Holocausto
Escreve o que vem a cabeça. Diz a voz na mente.
E o que vem a cabeça. Perguntei-me.
E o que veio foi a narrativa de um rapaz franzino e pálido.
Não é um lamento, tampouco um grito, dizia.
Assusta-me a fé que adquiri, mas que as vezes me faltou.
Fui embora, carregado pela onda mais furiosa, do mar que me afligia.
O holocausto.
Entre tantos irmãos pereci e a nenhum deles pude dar adeus.
Andei sem destino naqueles campos desolados pela dor.
Fome, frio, vazio e escuridão.
Nenhuma só prece pronunciei, por mim ou por qualquer outro.
Tive dúvidas e neguei minhas crenças.
Como pode crer, aquele que se sente abandonado e
esquecido pelo homem e por Deus?
Vi muitos homens com rostos e corpos esquálidos vagando naqueles campos e vi homens, tão homens como estes, materem tantos outros.
Homens, mulheres e crianças, empilhados como animais, jogados na mesma cova.
Eu não.
Eu cativei meus algozes.
Fui seus olhos e ouvidos.
Todo o meu desespero e medo foi canalizado na traição, daqueles que confiiaram em mim, meus irmãos.
Eu estava lá, num daqueles campos de aglomeração humana.
Assisti toda a barbarie e dela fui um membro ativo.
Foram-se meus irmãos, meus pais, meus amigos e eu fui ficando porque colaborava com o assassínio, omissamente.
Eu era jovem, só queria viver e esperar que tudo passasse.
Mas nada passou.
Ao menos não para nós.
Pensei que estava salvo, mas não estava.
A minha vez também chegou.
Não tive sorte.
Fui morto em uma câmara de gas, agonizei, sentindo a vida perder-se no peito sufocado.
Não obstante, fui imediatamente socorrido pela caridade divina, levado a um hospital.
Vieram muitos socorristas, naqueles dia.
Muitos como eu, foram socorridos. Mas outros tantos ficaram vagando sem entender o que acontecera. Nem todos compreendem quando o desenlace chega. Nem todos aceitam a mão estendida do socorrista. Nem todos caminham em direção a luz. Muitos permanecem vagando, negando-se a entender que a matéria é perene e o sofrimento é permanecer ligado a carne. A carne se decompõem, o espírito é eterno.
Somente o perdão redime.
Por que eu mereci.
Muito, muito tempo depois foi esclarecido.
Deus dá a cada um, na medida do seu mercimento.
Embora eu tenha agido como um traidor, segundo o meu próprio entendimento, fui na verdade responsável pela elevação espiritual de vários daqueles que agiram como carrascos, na época.
Homens de uma época, que aparentemente tinham escolha, mas que na verdade, nem sempre tinham.
Eles também eram mortos se descumprissem ordens, muitos deles também viram os seus serem ameaçados.
Eu tanto quanto muitos deles, dei o melhor de mim, na medida do que me foi solicitado.
O tempo que resisti com vida, acalentei tantos os do lado de cá como os do lado de lá da cerca
Hoje, tantos quanto nós, naquela época, matam, relegam, vandalizam, negligenciam, torturam, omitem-se.
Toda época, quer ter sua própria justificativa.
Cada história, cada povo, tem seus mártires, perseguidos e perseguidores.
Há o correto e o errado. Segundo a justificativa histórica dada.
Mas a verdade é que o julgamento, só vem após o acontecimento. Tardiamente.
O homem de hoje julga os erros do homem passado e o homem de amanhã julgará os do homem de hoje.
Ma quem faz o agora?
Não somos nós?
É hora de fazer o presente.
Faça homem.
Diga a todos que Cristo está voltando.
Rdenção aos que merecerem.
(ao final, perguntei o seu nome e ele replicou. Porque queres saber meu nome?)
..encerro meu pensamento, nada mais me vem a cabeça.