O ENCONTRO

Elise apoiava o queixo sobre a mão que ia encostada na janela do trem, e olhando para fora, apreciava sem se cansar aquela paisagem...Os rios e as casas que em cima dele flutuavam, os vários botes e barcos que levavam casais para belíssimos passeios...Estava finalmente voltando para Veneza após seu longo passeio ao redor do mundo em busca de fotos para a matéria de sua vida. Planejara isto por toda sua carreira – que ainda haveria de durar muito – de jornalista, e para tal não media esforços, mas havia decidido consigo mesma que a ultima das fotos tinha que ser naquele lugar tão querido por ela, e acharia um casal exótico que ilustrasse bastante o que ela desejava ver, romance e paixão, amor, ardor... Chegava a sorrir consigo mesma quando pensava nas possibilidades, pois eram enormes.

O sinal de que o trem iria logo parar fora dado, Elise começava a arrumar sua bagagem para o desembarque, dirigiu-se para a porta do mesmo e, descendo as típicas escadas desse trem, suspirou firme e fundo o ar daquele local, ainda era tarde e portanto podia-se ver a imensidão do azul celeste sobre sua cabeça, era admirável como tudo em Veneza lembrava a perfeição. A mulher segurava seus cabelos negros para que não esvoaçassem, e estes davam um destaque extra para sua pele clara como a lua, seu vestido justo em seu corpo bem estruturado chamava a atenção dos rapazes desacompanhados. Dirigiu-se ao mesmo hotel que havia se hospedado outrora e como de costume, esperaria o anoitecer para sair a passeio, pois esta era ainda mais fantástica do que a manhã, mais fantástica e, porque não, mais surpreendente também. E assim que o véu da noite cobriu a cidade, Elise colocou-se a caminhar pelas ruas e apreciar a arquitetura local como um todo. A cada passo que dava sentia uma vontade imensa de suspirar por paixões que, em seu intimo eram sempre avassaladoras, tal qual só ela poderia descrever se o desejasse.

Levava consigo sua câmera por precaução, sua intuição forte dizia que ela presenciaria algo naquela noite que, sem duvidas, fecharia seu book com chave de ouro. E por estar absorta em seus próprios pensamentos, acabou por virar uma esquina ou outra que a levou para uma rua muito menos movimentada que o comum. Fosse pelas casas daquele local que tinham uma estrutura mais antiga, fosse porque os postes de luz falhavam vez ou outra, não se via uma viva alma transitando por lá fora ela mesma... Mesmo assim prosseguiu, ainda que a passos mais largos. Porem não pode deixar de perceber um som estranho que vinha de um beco que fazia travessa com esta, ainda mais escura e –talvez por isso – mais misteriosa, aguçando curiosidade. Muniu-se de sua câmera e começou a adentrar silenciosamente – tanto quanto permitiam seus saltos- o beco, próximo ao fim do mesmo foi possível ver um casal de namorados e, com isso, a explicação dos sons que ouvira. Porém, uma coisa chamou a atenção de Elise, a vontade com que ele a beijava, parecendo querer devora-la e o modo como a segurava, deixando-a imóvel em seus braços, a jornalista aproximou-se um pouco mais para perceber detalhes e notou que a mulher era mais velha que o homem, no caso um garoto, talvez tivesse seus 25 anos ou por volta disso. Continuavam sem parecer ter percebido a presença de Elise, o que era ótimo, moveu a câmera ate a frente dos olhos para retirar algumas fotos, aquele parecia ser o casal de que sua intuição avisara mais cedo, algo mais erótico e sensual do que romântico propriamente dito, daria um toque a mais na leitura, a jornalista já sorria com antecedência, porém não bateu a foto automaticamente como imaginara, a cena seguinte deixou-a tão perplexa quanto a mulher no braço do rapaz, pois ele sinuosamente lambeu-a no pescoço, arrancando pequenos arrepios até de Elise que só assistia, e a mordeu... Parecia uma mordida forte, pois nessa hora a mulher acompanhante havia gritado – ainda que o grito fosse mais comparado a prazer do que dor – e o abraçou. Alguns instantes depois ela começava a ter espasmos e parecia querer afasta-lo, mas ele continuava a mordida. Elise decidiu que talvez não fosse boa ideia tirar uma foto e sim sair dali o quanto antes, mas suas reações não permitiram que esta o fizesse em silencio, a jornalista nesse momento, e nervosa, acabara por bater uma foto contra sua vontade, e ainda que não focasse o casal exatamente, o flash da câmera havia denunciado sua presença. Nesse momento pode jurar que antes de se virar pra ir embora, viu o rapaz fita-la por alguns instantes e seus olhos pareciam ter brilhado tanto quanto o dos gatos brilha contra a luz.

Elise tratou de sair rápido dali, andava depressa e se perguntando por que não havia desligado o flash da câmera, condenava-se e com certeza iria se punir depois, quando estivesse bem e a salva... Chegou ao fim do beco e virou-o para sair na rua pouco iluminada: “Grande diferença” pensou consigo mesma sem parar de se locomover, mas, sentiu um toque em seu braço e freou sua caminhada, o rapaz já estava atrás dela e a segurava com firmeza, Elise não o ouvira correr, mas ele estava ali e fora muito rápido, por ironia ou não do destino, para deixar tudo mais aterrorizante, parecia que o rosto dele estava escondido pelas sombras locais, pois inicialmente ela não pode reparar em suas feições, fosse o pânico ou não, aquilo era estranho, fora isso –e pra piorar– parecia que ele tinha presas. Ele se aproximava e assim que ele apareceu na luz, Elise fez uma expressão assustada levando a mão que estava livre até a boca em espanto, não era expressão, era um vampiro! Seus olhos – bem abertos – o fitava apenas no rosto, pois sua pele era tão ou mais branca que a dela, e seus cabelos eram igualmente negros, porem arrepiados de uma forma mais rebelde, suas feições eram mais agressivas, mais selvagens talvez, e os olhos profundos como um poço... Começava a reparar nos detalhes que aquela face continha e passou longos minutos fazendo essas analises. Surpreendeu-se depois de voltar a raciocinar de acordo com a situação, pois não deveria admirar um ser das trevas que a pouco assassinara outra mulher, porem, de algum modo ele também não havia tomado quaisquer outra iniciativa, parecia olha-la indignado, confuso, espantado...

A beleza dela o tinha tocado? Lembrava-o de alguém? Fosse o que fosse, não fora atacada como era de se esperar, pelo contrario, sentiu a mão do rapaz desapertar o seu braço um pouco e sua expressão mostrar um pouco mais de calma, porem seus olhos continuavam vazios impedindo que ela pudesse entender o que ele sentia. Sentiu que deveria fechar os olhos por alguns instantes após encara-lo e o fez, Elise tinha certeza de não ter passado mais do que alguns segundos, mas havia passado tempo o suficiente para ele segura-la agora contra uma parede, onde seu rosto caído mostrava um leve sinal de desmaio, seria o susto e o medo? Suspirou sem saber o que fazer: se gritaria ou se tentava agredi-lo... Não conseguia raciocinar direito, o sentiu segurar seus braços e, contra a parede, posiciona-los acima de sua cabeça, Elise continuava desnorteada e absorta nos pensamentos, percebeu um estranho aproximar por parte dele e fechou os olhos de novo, não queria ver o que quer que ele fosse fazer, mas, surpreendentemente, da ultima possibilidade no mundo para se imaginar no momento, percebeu que seus lábios tocavam alguma coisa mais úmida, que eram os lábios dele, sentia a língua dele buscar a sua para beija-la como havia feito a minutos atrás, e Elise compreendia porque a mulher anterior não reagia, o beijo proporcionava algumas sensações inexplicáveis – ou explicáveis pela adrenalina do momento – e, sem abrir os olhos de pronto, percebeu que o beijo terminava, sentia um gosto estranho em sua língua, algo que não se distinguia entre doce e amargo exatamente, ignorou. Sentia agora o rapaz beijar-lhe pouco a pouco o queixo e descer... Era o fim, onde estaria seu amado para ajuda-la? Desejava-o naquele local naquele instante, queria ser salva, queria viver! Sentiu o toque gélido da língua dele molhar seu pescoço, mil coisas passavam em sua cabeça naquele momento, sentiu um frio subir-lhe a espinha, um frio que a arrepiava e proporcionava novas sensações... Tentava inutilmente mexer as mãos que ele segurava, porem, este era dono de uma força maior do que se esperava não resultado em nada, sentiu-o abrir a boca, pois a sua respiração tocava a pele de Elise de uma forma tão incomum que ela chegava a estremecer levemente, fechou sobre o pescoço dela os dentes pontiagudos mas não os pressionou, ao invés disso, sentiu-o subir novamente e procurar sua boca, beijou-a de leve e Elise sentiu sua consciência a abandonar uma vez mais. Adormeceu por um tempo indeterminado e quando voltou aos poucos a si, assustou-se em não se encontrar na rua e sim em seu quarto no hotel, deitada e coberta, junto da cama havia um bilhete dobrado e sua roupa ao lado do mesmo, percebeu estar nua e sentiu o rosto corar, não sabia explicar, mas sentia também que ele não havia feito nada senão despi-la para que esta ficasse mais confortável... Poucos minutos depois amanheceu e Elise voltou a dormir, o susto a havia deixado exausta, necessitava daquilo, pensaria no que fazer depois.

A jornalista dormira ate o entardecer, acordando somente porque o serviço de quarto perguntava se ela desejava alguma refeição, Elise recusou e, mesmo sonolenta resolveu levantar-se, pegou o bilhete e o abriu, nele, escrito em vermelho estava escrito:

“Descanse bem, Cordialmente... “ Não conseguiu distinguir o nome dele pois a tinta havia borrado, deixando-a intrigada. Mas agora com mais calma, Elise sabia o que fazer, vestiu-se com seu vestido preto mais lindo e aguardou o anoitecer, abriu a janela do hotel e esperou, sentia que ele viria vê-la novamente e agora que estava sã de suas faculdades mentais, desejava isso também por mais perigoso que fosse. A jornalista sentou-se na cama e esperou, esperou e esperou até perder a paciência, talvez ele NÃO viesse afinal, irritada levantou e andou pelo quarto, parando em frente a um espelho grande que ficava na frente da janela, olhava a si mesma naqueles trajes indignada por não tê-lo exibido, tirava já uma alça do mesmo quando virou-se e deu de cara com ele atrás de si, apenas a observando da janela, Elise assustada tornou a olhar no espelho para perceber que não existia reflexo do rapaz, confirmando seu palpite.

- Então você veio... Disse ela, ao que o Vampiro, com expressão de impressionismo, respondeu:

- Esperava-me, criança?

Ela quase perdeu a linha de raciocínio, a voz daquela criatura era tão calma e leve que parecia ser soprada ao vento e este trouxesse as palavras diretamente em sua mente, a voz dele era tão agradável de se ouvir que beirava o absurdo, tanto que não se importou em ser chamada de criança.

- Sim – respondeu corajosamente – Eu desejo fazer algumas perguntas a você, como por exemplo: porque não me fez apenas mais uma vitima como aquela que vi no beco?

O rapaz pareceu fechar o semblante quando a ouviu dizer “vitima como aquela do beco”, mas logo sem seguida sorriu com o canto da boca...um sorriso sínico, irônico ou sarcástico, o que mais convir. Respondeu:

- Entendo, o que se esperar de uma jornalista, não é? Pretende fazer perguntas...

Parou de falar por um momento, misterioso... Continuou:

- Se concordares em pagar um preço por cada resposta minha, terá todas que quiser...

O sorriso se mantinha, Elise agora era quem fechava a expressão, mas não discordou, deu um passo a frente como quem dizia ‘Aceito!” e, esquecendo-se da pergunta anterior, formulou uma nova:

- Qual é seu nome?

O desenrolar das perguntas e o preço que Elise pagou, com certeza, são uma história a parte e serão contadas em outra ocasião...

Condessa Drakon e CAIO
Enviado por Condessa Drakon em 09/12/2011
Reeditado em 01/06/2013
Código do texto: T3380078
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.