O Viajante do Tempo – O Mito de Sansão
 

            Nunca acreditei muito no mito de Sansão. Talvez para me provarem o contrário, fui arremessado diretamente ao derradeiro cenário dos acontecimentos. Em determinados períodos, sem que o peça, minha consciência é arremessada a tempos e mundos outros para trazer experiências e relatos assombrosos.
            Tudo se passava como se assistisse a um filme em uma tela de 180 graus. Podia sentir a rudeza das rochas, ouvir os gritos histéricos do povo e apreciar a colossal figura do gigante. O homem que chamavam de Sansão passava facilmente do 2,50 m de altura. Corpulento, apresentava-se acorrentado às colunas do templo. Não sou especialista em arquitetura e meus conhecimentos de engenharia são básicos, mas percebi que as mesmas correntes que o prendia uniam todas as colunas do templo em um malabarismo arquitetônico que não tenho refinamento suficiente para descrever.
            As colunas impressionavam pelo porte e simulavam grossas coxas masculinas com destaque para as estrias musculares saltando aos olhos. Ao alto, o templo se fechava por completo em imensa cúpula de formato quadrangular. A estátua do deus Bahal destacava-se ao centro sendo também um tipo de coluna que servia de suporte a todas as arestas que nasciam dos cantos do colossal edifício e na qual terminavam de assentar-se as vigorosas correntes.
            O povo delirava em júbilo pela supremacia de sua vitória. Não pude ver Dalila e seus encantos. No momento em que fui transportado Sansão já adquirira novamente seu poder e as colunas tremulavam. Grande parte do povo tratara de correr e, ao contrário do que dizem, já se encontrava fora do edifício. O sacerdote principal ainda estava lá e, quando Sansão começou a puxar as correntes atraindo em sua direção as poderosas colunas que se esfarelavam, aquele bradou ao seu deus:
           - Poderoso Bahal! Sei que é mais forte que o Deus deles. Vingue-nos. Sei que esse tremor não superará a sua força. Você vencerá! Você vencerá. – Ao mesmo tempo gritava a muitos para que esperassem, pois no duelo entre os deuses o dos filisteus sairia vencedor. Em pouco vi desmoronar sobre ele um pedaço de rocha aniquilando-o por completo.
            Era um tipo baixo, corpulento e com longas barbas. Vestia um traje azul com detalhes dourados. De forma que não sei explicar vi-me no corpo inerte daquele homem ambicioso. Senti a sua fé e compadeci-me da sua crença. Em seu íntimo acreditava na força do seu deus e por ele morreu. Era um herege, mas para os seus fora um mártir. Sansão também sucumbira à queda do templo. No entanto, não ocorreu conforme contam. Muitos sobreviveram e o prédio não ruíra por completo. Observei que muitas estruturas da cidade também caíram. Um terremoto atingira a região no justo momento em que o inimigo dos filisteus era exibido e torturado publicamente.
            Não tenho provas, não ouso questionar crenças, sou apenas a triste testemunha de um sonho em uma tarde quente, em um feriado morto, em um sofá antigo enquanto a Tv exibia uma comédia dos anos 50...