Alguém abriria as fronteiras de sua inspiração
Por toda a manhã ,andou pelo jardim de sua casa para lá e para cá. Sentia um cheiro saboroso exalado pelos lírios brancos cultivados por sua mãe,com amor,diariamente .Foi ao jardim em busca de inspiração e ideias para escrever sobre um tema que ele próprio desconhecia.Contudo,sabia que as ideias estavam guardadas nos vários compartimentos do coração de sua alma.Milhões de idéias e pensamentos que houvera armazenado ao longo do tempo, fruto de suas leituras e observações,estavam travadas e insistiam em não fluir.Precisava escrever sobre algo. E forçou a liberação das ideias. Como num painel, surgiu uma infinidade de temas. E disse de si para consigo: - "Escreverei sobre o drama existencial do patriarca Noé construindo a arca do dilúvio no topo da montanha". As ideias até começaram a soltar-se. - Por que no topo da montanha?" Pensamentos estranhos travaram, de novo, seu raciocínio e inspiração.Olhou e acariciou o lírio ao seu redor, como se quisesse que aquela mística flor purificasse sua alma e seu sentimento.Ensaiou escrever sobre o romantismo melancólico e pessimista de Lord Byron ou ainda sobre o simbolismo satanista de Charles Baudelaire... não... não. Não era sobre isto que queria escrever. Rabiscou um poema sobre o amor, mas só conseguia construir rimas pobres. Queria que seus versos tivessem rimas ricas ou preciosas. Embora estivesse num jardim, não conseguiria escrever sobre o amor naquele momento e desistiu da poesia. Já houvera lido sobre as teorias da sexualidade de Freud. Escreveria sobre isso? Não. De repente surgiram outros temas: Ah! Já sei,disse: – falarei sobre o Evangelho de Cristo e o evangelho dos mercadores da fé. Já houvera lido os evangelhos várias vezes, por isso pensava dispor de “fogo” na mente e no coração para confrontar os dois tipos de evangelho... Mas ainda não era o momento para escrever sobre este assunto e,então, desistiu.Faria isto no tempo oportuno. E veio-lhe à mente a voz do pregador Juanribe Palharin. Falaria sobre seu fervor e sinceridade. Sua habilidade para pregar, seu amor ao evangelho. Mas também desistiu... falaria sobre ele depois.Por que não conseguia desenvolver suas idéias? No fundo, ele já sabia – faltava sintonia entre seu sentimento e seu cérebro.Faltava-lhe,principalmente,inspiração. O que seria esse inverno rigoroso que sempre afetava seu sentimento,provocando o travamento de suas ideias? Quem poderia reabrir as fronteiras de sua inspiração? No fundo,ele sabia.Faltava-lhe alguém,cujo nome ele próprio desconhecia. Sua paz e seu sonho haviam se perdido com ela.Somente ela poderia dissipar aquele inverno rigoroso de sua alma?Mas onde estaria ela?
Marcos Antonio Vasconcelos Rodrigues