Ursos, Bombons e Carnavais
Aranhas rastejam de seus ninhos escuros para minha cama, quero pular. Medo. Muito medo de elas me injetarem seu veneno, mas isso não ocorre. Elas apenas levam meu ursinho de pélucia. Snert, snert gritava por mim em seu lamento de urso, em suas pelúcias sofridas. mas minhas mãos não se moviam para a aranha.
Estava congelado, congelado, e o gelo que me tomava vinha da geladeira, deviam ser os tomates, verdes e suculentos que eu deveria ter comido no almoço. Seria vingança? Os tomates se vingando de não terem sido comidos, o que faço? Como parar esse gelo? Talvez fogo. Meu coração grita de anseios pelo fogo. Um ser infernal adentra então meu quarto, o fogo de seu corpo derrete o gelo, então movo minhas mãos e posso pegar o urso, mas ele não está mais lá. ficou no seu lugar apenas um bombom, um bombom verde listrado que parece me pedir para colocá-lo na boca.
Lembro dos tomates e como o bombom, deixando sua frieza glacial invadir meu hálito, minhas boca congela, ratos saem de todos os lugares ao mesmo tempo, querem me tomar o bombom, mas eu não deixo. Seguro na pata do meu elefante voador e fujo daquele lugar, esqueço o urso, que a aranha cuide bem dele.
As orelhas do elefante me erguem nos ares, isso até as borboletas as devorarem, as orelhas do pobre animal são como néctar de flores cristalizado. O elefante cai, eu caio com ele. Sou salvo pelas aves. Elas me pegam pelos ombros, mas não é para o meu bem, querem devorar meu fígado. Rompem meu abdome e devoram meu fígado, que sempre se renova. Eu grito, e meu grito atinge um avião que passava ao larga, fazendo com que todos os ursos que nele viajavam caiam pelos céus.
As aves querem fígado de urso, eu aproveito e entro na lanchonete. Peço um tomate para comer, mas o sapo que atendia me lança no mar da solidão, ele não gosta de tomates. Eu fico então em meio a toda aquela areia, além de mim, apenas lobas dançarinas das estepes cantam Elvis. Mas Elvis morreu, seus ossos devem estar chacoalhando em algum lugar.
A areia tem raiva de mim, queima meus pés e as pipocas voam cada vez mais alto, caem por sobre mim e de repente estou também no óleo quente. Aquilo me queima, queima tanto que tomo um aguardente no bar da esquina e digo que quero ir para casa, mas ninguém deixa, pois a partida de poker ainda não acabou. Eu não jogo poker, mas ninguém liga para isso pois a raiz quadrada do comprimento da mesa de sinuca não chega a soma do quadrado dos catetos da porta de saída.
Tento organizar minha mente, então um imenso coelho rosa tenta varrer minha cabeça, mas disso não preciso, o bar começa a ficar pequeno, muito pequeno, é minha barriga de cerveja, que não para de crescer. Desisto, vou sair desse bar e que a raiz cateta dos quadrados triangulares se vire por conta própria. Pulo então na avenida, o imenso carro passa por cima de mim, não morro porque por alguns instantes eu viro desenho animado, levanto e continuo a sambar.
É carnaval, isso é carnaval, deve ser por isso que todos os tomates andam tão expertos. Onde andam meus tomates? Onde? É hora do mela-mela, preciso jogar eles em alguém.