Na Hora da Morte
De repente, fechei os olhos para vida. Os prantos que me cercavam aos poucos foram ficando fracos, e depois pararam. Não adiantaria mais tentar resistir como eu vinha desde sempre, pois o único destino que se abria diante de mim era o fim. O corpo antes aquecido em tantos corpos, agora padecia gélido por sobre a cama, desprovido de qualquer tipo de força.
A vida passara milhões de vezes diante de mim, como se fosse um filme ao qual eu tinha de assistir. A voz já enfraquecida, só conseguia emitir os urros da minha alma desgastada, e já sabendo da minha real condição, deixei primeiro que a paz que me conduzia desse lugar a meus urros agonizantes, e depois ao contentamento.
Talvez já seja a hora de morrer por completo, mas sinto que morro incompleto, e por isso mesmo, incosciente ou não, pareço querer que a vida se prolongue por mais um tempo, para ver e experimentar das coisas que nunca me pareceram relevantes, mas que agora, diante do meu fim, parecem ser vitais. Não medi os pesos da realidade e do sonho, e por isso agora, perto do fim, é que compreendo a única coisa que me faltou: me preparar para o fim, mas para isso, eu deveria ter encontrado antes o meu inicio.