SOMOS ESCRAVOS DO TEMPO

Já que o mistério da vida humana é uma incógnita e que jamais o ser humano será capaz de saber como será o dia seguinte, que custa lançar uma hipótese inusitada sobre o prolongamento de um dia no mundo?

Vamos supor que, numa data aleatória, todos os relógios no mundo parassem de funcionar, por exemplo, ao meio-dia, voltando a funcionar vinte e quatro horas depois!...

Pergunta-se: que transtorno poderia acontecer neste ínterim imprevisível na vida de todos os seres vivos, com exceção dos recém-nascidos e dos loucos?

É um caso para se pensar neste "brinde" em formato de TEMPO, para que as pessoas o usufruissem da maneira como bem entendessem.

Inicialmente, tudo indica que, cada pessoa iria logo pensar que deu pane no seu relógio. Seria, sem dúvida, a primeira suspeita. Enquanto isso, os exemplos seriam os mais diversos possíveis.

No escritório, na fábrica e em qualquer outra empresa, alguma reunião teria que chegar ao fim, tão logo toda a pauta fosse debatida, analisada, aprovada ou não. Só que o relógio de pulso, de parede e de todos os celulares continuariam registrando a mesma hora, ou seja, era como se o tempo tivesse parado, juntamente com o mecanismo de todos os relógios...

O motorista de ônibus, lotação ou de táxi terminaria o seu percurso e já pretendia almoçar, por exemplo, todavia, a hora não passava, o relógio insistia em marcar meio-dia...

Um casal romântico, num suíte de motel, já saciado de prazer, tenta inovar posições, joga conversa fora, come e bebe mais alguma coisa, porém a hora continua a mesma. E os corpos voltam a se unir...Que beleza! Que prazer!

Nos hospitais, onde vários pacientes precisam ser medicados de hora em hora, ficam ali deitados no leito, aguardando alguém para fazer a medicação e no entanto, ninguém ali move uma palhar para dar algum remédio fora de hora...Afinal, todo mundo naquele ambiente e nos demais sabe que não passa do meio-dia daquele fatídico dia...

No aeroporto então, o pandemônio após este tempo que parou, envolve todos ali numa grande celeuma. O certo é que os voos continuam chegando e partindo, paulatinamente. Nada fica parado, senão tumultua tudo. Mesmo sem a mínima condição de saber a hora exata, o serviço flui na medida do possível. E ninguém tem como registra ou reclamar de atraso. Quem seria capaz de entender alguma coisa. O menos céticos já poderiam cogitar em fim do mundo...Mas só que tudo não passava de devaneio fugaz...

Enquanto isto, como nunca se preocuparam com relógio e muito menos com o tempo, os mendigos e desocupados continuavam na busca insaciável de qualquer alimento e nem se tocavam que aquele dia parecia não terminar...Alienados, como sempre, não estavam nem aí...Deixa rolar! Quanto mais demorar o sol se por, menos teriam algum receio da escuridão da noite e dos perigos noturnos que costumam ocorrer praticados por meliantes baderneiros e desalmados...Enquanto o sol estiver brilhando no céu, a polícia continua na rua, pondo ordem e respeito. Pensavam esses pobres coitados no seu conceito sobre a autoridade fardada. Mas, pensando bem, qualquer um tem o seu dia de alimentar uma quimera e utopia, principalmente, aqueles que não fazem jus ao uso normal das suas faculdades mentais...

Neste mesmo dia, larápios continuariam a assaltar bancos, residências ou então sequestrando suas vítimas, agora mais do que nunca. Afinal, tinham mais tempo disponível para as suas falcatruas e trapaças infindáveis e perigosas...

No IML, corpos de vítimas de acidentes de trânsito, suicídios ou assassinatos continuavam a chegar, enquanto os peritos e demais funcionários dariam continuidade a uma tarefa árdua e muitas vezes fétidas, horripilantes e fantasmagóricas, enquanto as famílias inconsoláveis aguardavam a liberação dos corpos dos parentes para um sepultamento, pelo menos, mais digno e humano...

Neste dia mais longo do mundo, as estatísticas sobre todas as ocorrências, desde nascimento, assaltos, acidentes, mortes etc, seriam, sem dúvida, muito mais abrangentes e porque não dizer, estratosféricas, astronômicas...

Por outro lado, as pessoas de bem teriam mais tempo para tudo, rezar, amar, perdoar, rir, trabalhar e tudo o mais que qualquer ser humano for capaz de fazer para ser feliz. Portanto, neste dia, teriam o dobro de tempo para fazer tudo isso e mais alguma coisa.

Neste misterioso dia mais longo do mundo, ninguém seria capaz de entender o motivo pelo qual o astro-rei estacionou por um período correspondente de vinte e quanto horas, exatamente. Nem os mais sábios e experientes astrônomos e cientistas o seriam, quando mais nós, humildes mortais. Surgiriam sim, hipóteses, suposições mirabolantes e estapafúrdias que só confundiram o parco entendimento do ser humano.

Dentre os males, o menor. Pois, pensando bem, o que amedrontaria a humanidade seria se o sol, no exato momento em que os relógios do mundo registrassem meio-dia, ele, repentinamente escurecesse, transformando o dia em noite. Aí sim, um pavor descomunal se apossaria de toda a face da terra. Era como se uma catarse sem precedentes invadisse o âmago do ser humano, gerando inúmeros pedidos de perdões, arrependimentos, acompanhados de promessas, planos mirabolantes e imediatos, sem falar no choro coletivo apavorante, com prenúncios de uma hecatombe universal. Num momento assim de súbita contrição humana, todas as regalias das hierarquias constituídas pelo homem, sempre em busca de saber e ter mais, seriam desfaceladas, levando no rol das frustrações, todas as riquezas materiais, todos os sonhos e ao mesmo tempo, todos os sofrimentos e dissabores.

Que hiipótes dantesca e assustadora! Mas que ela sirva apenas como ponto de reflexão para um exame de consciência coletivo, para provar que que valemos mais pelo que somos do que pelo que temos.

JOBOSCAN

JOBOSCAN
Enviado por JOBOSCAN em 20/10/2011
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