonolentos nas bordas do horizonte. Este seria o primeiro de muitos dia que jamais se apagariam de sua memória. Passos rápidos o levavam em direção ao futuro.
O homem vestido de cinza veio em sua direção surgiu como por encanto, não se sabe de onde. Um forte esbarrão e pronto, estava consumado o roubo. Tão subitamente quanto surgiu desapareceu, levando carteira, celular, a maleta e dentro a passagem para Salvador. Não adiantou Boletim de Ocorrência na Delegacia, telefonemas para a companhia aérea, pedidos de desculpas para a noiva que ficara por horas aguardando em frente ao altar da magnífica Igreja dos Afogados na capital baiana. O casamento não aconteceu.
Seis anos mais tarde...
Cuidado esmerado com o terno, cabelos escovadíssimos, perfume de primeira, barba escanhoada no capricho, sapatos de puro cromo alemão muito lustrados, enfim, estava pronto, rumou para a igreja onde com certeza iria encontrar uma nova dimensão para a sua vida. Do velho amor baiano já não restava a mais tênue lembrança.
O automóvel impecavelmente limpo estacionou diante da Ermida Dom Bosco na capital federal. As luzes davam um brilho fantástico à fachada de concreto armado e lâminas de vidro em vários tons de azul que compunham os arcos da suntuosa ermida.
Diante do altar transpirando a cântaros, a boca seca pela demora, recebeu a notícia. A noiva não viria, embarcara para Paris naquela manhã com um outro noivo.
Quatro anos depois...
Complexo da Pampulha, Belo Horizonte, a Capela de São Francisco de Assis está apinhada de elegantes convidados, todos muito bem ajeitados em seus trajes de gala. Em poucos minutos será iniciada a cerimônia de casamento. O noivo mais uma vez ansioso transpira em abundância. As portas da igreja se abrem e ao som vibrante do órgão e do coral surge deslumbrante a noiva, belíssima. Como por encanto os corações param de pulsar e a respiração fica suspensa no ar. O instante é mágico. Mais uma vez o destino intervem, todas as luzes se apagam e com um estrondo ensurdecedor um raio rasga o céu e explode no vitral bem acima da porta onde a noiva principiava sua caminhada. Dizem que até hoje a moça está internada em estado de choque.
Mais cinco anos se passou...
Tentar mais uma vez. Agora mais maduro e escaldado optara por uma capela discreta no interior de São Paulo, cidade de São Francisco Xavier no Vale do Paraíba, o número de convidados também foi reduzido. Alguns foram esquecidos, outros esqueceram de comparecer.
Em pé junto ao sacristão eu aguardava a noiva. Barba por fazer, terno mal ajambrado, um certo enjôo no estômago e irremediavelmente transpirava. A noiva entrou e, por incrível que pareça, caminhou até mim sem qualquer incidente. Trêmulo de emoção e ansiedade ajoelhou-se ao seu lado, iniciava-se a tão esperada cerimônia. O padre sabedor da triste sina que pairava sobre o noivo procurou ser o mais breve possível. Notava-se claramente a sua preocupação. Pulou longos trechos do sermão que havia preparado e foi direto à pergunta crucial:
- Aceita esta moça como sua esposa na alegria e na tristeza até que a morte os separe?
Alguma coisa estava errada, nada havia acontecido... Não ia dar certo.
- Não, Seu Padre, eu não quero me casar.
Outros dez anos se passaram...
Passo Fundo, interior gaúcho, diante da Capela de Santo Antonio...
- Ba tchê! Dizem que o vigário desta paróquia celebra lindos casamentos.
- Pois é, me parece que tem muita experiência... Dizem que tentou casar inúmeras vezes e nunca deu certo. Parece-me que as noivas foram todas abduzidas por discos voadores.
- Ora! Que conversa mais sem pé nem cabeça. Vigário só tem experiência de casamento dos outros. Eles é que são felizes nunca se casam. Desse mal estão livres. E vamos entrar que a noiva já chegou...