O Menino
Então, aconteceu o inesperável: o menino caiu diante das adversidades.
Caiu o menino dos sonhos lindos, do coração puro e de uma mente fértil.
Então, relato: Muitos caem, alguns se levantam e poucos se mantêm em pé na esfera da terra.
As adversidades serão sempre evidentes, mas não podemos nos abater por qualquer coisa.
“Pois o abatimento poderá levá-lo ao abismo e, de lá, jamais sairá.”
O menino se abateu e caiu. Ao seu redor, existiam os espectadores de braços cruzados, que diziam:
- Esse não se levanta mais.
- Pode colocar a tampa e jogar a terra; esse foi tarde.
Só que o menino tinha um sonho e esse sonho movia a esfera da vida. Então, o céu o olhava e o admirava.
O menino ficou no silêncio da imensidão diante de um céu nublado. Em seu ouvido, escutava o silêncio das nuvens junto aos gritos dos ventos.
O menino poupou-se a voz, só que seus olhos continuaram vivos. O menino não encontrava saídas e meios para se reerguer. Ele só encontrou a entrada para o buraco onde seria sua casa.
No dia triste, dormiu o menino com os braços no peito segurando uma rosa, enquanto jogaram a terra sobre seu corpo, numa casa de caixote, numa moradia sombria.
Enquanto escutava sons de soluços e pessoas dizendo umas para as outras em tom de despedida:
- Fique em paz. Deus sabe o que faz.
Então, as lágrimas rolavam do menino. Só que ele não tinha mobilidade para se fazer notar. Sua mente estava interrompida, mas seus sentimentos eram ainda vivos como a pureza de seu coração.
Suas lágrimas rolaram pela sua face e desceram pelo seu pescoço, caíam em seus ombros e desaguávam na terra.
Eis que isso comoveu o céu, e algo de ilustre atingiu os olhos do menino. O que ele enxergava nublado, começou a transparecer a clareza.
Sua mente parecia uma catraca, tric tec, tric tec. Era sua mente se erguendo e atualizando.
Proliferou-se o que o universo já chamava de intransigência. Criou a substâncias necessárias para um ser ganhar a vida novamente.
O menino não era mais o morto vivo; seus braços começaram a se mexer, sua boca a se movimentar, suas pernas começaram a ter mobilidade e suas mãos a gesticular.
Não tinha mais meios que coubessem para que o menino vivesse preso naquele caixote subterrâneo.
O pequeno menino virou, então, um menino gigante. Criou forças de um universo paralelo, em que a ciência não explica, mas justifica.
O menino ratificou e ramificou seus pensamentos. “Há males que vêm para que possamos mostrar para nós e ao nosso redor a nossa capacidade de superação. Superar não é só se levantar, mas se manter e usar isso como uma transformação benéfica. E, que não existem obstáculos que não possamos superar, pois a superação esta na força habitual de nossa mente, pois é a mente quem determina nossa coragem e força, as quais resultam num equilíbrio emocional.”
Saiu da cova, então; renasceu na face um sorriso; no céu, surgiu o sol; no lugar das lágrimas de sangue, surgiram lágrimas de alegria.
Renasceu o menino de rosas na mão e de pétalas no coração.
Renato F. Marques