Uma Eterna Amizade

Uma eterna amizade

1 PARTE

Amanhecer um lindo dia, O sol teima em não querer sair, a brisa fresca da manhã rompe as janelas do quarto, espreguiço-me vagarosamente em minha cama, no mesmo instante em que o astro rei vai vagarosamente rompendo o dia, levanto-me e rapidamente busco o meu irmão, pois na minha cabeça as brincadeiras, estão todas planejadas, Henrique! Henrique! passo a chama-lo e tristemente relembro que ainda dormi .

Não tem problema , na minha mente infantil tudo era muito natural, mesmo assim apreensivo, esperava , esperava e esperava, as horas se arrastavam ; O que ouve com o tempo e as horas continuavam se arrastando. Logo todos iam para o trabalho ou para o colégio, então poderíamos brincar. A bola rolava e como acontecia todos os dias eu perdia no futebol, andávamos de bicicleta, lutávamos, assim os dias transcorriam alegremente. Sempre após a escola a tarde estudávamos e em seguida ficávamos conversando, trocando ideias sobre o futuro:

· Marcio ! perguntava Henrique, nos somos irmãos não somos?

· É claro Henrique. Não somos de sangue, mas somos em espírito e amizade,

· Que bom, retrucou , pois quando crescermos vamos trabalhar e morar juntos.

· Como assim, perguntei-lhe ?

· E ele me olhou profundamente nos olhos , e falou; vamos trabalhar como propagandista de laboratório. Vamos comprar um apartamento, eu , você , mamãe, sua mãe e tua irmã.

· Isto foi uma surpresa, e de imediato perguntei e o seu pai?

· Não ele não vai conosco, ele briga muito com a minha mãe , não quer que eu fale e nem brinque com você.

· Bom Henrique já é tarde vamos entrar, até amanhã,

· até amanha, Marcio.

2 Parte

A casa onde morávamos era grande, muitas plantas e frutas, Tínhamos uma vida economicamente estáveis. Lembro- me como se fosse hoje, o dia mais movimentado da minha infância , muita gente entrando e saindo , eu e Henrique intrigados com a aquela caixa de madeira cor creme do tamanho de um armário cheio de botões e um vidro ovulado, e aos poucos ia aquecendo e um chuvisco aparecia, logo se transformavam em figuras turvas ,após alguns segundos o som e a imagem apareciam como mágica. Me perguntava como um homem poderia ter entrado numa caixinha tão pequena e apertada? Era a primeira televisão a chegar no meu bairro, a imagem em preto e branco, era uma festa os vizinhos vinham ver um ou outro programa , era o primórdio da televisão brasileira.

No ano de 1970, lembro-me como se fosse hoje, o ano da copa do mundo, o Pais estava em festa, as pessoas só falavam nela e em um tal rei do futebol. Tinha então 7 anos e o meu irmão completará 10 anos, estávamos eufórico, pois íamos assistir pela primeira vez a copa do mundo pela televisão, iriamos finalmente conhecer esse rei do futebol, um tal de Pelé . Era fantástico, Henrique como era mais velho tomou a direção e determinando as regras:

· Marcio, você vai sentar junto a porta, · Não pode falar alto para papai não reclamar

· Quando for um gol agente pula mais não se abraça.

· Eu fico no sofá grande quando você não entender alguma coisa, faz um sinal que eu vou até você.

Assim ficou combinado e pouco antes do jogo tomamos banho, trocamos de roupa, antes da partida apostamos figurinhas em quem faria o primeiro gol, claro com muito cuidado para que ninguém percebesse e assim foi durante toda a copa. Finalmente o Brasil consagrou-se tri-campeão mundial de futebol, que seleção ! que qualidade de futebol ! O povo eufórico cantavam o Hino nacional ou o hino da copa , “Setenta milhões em ação, pra frente Brasil, salve a seleção”

Tv Philco valvulada anos 60

3 Parte

Ainda no êxtase da euforia, o Brasil amanhecia com um novo ar, era o começo de uma nova vida, as pessoas se revestiram de alegria, por todo o lado só se falava na vitória do Brasil e na consagração do rei Pelé. Resolvemos sair um pouco, queríamos averiguá tamanha alegria, parecia ser um momento singular, lembro- me bem que olhava-mos para os rostos de todos , sentíamos nelas um felicidade imensurável, o povo estavam bem nós estávamos bem.

O dia nem mal começara e já tianos outra surpresa , desta vez era um aparelho preto com um disco com números de 0 a 9. uma proesa do homem para encurta as distâncias, um aparelho de telefone. Talvez hoje não se entenda o grande pulo tecnológico que se dava, porém na quela época era uma grande novidade e rara eram as casas que possuíam um. Para que hoje se tenha uma ideia do tamanho da novidade ,antes existiam posto telefônico quando queríamos falar com alguém tínhamos que ir na cabine, e uma telefonista faziam as ligações. Orelhões ainda não existiam, só algum tempo depois foram colocados um a cada 3 ou 4 kilometros um do outro, realmente esse dia estava sendo repleto de novidades . Como era difícil a comunicação. O meio de se comunicar mais comum era os correios, através das cartas e quando queríamos algo mais urgente, recorríamos ao telegrama.

Aproximava rapidamente o final do ano eu iria completar oito anos , finalmente chegou o natal, festa mas linda não há, renasce o espírito natalino, os anjos cantam alegres, o céu se abre em alegria, o sol parece aquecer mais vivamente. Em nossa casa, não era diferente, esperávamos ansiosos pelo papai noel, a festa natalina era linda a mesa repleta de guloseimas, a árvore de natal piscava alegremente e a lapinha tristemente nós lembra a morte do nosso redentor.

Passado as festividades do final do ano, Henrique teve uma crise asmática e por uma longa semana passou acamado, logo o seu pai comprou uma pássaro conhecido como cancão, para afastar a doença, estávamos em férias e passávamos longas horas conversando, eu pedia a Deus que lhe restabelecesse a saúde, e nesta semana ocorreu que o Seu pai havia lhe prometido um presente era uma bicicleta, uma caloi vermelha que tanto desejava:

· Henrique! será que hoje ela chega?

· Náo sei. Tomara!

· Eu vou poder andar?

· Quando papai sair para o trabalho vai sim.

· Então Henrique, melhora logo, para podermos brincar, olha eu vou ser sempre seu meio irmão, nós nunca vamos nos separar.

· Eu sei Marcio, opa, tem alguém , apertando a campainha, vai olhar.

· Henrique! voltei correndo e com o sorriso rasgando no rosto , gritei é ela, chegou...

· Mentira !!!

· Que nada, levanta, vamos levanta , vamos lá, Vêm ver.

Corremos para o portão pequeno, e abrimos com rapidamente, e ali estava ela linda, vermelha, um sonho e nós dois juntos, a conduzimos gentilmente para o quarto dos santos, e ficamos ali olhando e fazendo planos. E como por um milagre, Henrique foi melhorando e algum tempo depois estávamos brincando:

· Marcio, primeiro eu ando e mais tarde você da uma voltinha, mais cuidado para não cair

Varias voltas depois finalmente chegou a minha vez, só que eu não sabia andar

- Marcio eu te ajudo, vai devagar, apruma a direção...

assim foi a nossa primeira experiência, com uma bicicleta.

Caloi Belineta 1972

4 parte

Os anos se passaram e o desejo de ter minha própria bicicleta aumentava, logo faria doze anos e por mais que desejasse não via como conseguir, não tinha dinheiro para comprar. Faltava poucos dias para o meu aniversário, estava ansioso. De repente uma surpresa , Henrique tinha comprado uma bicicleta do primo , e estavam concertando-a, aquele presente era o maior de todos, não me contia de tanta emoção , estava verdadeiramente feliz. Finalmente tinha ganho minha primeira bicicleta. Um sonho para tantos meninos da minha idade e eu consegui realizar.

Os meses se passaram e eu crescia em um mundo imaginário, um misto de tristeza e felicidade, como poucos , eu não queria ver o cenário em minha volta, tinha tudo, casa, comida, uma bicicleta , logo era rico. Infelizmente ou melhor felizmente algo mudara, eu e Henrique estávamos um pouco afastado , mal nos falávamos. O tempo seguia o seu destino , rumo ao amanhã, e mais uma vez estava no dia do meu aniversário , iria fazer treze anos, era um dia de sábado fim de tarde e o mistério então se desfazia, estava eu sentado no terraço comprido muito triste, quando de repente Henrique abre o portão , entra em silencio aproximando – se me diz :

· Marcio, papai Não quer que eu passe muito tempo com você, mais deixa para lá, eu pedi minha mesada adiantada e comprei este chocolate , toma é um presente de irmão que não tem dinheiro. Vou pedir para zana colocar uma pedaço no bolo

·Eu pensativo, surpreso, pela revelação que o homem que eu já tinha como pai e como exemplo a ser seguido estava de certa forma me desprezando, finamente falei: Obrigado , este presente eu nunca vou esquecer , também entendo, sou filho da empregada e você é o filho da casa, talvez seja uma maneira de seu pai me mostrar que existe uma grande diferença entre nós dois e que eu tenho que batalhar, talvez nos afastando eu pudesse enxergar, coisas que eu não queria enxergar. E ali choramos.

Um dos nossos passeios favoritos era conhecer os carros mais modernos seus nomes e suas marcas, depois de tanto tempo já não sei se posso relembrar de todos com exatidão, mas lembro-me muito bem de alguns: um era todo preto um carro antigo chamávamos de ` onça ` e pareceia com o carro da quadrilha maluca , outro carro que me chamava atenção era o vemaguet, na época um design arrojado , o Dkv , tinha também o famoso e compacto gordine, com pouco espaço porém muito econômico . Um amigo da família chegou um dia com um Karmann Ghia, laranja, era uma máquina, lembro ainda do Aerowillys e o Esplanada mais nenhum superava em beleza e imponência o Studbake, um carro grande espaçoso , de cor verde e macha royal, um luxo um conforto, íamos a praia e nos sentíamos importante, nunca vou esquecer este carro. Finalmente chegou a época dos grandes carros , chassis alogados e grandes calda na traseira e ai tinhamos o Galaxie , o Doj Dark , o Sinca , entre outros.

Galaxie Studbake

Aerowillys Karmann Ghia

sinca vemaguet

5 PARTE

A vida seguia entre altos e baixo, a cada dia eu me apegava mais a esta família, que sem nenhuma obrigação, dava-nos abrigo, alimento e direcionamento, talvez pelo olhar de outras pessoas, não fosse essa, uma opinião compartilhada.

Mesmo assim os dias que se seguiram, foram de grandes diálogos , e todas as vezes que podíamos ficávamos conversando, estava agora com quatorze anos , e Henrique estava namorando uma moça, pela qual se apaixonou loucamente, namoro esse que não eram permitido pelos tios dela.

A fase que transcrevo foi o prelúdio de uma grande tragédia.

Tragédia que mudaria para sempre toda a nossa vida.

· Marcio ! fiz uma poesia gostaria de ler ?

· Claro Henrique , vamos lá;

Olhei atentamente aqueles versos que chamavam atenção para um mundo conturbado, um mundo de guerras e sem paz { pare o mundo, pare as guerras, porque tanta confusão num mundo de nosso Deus, baixem as armas, quero paz em minha casa. se eu morrer tudo ficará bem ? } ,

· Henrique quero lhe dizer que nenhuma morte lhe trará paz, a paz temos que buscar constantemente. As guerras são coisa dos homens , não sei explicar o por que. Mas vamos lá , vamos para a vida , nos temos tudo.

A segunda poesia eram versos para sua namorada, versos convidando-a para fugirem, até mesmo para morrerem juntos, e isso me preocupou. Fui a procura de sua namorada que também era minha amiga , e conversamos a respeito do assunto , combinamos logo conversar com ele.

No dia seguinte ele me deu um outro presente, como uma despedida, chamou minha mãe, a sua e uma outra empregada da casa, nos reuniu em frente a porta do quarto que eu dormia e assim falou:

· Eu Henrique, na frente de vocês, entrego esta bicicleta chamada morcego vermelho, para o meu irmão Marcio Santos. Que ninguém tome dele!

Era inacreditável, mais acabara de ganhar minha segunda bicicleta, desta vez ela era grande e bastante veloz, mais uma vez não contive minhas emoções , parecia um sonho, poderia ir para a escola com a bicicleta, poderia inclusive ir mais longe.

Os dias transcorreram com muita felicidade, as vezes brigávamos, como todo irmão, principalmente quando íamos jogar futebol, ele sempre vencia e quase sempre acabava em insultos , tapas e socos, em seguida com boas gargalhadas.

Lembro-me quando , ele passou a me ensinar judô ( o meu primeiro instrutor de artes márcias) engraçado quando ele me ensinou a dançar, segundo ele ( dois pra lá e dois pra cá ) passávamos horas com a radiola tocando um LP de `os Motocas` e ali ensaiávamos e ensaiávamos... grandes momentos aqueles vividos.

Bicicleta Monark Olé 71

Monark Olé

6 Parte

Nesta mesma noite fomos ao cinema no antigo trionon assistimos a um filme chamado, encurralado para morrer. Ao voltarmos fomos a rua por trás de nossas casas e ao chegarmos contente e gritando, veio ao nosso encontro uns amigos nos pararam e pediram silêncio, falando:

· Marcio , Henrique, façam silêncio pois estão velando uma jovem. Ela tirou a própria vida , dizem que acabou o noivado, ela não suportou. tão nova! tinha apenas dezoito anos.

Fomos lá entramos, olharmos e oramos, logo saímos dali constrangido e tristes,.

Fizemos o caminho para casa em silêncio, aquela situação tinha mexido muito com o nosso emocional, não precisávamos falar nada, sabíamos o sentimento um do outro, ao nos despedimos Henrique falou :

· Marcio ! quem morre volta a essa vida?

· Não sei, Henrique... por quê ?

· Eu acho que quem morre descansa, respondeu-me.

· Henrique ! para de pensar besteira, amanhã a gente se fala.

· Marcio quero lhe dar isso, retirou do bolso da calça um santinho na verdade era calendário de bolso com a imagem de Nossa Senhora).

· Obrigado Henrique.

· Até amanhã

· Adeus, Marcio

· Adeus não Henrique até amanhã.

· Nós somos irmãos para sempre lembra ? ele retrucou.

· É Lembro.

Já a algum tempo , dormíamos juntos em quarto fora da casa, quarto esse que foi do seu irmão mais velho. Porém logo nessa noite eu não iria dormir na casa dele, dormiria em uma casa que a minha mãe tinha alugado

Ao deitar meditei nos últimos acontecimentos, principalmente na última conversa que tive com Henrique e resolvi no outro dia tentar conversar com o meu padrinho. Sabia que Henrique estava muito preocupado com os estudos, não estava sendo um ano nada bom, pra falar a verdade estava preste a ser reprovado mais uma vez.

Como estava trabalhando eu não presenciei a próxima narrativa, estavam todos almoçando e o pai cobrava um melhor desempenho dele no colégio, apos a cobrança Henrique respondeu assim:

· Pai , não adianta , não entra nada em minha cabeça, não entra nada e voltou a repetir por mais duas vezes.

Enquanto isso eu almoçava, tranquilamente no trabalho, nem em meus piores pesadelos , jamais poderia supor tal desfecho.

Era tarde demais , tinha ainda quatorze anos a minha mente infantil não tinha capitado, tão profundamente o que estava ocorrendo, no meio de tanta confusão meu querido irmão , cometeu uma desgraça, pondo fim a sua própria vida. Foi difícil perder alguém, tão querido, o mundo desabou sobre mim, não sei quantas vezes eu chorei, não sei quantas vezes ainda choro por ele, pedi a Deus tantas coisas pedi que o devolvesse como meu filho, pedi para morrer com ele... mais já era tarde, o pior já havia acontecido. As lembranças nunca saíram da minha mente, eu guardo até hoje fotos e discos dele, entendi que não posso mais pensar tanto, mas posso orar por ele, sei que um dia iremos nos encontrar , pois somos irmãos eternos , amigos eternos , uma família celestial , eu Sou teu irmão e tu eis meu irmão, e nada mudará

Everaldo

Everaldo da Silva
Enviado por Everaldo da Silva em 11/10/2011
Reeditado em 29/12/2014
Código do texto: T3270314
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