Vaidoso da própria voz

A cena se passou no Diretório Acadêmico Ruy Barbosa, da Faculdade de Direito Cândido Mendes, na Praça XV, no Rio de Janeiro, ano 1961.

Os universitários, mais uma vez, ouviam atentos o discurso inflamado do colega Benito. Discursava muito bem e parecia que ele pedia sempre a palavra para exercitar-se no discurso. Afinal, diziam, o profissional do Direito vive da palavra.

Tinha uma voz belíssima, quase um tenor, o som ressoava como música nos ouvidos da plateia.

Mas no quarto aparte seguido do Benito, que, então, não parava mais de falar, eis que um outro colega interveio e gritou para todo mundo ouvir: “ Colega Benito, não aguento mais ouvi-lo, assim não é possível, está usando e abusando da palavra”. Benito, empolgado, rebateu o aparte e continuou... Novamente soou aquele vozeirão encantador. Foi nesta hora que outro aluno conseguiu acabar com a empolgação do Benito. Pediu um aparte e sacou:

- O colega Benito não para de falar porque ele é enamorado da própria voz. Ele não pede a palavra para dar algum recado importante, ele pede a palavra, colegas, só para ouvir a sua voz! É um verdadeiro Narciso, não de sua imagem, mas da própria voz.

Deu-se o inesperado e a reunião acabou abruptamente. Sonora gargalhada geral se ouviu por todo o corredor do terceiro andar do vetusto prédio da Cândido Mendes.