Vivi outras vidas, não foi simplesmente um sonho maroto...
Mês de junho no Brasil inteiro, é mês das famosas “Festas Juninas”, mês da caboclada se divertir, pra mim esse mês é mês de muito trabalho, enfim pelas circunstâncias da vida virei sanfoneiro.
Digo pelas circunstâncias, porquê o tio Brás Osório de Oliveira (padrinho de crisma), me obrigou a estudar musica, instrumento acordeão, ou sanfona para nós descendentes de caboclos. Não tive opção de escolha, na época os tios também tinham autoridade com os sobrinhos. Tinha que estudar na marra se não apanhava.
Ele estudou poucos meses, o professor Maercio Romanholi vinha dar aula, pratica instrumental e teoria musical, em casa nos dias de domingo. Rua Lício de Miranda – Vila Carioca – SP.
A irmã da minha mãe, tia Deolinda Tangerino intimou ele, dizendo: “Vamos casar ou não, são oito anos de namoro, e agora você vai querer aprender a tocar sanfona”. Diante dessa imposição, ele parou de estudar, sobrou pra mim, e me intimou: “Você vai estudar ou prefere apanhar”, claro eu preferi estudar mesmo sem saber o que era tocar sanfona.
Eles marcaram a data do casamento para o dia 29 de julho de 1954, casaram na igreja São José do Ipiranga – SP., e eu me tornei o mais novo discípulo da musica.
O tempo passou, acabei gostando de tocar sanfona, depois também resolvi tocar teclado eletrônico, e vivo por aí tocando nos bailes da vida, nos fins de semana, vamos nós animar bailes da 3.a idade, acompanhando o amigo Rony e a esposa Karina.
Desta vez fui convidado a tocar na Fazenda Santa Mariana (Porto Ferreira-SP), pelo “Dito Inácio” coordenador de um grupo de dança de quadrilha. Era de noite, o Dito passou em casa, com sua camionete, pegamos os instrumentos e demais apetrechos e vamos nós para a Fazenda Santa Mariana.
Pegamos a estrada vicinal do Brejão, poucos quilômetros adiante no sentido Santa Rita do Passa Quatro, chegamos na entrada. Muito bonito, tudo enfeitado com a ramagens de flor de São João, subimos terreno adentro, e chegamos no local da festa.
Uma velha tulha serviu como palco das festas, e do lado de fora muitas barracas, tinha de tudo, tais como: pipoca, batata doce, pinhão, doces variados, quentão, amendoim torrado, bebidas etc., muito foguetório pipocando no ar, e desde a entrada até o local da festa, muitos seguranças.
As pessoas convidadas, todas pagaram pelo convite, e tudo que iam consumir, também não foi de graça, isso pra mim foi novidade, enfim tempos passados não era assim.
Na tulha superlotada de pessoas, um grupo já estava vestido a caráter, prontos para dançar a tradicional dança de quadrilha. Outra coisa que não entendi, foi que, tinha um Dj, um grupo musical de rock. Enfim eu estava para animar a dança da quadrilha. Durou pouco tempo, uma hora apenas tocando sanfona.
Encerrado a minha tocata, sai pela fazenda, fui observar as dependências, e fiquei impressionado com a característica da velha tulha, calculei que devia ter uns 100 anos ou mais. Chegou a hora de retornar ao lar, afinal eu tinha que trabalhar no dia seguinte.
Cansado do dia anterior, mais essa tarefa, de ir, tocar, e retornar, deitei, peguei no sono, daí, tive um pesadelo.
No sonho me vi nesta tulha fugindo de um capataz, isto em razão de que eu fiquei amigos dos escravos, e a linda mulata se tornou minha namorada.
Depois de namorar, me despedi dela e fui embora. No caminho, passava eu por uma trilha da fazenda, estando feliz da vida com o novo romance, ia cantarolando qualquer coisa, e de repente aparece o capataz querendo me agredir com um facão.
-Disse o capataz: você é branco, não pode namorar a escrava.
-Disse eu: porque não, pra mim cor de pele não faz diferença.
-Nessa discussão sem precedentes, o capataz veio pra cima, e quase que me acerta uma facãozada no pescoço. Momento em que acordei gritando por socorro. Que sufoco, fui lavar o rosto, já eram 3 horas da manhã. Fiquei encafifado com esse pesadelo, parecia que vivi naquela fazenda, mas não, foi apenas um sonho maroto.