Intruso

Ele corria entre os cômodos da imensa casa.

Uma lata de tinta vermelha e um pincel eram seu arsenal.

Pintava aquilo que tocava, e tudo tentava tocar, enquanto as balas atravessavam a parede.

Um atirador preciso e irritado com a presença. Aquela era sua casa e nenhum intruso seria tolerado.

O atirador era esperto e se sentava numa colina, esperando poder acertar com seu magnífico rifle.

No começo eles apenas se encaravam. Os tiros; passavam um ou dois. As paredes ficavam cada vez mais vermelhas e mais furadas. E cada vez mais rápido.

Sorria e gargalhava o intruso, sem sequer um arranhão.

Agora o atirador já entrava em desespero. Atirando sem pena de suas frágeis, frágeis paredes.

Alcançou sua caixa de munições e só encontrou uma bala.

Antes de atirar, segurou-a com força e, com sua faca, esculpiu algumas letras ao lado.

Colocou a bala.

O intruso parara na frente da porta de entrada. Seu sorriso sumiu. Ele havia se colocado na linha de fogo. No lugar mais fácil.

Na lente do rifle, o atirador foi vendo o sorriso sumindo. E começou a esculpir o seu. Aproximou o dedo lentamente do gatilho. Respirou. Percebeu algo assustador, mas já era tarde. Ele atirou.

Enquanto a bala perfurava o céu e rasgava o vento, o atirador se deparou com sua própria face. O intruso havia caído.

A bala, cravada “Razão” atravessara o crânio do intruso. Todas as paredes pintadas estavam agora pintadas de sangue.

Jogou o rifle de lado e atirou-se para trás, na grama.

As paredes choravam às poças.

Por fim, o atirador tentou se consolar...

“Afinal...”, pensou ele, “Quem manda a felicidade aparecer assim de repente?”.