A Agradável Manhã de Domingo.
Ele abria os olhos lentamente, acordando de um transe. Uma forte luz branca vinda do céu iluminava toda a sua garagem. Apenas quando a mesma dissipou-se, ele se deu conta de que realmente estava em sua garagem; e estava em pé. Simplesmente estava em pé, no meio de sua garagem. Pelo amor de Deus, que ele não estivesse sonâmbulo novamente, pensou consigo.
Olhou ao redor. O portão se encontrava aberto. Provavelmente ele devia ter saído e voltado. Sim, era isso. E a luz? Ora, a luz era apenas uma ilusão. Agora ele trancaria seu portão, subiria até o quarto e dormiria novamente. Pelo sol que entrava pela fresta aberta do portão, era possível deduzir que ainda não passavam das sete da manhã. Sete da manhã de um domingo; era realmente uma hora agradável.
Caminhou até o portão, e tentou fechá-lo. Não conseguiu, pois a tranca estava arrombada. Ótimo, ele não era apenas um sonâmbulo, era um sonâmbulo arrombador de portões. E esperava que aquele fosse o único portão que ele teve a capacidade de arrombar. Vasculhou sua garagem até encontrar uma corda, e amarrou a maçaneta ao outro lado do portão. Ficaria assim até amanhã de manhã.
Entrou na sala. Observou-a com um leve ar de estranheza. Tudo tinha uma cor apagada. Como se uma névoa constante pairasse no ar, trazendo consigo um cheiro de coisa velha e empoeirada. Talvez aquilo tudo fosse um sonho, e logo, logo, ele acordaria. Pôs-se a subir os degraus.
‘’Um, dois, três, quatro, cin’’. Parou. Simplesmente, parou. E se ele tivesse sido abduzido? E se aquela luz fosse de uma espaçonave alienígena? E se os seus motoristas, tivessem levado-o para sabe-se lá Deus onde, e implantado em seu cérebro ou em sua coluna vertebral, um chip? Claro, isso tudo era besteira, e ele sabia disso. Mas contar essa história no pôker da sexta-feira à noite, com certeza seria muito mais divertido do que contar que ele era um maldito de um sonâmbulo arrombador de portões.
Finalmente, as escadas terminaram. Caminhou lentamente até a porta de seu quarto. Ela se encontrava entreaberta, e uma luz amarelada escapava de dentro do cômodo. Era a luz de seu abajur. Parou em frente à porta, hesitante. Sem motivo aparente, um pânico crescente o invadiu. Ele fechou os olhos e empurrou a porta. O seu rangir fazia o seu coração trepidar e querer sair pela boca. O rangido cessou e ele começou a abrir os olhos.
Seu lençol, outrora branco, agora adquirira uma cor quase negra. Seus braços caiam pendidos na lateral da cama. Haviam inúmeras marcas roxas em torno de seu pescoço, e seus olhos tinham uma nova cor; a mesma dos lençóis. Seu estômago fora aberto, e suas entranhas saltavam para fora de seu corpo mutilado, que jazia sobre sua cama.
Ele sentiu suas pernas fraquejarem, e apoiou-se em sua parede. Tocou em algo gelado, e olhou instintivamente para o objeto. Era o espelho, e tudo o que ele via refletido neste era sua janela, por onde os dourados raios solares adentravam alegremente em seu quarto, ignorando a face da morte que fitava toda a cena sentada tranquilamente ao lado do cadáver.