Superação

Pedia perdão aos dispersos e atentos, pela melancolia congênita que distribuía aos convidados. E a fragilidade revoltante que a sua aparência evocava. Era o seu imã natural, uma espécie de feitiço lançado pela vulnerabilidade. Através do estranhamento conquistava os seus – e depois coroava a aparência fraca revelando derrotas, enquanto dava a entender que não teria estrutura para também suporta desventuras alheias, garantindo então o próprio desapego aos problemas que não lhe convinham.

O que se estabelecia em seguida era uma espécie de perseguição desenhada em forma de caricatura, pela força da recorrência. O forte corria atrás do fraco a fim de provar a própria superioridade à custa das tristezas alheia. Buscava derrames desiludidos feito a cruz que persegue o cristão. Prejudicavam-se em busca de um novo olhar-nos-olhos daquele que parecia estar sobre o leito, aguardando o fim do penar. Esqueciam-se da liberdade para ser feliz sob o peso dos bons sentimentos dispensados a um infeliz. Tentavam encontrar a redenção através do castigo de sofrer feridas que não tinha.

Eram todos pobres coitados, aqueles convidados. Uma salva de encantados pelo pranto de um desgraçado, convicto e bem amparado, que não abria mão de lamentar tragédias inventadas. Via na solidariedade que recebia alguma forma de afirmação e no desabafar das próprias tristezas uma espécie de superação.

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Assiz de Andrade
Enviado por Assiz de Andrade em 16/04/2011
Código do texto: T2912436
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