Bar Fenômena
Faz horas que chegou.
A mesa que escolheu foi a ultima do canto.
Tem visão privilegiada de quem entrava e saia.
O bar de nome Fenômena perdido em algum lugar do espaço-tempo.
Alguém ou um misterioso personagem passou o endereço.
O personagem tinha aspecto de malandro. Mesmo sabendo ele pegou o endereço e veio parar no bar.
Perdeu o emprego numa famosa multinacional. Os anos de serviços prestados foram encerrados hoje. Não precisam mais dele.
Inventaram que está velho e a politica da multinacional entrou em processo de mudança.
Foi cortado, despedido, um tchau e boa sorte.
Entrou no bar. Não sabia aonde ir.
Encontrou por acaso o endereço no seu sobretudo e resolveu visitar o bar para esquecer a cara do ex-encarregado. Parecia o advogado do diabo ao dar o aperto de mão e a despedida.
“De agora em diante é homem livre do inferno. Pegue seus pertences que o paraíso dá boas vindas.”
Saiu. Levou de alguns tapinhas nas costas. Teve um que ajeitou o sobretudo. Faltou levar pontapé no traseiro.
Desde que chegou, pediu uma garrafa de conhaque e deixou pousada na mesa e bebe tranquilamente.
Observa que o bar tem luz amarelada, dava para ver os clientes perambulando, sentados e no balcão. Mesas pequenas de cor avermelhadas e o aspecto noturno de uma noite de Paris.
No palco pequeno ouvia a banda tocar jazz.
A sincronia dos músicos é perfeita e permite ser tragado pela onda da musica.
De vez em quando uma moça de um olho só vem perguntar se deseja alguma coisa.
Loira, usa o famoso vestido de garçonete, meias de renda preta e um belo sorriso.
Repete que não quer nada. Não fica irritado. Gosta de olhar a moça de um olho só.
Ela corre pra levar dois hambúrgueres e um copo grande de suco de laranja para uma pessoa que não estava com a cabeça no corpo. A cabeça está em cima da mesa.
Ele não tem dificuldade. As mãos o auxilia na hora de comer e beber.
De repente uma moça de pele roxa e cabelo rosa explode como bomba de São João e da explosão nascem varias borboletas que voam para fora do bar.
Dois clientes após pagarem seus chopes fundem-se. Um branco e negro.
A amalgama gera um ser metade dia de sol brilhante riqueza de uma bela primavera. Da outra metade, à noite. Poética e estrelada com a charmosa lua nova.
A garrafa está na metade.
Havia perdido a noção do tempo.
Não que fosse ruim. A perda do tempo representa o ato agradável e bem-estar gostoso.
E a banda desfila material de excelente qualidade.
Ficaria sem se importar com nada. O emprego tinha ido para o espaço e não há esposa e filhos. Ficaria o tempo que quisesse.
Quatro mesas depois da sua uma moça que veio do toalete entra em combustão e não tarda para as chamas incandescentes tomarem posse do corpo queimando-a por inteiro.
Todos agem como se tudo fosse normal. Rotina semanal.
E num ato fantástico, das cinzas nasce à fênix o pássaro mitológico que fortalece a iluminação do bar e com seu grito pega o rumo da saída. Deixa rastro de chamas no ar.
Relaxa.
Enche o copo. Bebe mais um pouco. Olha de relance a mesa ao lado. Dois seres em formas humanas com grandes asas.
A parte de cima deles está nua e na de baixo coberta de pano branco.
Seriam anjos? Pois, seus cabelos eram como fios de ovos bem amarelados.
Os anjos ou quaisquer espécies que sejam possuem cartas de baralho nas mãos. Jogam pôquer? Algum jogo de cartas?
Nada atrai atenção do que ver em cada braço uma faca enfiada.
Não quis mais olhar. Continua no seu conhaque.
A moça de um olho só passa pela mesa. Desta vez não pergunta. Lança sorriso para ele.
Foi atender a mesa do arlequim e colombina acompanhados do rei sem coração e a rainha sem rosto.
Tudo era normal no bar. Ninguém se incomodava. É natural essas pessoas no bar.
Estava em paz.
- Posso sentar um pouquinho?
Sorria distraído que nem sentiu a presença da pessoa.
É um homem de trajes elegantes na moda vitoriana. Comia maçã.
- Claro. Por favor.
- Obrigado. Aceita o pedaço da maçã?
- Não. Obrigado, estou no conhaque.
- Ah... Conhaque. Boa escolha.
O homem devora outra parte da maçã e encara.
- Deseja alguma coisa?
- Ofereço uma partida de cartas. Aceita?
Olha nos olhos dele e vê chamas brilharem.
- Não, obrigado. – Bebe.
Por quê? – Pergunta o homem mordendo a maçã.
- Dizem que se uma pessoa oferecer uma partida de cartas ela seria o próprio diabo.
O homem gargalha. Morde o ultimo pedaço da maça. Lança outro olhar. As chamas nos olhos brilham.
- Ofereci apenas uma partida nada mais que isso.
- Obrigado. Terei que recusar.
- Tudo bem. Aceita o pedaço da maçã?
Oferece uma nova maçã sem saber de onde surgiu.
- Não. Mais uma vez agradeço.
Passa alguns segundos. A garrafa de conhaque chegando ao fim. Não tinha mais o orgulho ferido.
A moça de um olho só pergunta:
- Deseja mais alguma coisa senhor?
- Vou querer sim. Pode trazer uma porção de frango a passarinho?
- Ah, claro! Trago seu pedido logo logo.
E abre o sorriso.
- Teu sorriso é lindo.
- Obrigada.
Ele enche o copo e canta uma famosa musica de jazz no bar de nome Fenômena.