A chuva levará a dor
Depois de meses com um sol de matar, finalmente chovia. Primeiro, vieram pingos delicados, que beijavam o chão. Então a chuva engrossou, e junto com ela apareceu um ventinho bom, que deixava uma vontade de ficar na cama o dia inteiro. Mas ela não iria dormir. Tinha uma missão e só podia realizá-la nesses dias úmidos.
Era noite, quando a garota saiu de casa. Os pingos já estavam fortes. Estranhamente, não carregava uma sombrinha; recebia a chuva como se fosse uma carícia.
O seu vestido leve, mais apropriado para o verão, se achava encharcado quando ela chegou ao seu destino. Seus pés, descalços, enlameados. Mas ela nem percebia. Seu olhar era vítreo e um sorriso rasgava seus lábios quando ela abriu os portões do cemitério.
Andou um pouco e segundos depois encontrou o túmulo desejado. Passou os dedos nas letras gravadas. No nome dele. Suas lágrimas se misturaram com a água da chuva e ela encostou-se na pedra fria. Ao longe, escutou as badaladas de um relógio. Meia noite. Quase imediatamente, tirou um frasco do bolso. Fitou o líquido verde fosco e o engoliu com ânsia.
Quando o frasco ficou vazio, a vida foi se esvaindo dela aos poucos. Até acabar. Sua promessa estava cumprida.
A chuva ficou fraca, suave. Como se temesse acordá-la...