São Jorge Sitiada

São Jorge Sitiada

Cheguei aqui tem quatro horas, perdi quase toda a minha bagagem, tive ajuda de gente que eu nunca vi, ajudei gente que eu nunca vi. Eu vi pessoas morrerem, eu vi desespero, miséria, tumulto, caos no transito. Isso seria normal em uma cidade grande se não fosse os estranhos obeliscos negros do tamanho de um prédio de quarenta andares que emergiram da terra e criaram uma espécie de barreira negra que cobriu o céu. Eu me chamo Hector e eu deveria ter ficado no interior.

--------------------------------------------------------------------

São Jorge é a terceira maior cidade do Brasil, perdendo apenas para São Paulo e Belo Horizonte. Fica situada entre o Mato Grosso e O Mato Grosso do Sul. É uma cidade bonita, com muitas oportunidades de trabalho devido ao agronegócio da região. Tem os problemas de toda grande cidade, mas hoje ao meio dia estranhos objetos pontiagudos surgiram do chão e se elevaram até as alturas dos prédios, causando a primeira onda de pânico a partir do momento em que o céu foi coberto por uma estranha camada negra que impede parcialmente a entrada da luz.

A população está apavorada, os celulares caíram e a internet não funciona, aquelas que tentaram atravessar a estranha muralha que se erguia do chão até o céu e cobria a cidade como uma redoma, acabaram mortos do outro lado. O caos se instalou, a lei se foi e se passaram apenas quatro horas. A situação se complicou e uma segunda onda de pânico aconteceu.

De dentro dos objetos que causaram o choque inicial homens com aspecto de insetos começaram a sair de dentro dos obeliscos e a matar as pessoas. O exercito que permanecia pouco organizado começou um ataque as estranhas criaturas e as estruturas das quais elas saiam. Por sorte dos habitantes havia uma pequena instalação militar na cidade que foi eficiente até certo ponto. Depois dos combates que duraram três dias sobraram poucos humanos e poucos insetos. Agora começa uma luta pela sobrevivência dentro da cidade. O Exercito foi derrotado, os insetos perecem que estão desorientados, sem o sol em plena força a temperatura baixou bastante, a comida começou a ficar escassa.

E nesse momento Hector se encontra a quatro dias em uma cidade grande correndo pelos becos de dois insetos.

O rapaz do interior é esperto, durante dias evitou esses seres, mas hoje não deu; hoje ele não conseguiu. A perseguição continuou pelos becos até chegar a uma rua deserta, agora ele estava em campo aberto. E nessas horas a gente começa a pensar que as coisas poderiam ter acontecido diferentes, que eu deveria ter escutado minha mãe, e que eu vou morrer. Mas existem pessoas que não pensam assim nessas horas, existem pessoas que são mais fortes, que seguem em frente e Hector é uma dessas pessoas.

O rapaz correndo se abaixou e pegou um pedaço de ferro deu fim a sua corrida ficando de frente para as duas criaturas. Elas também pararam e ficaram olhando para o jovem. Elas correram para cima do rapaz que começou a se esquivar das mãos das criaturas e com uma habilidade até que inesperada pelos seus agressores ele se abaixou e rolou por entre eles e do outro lado ainda agachado desferiu um ataque com ao pedaço de ferro no que seria o joelho esquerdo do inimigo que estava a sua esquerda.

Dor é dor, quando você agride alguém você sabe que machucou, e Hector naquele momento percebeu que conseguiu.

A criatura fez um barulho horrível, parecia um barulho de grilo, porem foi curto e grosso. Enquanto a outra voltou a investir contra o jovem que ainda agachado levantou-se atacando com a ponta do pedaço de ferro entre o pescoço e o ombro do inseto perfurando-o e fazendo-o recuar. A mesma que sofrera o impacto no joelho passou pela sua companheira e pulou sobre Hector que já de pé deu um passo para a direita deixando o ser cair de costas no chão e sem piedade ele cravou o pedaço de ferro na nuca da criatura que depois de se debater uns segundo parou totalmente.

A segunda criatura olhou como se sentisse a dor da perda de um companheiro, ou talvez realmente tenha sentido a morte dele. As criaturas não pareciam muito inteligentes e intimidação não funcionava, mas mesmo assim Hector colocou o pé obre a cabeça da criatura caída e retirou o pedaço de ferro e o apontou para o agressor que sobrara como se através do gesto falasse que ela seria a próxima. A criatura não se fez de covarde e investiu novamente e como se fosse um rebatedor de beisebol Hector acertou em cheio a cabeça insectóide da fera fazendo-a tombar com o crânio aberto.

Ao terminar ele segurou firme o pedaço de ferro e saiu correndo como se não quisesse saber se os seus perseguidores teriam mais amigos. Novamente ele se embrenhou nos becos desconhecidos para ele e na penumbra da tarde ele se foi.

--------------------------------------------------------------------

Hoje eu fui perseguido por dois insetos. Há quatro dias eu saia de casa para tentar a sorte grande na cidade grande, estou sem comer a horas e os biscoitos que eu estava racionalizando acabaram. Acho que vou ter que roubar, apesar das lojas não terem ninguém ainda assim me sinto mal. Eu me sinto mal com tudo aqui. Eu não to acreditando nisso tudo, mas tá acontecendo. A minha vontade é gritar, mas se eu fizer isso vou chamar atenção demais. Tem dois dias que eu não durmo. Matei dois insetos na base da pancada e da loucura. Cada hora que passa eu sinto que eu deveria ter ficado no interior.

Hector avista uma escada de madeira no chão e decide pega-la e colocá-la em uma janela. Ele sobe receoso e quando entra pela janela puxa a escada para dentro. Ele verifica o quanto e nota algumas roupas caídas, uma cama desarrumada e percebe que a porta está aberta , dando em um corredor. Era um pequeno quarto com uma cama, um sofá de dois lugares, uma TV, um frigobar e por resto uma escrivaninha com a cadeira.

As chaves ainda estavam na porta. Ele as pegou e trancou a porta, fechou a janela, pegou uma garrafa de água mineral no frigobar e bebeu.

Colocou o pedaço de ferro que o auxiliou contra os insetos do lado da cama e deitou. Não passou muito tempo e o sono havia chegado e o silêncio e a paz reinava pelo menos dentro daquele quarto.

Continua em outras histórias de São Jorge Sitiada...