Déjà vu - Prólogo

Estava deitada, fitava o céu, estava límpido com poucas nuvens, observava apenas, aquilo de alguma forma deixava-me tranqüila, as anciãs dizem que sou precoce, nem sei direito o que isso significa... Ouço minhas irmãs brincando e treinando, todas anseiam honra e glória, por algum motivo desde que aprendemos a andar esse desejo parece preencher cada canto da mente infantil das crianças de nossa tribo ou vila como alguns chamam.

Uma brisa suave faz desmanchar os delicados dentes de leão, nunca entendi como uma flor tão frágil tem esse nome, não tem lógica. De todo modo aquele era um intervalo entre os treinos, já estava acabando meu tempo, que vida, enquanto as meninas do povoado brincam e se divertem o dia todo praticamente, eu com meus 4 anos e meio tenho que treinar 8 horas por dia. Levantei-me com preguiça, olhei a minha volta, Dalila estava a meu lado de pé, era uma mulher alta de cabelos negros olhos cor de mel, admirável, ela era responsável por parte da minha educação e de mais algumas meninas.

Depois daquele intervalo passei a tarde estudando filosofia e a arte da guerra, as vezes parece-me estranho olhar todas essas meninas e imaginar que daqui uns 10 anos seremos consideradas guerreiras de respeito, quando olho para Lia com seus olhos meigos e gentis essa realidade parece ainda mais distante e improvável que antes. Parece-me impossível nos ver em tal situação a arriscar nossas vidas e ceifar outras, mas somos treinadas para isso.

Muitos talentos se levantam a cada dia, algumas são mais promissoras que outras, como por exemplo Kelly, ela é um ano mais velha que eu, é considerada uma promessa no que diz respeito à sobrevivência, ninguém suporta privações melhor que ela, sim aos cinco somos obrigadas a passar por coisas que pessoas adultas temeriam um dia passar, mas sabemos que isso tudo só ocorre para o nosso bem, nunca nos queixamos, não na frente de nossas monitoras, pois pode ser perigoso.

Eu amava ficar sozinha a observar o céu, todas sabiam disso, algumas usavam o tempo livre para brincar mas eu ficava olhando o céu, às vezes minha prima ficava ali comigo em silêncio. A serenidade tomava conta de nossas almas, era reconfortante permanecer assim.

Ouvia minhas tias a dizer a minha mãe que eu era mimada, mas sabia que não era verdade, não havia distinção entre minhas primas e eu, somos tratadas de igual maneira, na verdade se compararmos minha mãe é duas vezes mais rígida que as minhas tias, mas elas não enxergam isso, no futuro talvez percebam o engano em suas ações, mas não devo preocupar-me com tão pouco, sou uma menina ainda, apesar de ser diferente de minhas “irmãs” sim pois todas somos irmãs.

Estávamos reunidas no final da tarde, contemplávamos o sol a se por quando Helen veio até nós, minhas irmãs a olhavam admiradas, ela era uma bela mulher, alta com pele clara e cabelos cor de mel, olhos verdes e aparência delicada porém com uma presença imponente, todas queriam saber o que aquela mulher fabulosa fazia meio a nós. Até que Helen pronunciou-se;

_Evelyn?!Táfnes deseja falar contigo._Meu coração falhou, ela havia mesmo pronunciado meu nome? Sim havia, eu temia o que isso pudesse significar.

Levantei-me apressada, não gostaria de ser tida como as mais velhas chamam mesmo?Ah, sim indisciplinada. Estava frente as sólida construção onde encontraria Táfnes, parei um momento para contemplar o lugar, aquelas colunas pareciam ser inabaláveis, nem o maior terremoto poderia derrubá-las, estava certa disso. Alguns degraus a entrada e uma pesada porta de madeira de lei, de cor ébano, muito antiga e pesada, não fosse Helen a abrir a porta eu certamente teria ficado do lado de fora...

Adentrei o recinto temerosa, do que ali poderia eu encontrar, porém a serenidade atípica a minha idade nessas horas não me faltava. Agora eu podia sentir o aroma do incenso ali queimado, era o típico incenso de purificação e o incenso de lavanda, Táfnes queria falar comigo, eu estava ansiosa mas em minha aparência nada evidenciava isso.

Meus olhos se arregalaram tamanha era minha surpresa, aquela não era a primeira vez em que via Táfnes, muito menos a última, nem sempre ela estava assim vestida com a pompa de uma rainha. Sim, ela era uma rainha, admirava profundamente e amava, como deve ser, afinal sou sua filha, o que de maneira nenhuma quer dizer que eu vá ser rainha, muito pelo contrário de mim é exigido o triplo de qualificação para tal, minha mãe era filha de uma guerreira da elite, não de uma rainha. Os cabelos castanho claro de minha mãe caiam até sua cintura bem delineada. Uma túnica verde presa a sua cintura por uma faixa prateada, sandálias de igual cor e acessórios de prata. Pois ela não era chegada a ostentação, eu não encarei seus olhos, pois ali estava minha rainha e não minha mãe, eu era sua súdita e nada mais, ética acima de tudo.

Quando Táfnes deu a ordem a Helen essa retirou-se contrariada, tenho que admitir ela gosta muito da minha mãe, ou seria do status dela? Agora eu me arriscava a olhar o rosto de minha rainha, estava enevoado, parecia que aquele era um dia ruim para ela, não sabia determinar por que, mas eu gostaria muito de vê-la sorrir, pelo visto isso seria impossível hoje.

_Evelyn, tenho uma notícia para você. A anciã faleceu._disse num tom voz baixo, provavelmente ela deva ter esforçado-se muito para não chorar, a anciã em questão era a mãe dela, minha avó. Não estava triste por minha avó, na verdade estava mais triste por minha mãe, pois a vovó havia partido e não tinha consciência do que se passa nesse mundo, descansava com Hera, pois ela servia a essa deusa, eu nunca entendi por que, nunca simpatizei com essa imortal. Mas não vem ao caso, minha mãe estava abalada, tenho certeza que ela desabou a muito tempo, ali estava apenas seu corpo de pé, pois uma garotinha chorava por dentro, mas deveria impor-se como mulher, estava desempenhando bem esse papel, continuaria a fazê-lo. Orgulhava-me demais de ter nascido desse útero.

Alexandra Peccla
Enviado por Alexandra Peccla em 24/07/2011
Código do texto: T3116307
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