A Confissão de Sharpe - Conto prelúdio para vampiro à Máscara

Meu nome é William Sharpe, eu sou um monstro.

Vou contar a você a minha história. Muitas coisas você não vai entender mas não importa. Você só precisa ouvir, dizer suas palavras em latim e dar a minha penitência.

Não peço que me absolva por que não quero absolvição

Quando meu momento chegar, quero receber tudo o que mereço.

Eis a minha Historia.

Ninguem se lembra de mim, não pelo meu nome de batismo.

Vim ao mundo em 1780 em um vilarejo chamado St Patrick Hill, hoje localizado na Irlanda do Norte. Minha familia era pobre, meu pai um soldado aposentado bêbado e minha mãe uma pastora. Deixei minha casa aos 16 anos depois de uma surra e nunca mais voltei. Atravessei o mar celta e fui para Gales, onde me alistei no exercito britânico e fui enviado para o Egito, para combater Napoleão. Não vou me alongar com historias sobre a guerra, mas saiba que vencemos. Em 1801, os franceses capitularam e eu minha guarnição foi designada para a proteção e pacificação de Alexandria e foi lá que minha historia realmente começou.

Eu conheci Carl num dos bordéis da cidade de Alexandre. Eu, como sempre, estava bêbado e havia gastado praticamente o meu soldo inteiro com mulheres e jogo. Eu era jovem e não tinha as cicatrizes que tenho hoje mas nunca fui bonito. As mulheres se deitavam comigo apenas pelo dinheiro. Nunca tive sensibilidade para dirigir palavras doces, escrever poesia, ou qualquer coisa que as agradasse. Eu era um soldado e matar era a unica coisa que eu sabia fazer. Mas eu fazia isso com rigor profissional.

Eu estava entre três homens, evitando os seus golpes e rindo copiosamente do seu jeito desajeitado de lutar. Até que me cansei e os derrubei com sequencias de socos e garrafadas. Carl veio até mim e disse que me mostraria o sentido da vida se eu conseguisse lhe acertar um soco.

Rí daquele homem. Ele era ruivo, com uma barba rala sobre o rosto, tinha um sotaque alemão ou norueguês... pelo menos foi o que eu pensei na hora. Achei que ele estava bebado por falar aquela asneira e aceitei cegamente o desafio. Tentei acertá-lo por várias vezes mas ele evitou todos os meus golpes e me derrubou com um tapa no rosto.

Mal tomei ciência da minha queda e percebi que ele estava sentado ao meu lado rindo da minha lentidão. Nesse momento acertei seu rosto com um soco.

Ele me olhou e abriu um sorriso dizendo.

-Dissoluto, Louco e traiçoeiro! justamente o que eu procurava.

Então, não me lembro de mais nada.

Acordei dentro de um caixão e tinha gosto de sangue na boca. A respiração era dificil, havia um corte nos meus pulsos mas estranhamente eu me senti mais forte do que nunca. Ergui a tampa e percebi que estava num quarto escuro. Tateei na escuridão até encontrar uma porta a atravessei. O ar era denso no novo ambiente. Senti quase como se estivesse mergulhando em uma piscina. O cheiro de insenso me deixou tonto como se tivesse consumido ópio. No centro da sala, Carl estava nú, com uma jovem em seu colo. Ele estava com o rosto afundado no pescoço da garota, que gemia e parecia estar em extase. Haviam outros na sala, eles estavam ajoelhados e observavam Carl e a garota. Me perguntei o porque daquilo mas quando Carl ergueu o rosto e olhou em minha direção, senti minha vontade ser esmagada e fui compelido a me ajoelhar também.

Ele deixou a jovem de lado, se ergueu e levantou a todos uma taça de ouro.

Olhou para o teto e recitou as seguintes palavras.

Saúdo, tu, senhor das estrelas desconhecidas.

Serpente rei, do trono do deserto.

Guerreiro dos ventos negros!

Portador da loucura, duque dos sonhos.

À Ti entoamos nossos hinos de exaltação em gritos noturnos,

Oh, fonte de mistérios e sombrio destino.

Senhor das tempestades e dos raios negros!

Mestre das tumbas inquietas

Eu te chamo, para fora de tua escuridão!

De tuas feições levanta o capuz!

Revela a justiça na infração!

Revela as sombras dentro de cada um de nós

Alimenta a chama das luxúrias e paixões secretas

Uiva novamente as profecias da morte e inferno -

Profecias à mim contadas e que ecoam pelas gerações

Deus Negro, liberta minha alma da prisão de sempre

E concede-me uma fé que não falhará,

Saúdo, imortal Set, pai de todos.

Então ele bebeu o conteudo da taça e eu percebi que era Sangue. O Meu sangue.

A forma de Carl se desmanchou e em segundos eu via apenas uma serpente negra sibilar e se mover entre os servos que sussurravam palavras em egipcio e grego.

Eles veneravam Carl, como se ele fosse o próprio Set.

Não conseguia acreditar no que vi e não podia me mexer. Nesse momento eu ví que minha vida não seria nunca mais a mesma. eu estava diante de um louco, um monstro que queria a minha alma.

Carl me manteve como lacaio por 15 anos. Me ensinou as artes de combate setita e me obrigou a servir com a Legião de Wepwawet. uma facção dos seguidores de set que supostamente são liderados por Wepwawet, o filho guerreiro do deus negro. Carl estava em dívida com um dos líderes da facção e me prometera como pagamento. Aparentemente, meus serviços foram apreciados e no 15º ano, Carl me transformou no que sou hoje. Naquela noite, minha percepção do mundo mudou. As cores perderam o significado para mim. o mundo se tornou cinza. Meus sentidos mudaram. agora eu sentia cheiros que sequer sabia que existiam. Então Carl deixou Alexandria e seguiu para a Europa.

Servi durante um século com a legião de Wepwawet e ganhei algum respeito entre seus membros, apesar de minha ascendencia irlandesa. Com a primeira guerra mundial, fui enviado à Turquia onde combati os otomanos e assamitas junto com exercito inglês e seus aliados. Vencemos, mas a retaliação dos assamitas foi violenta e templos setitas foram queimados. Voltei para Alexandria e vi o começo de uma nova guerra com os exercitos de Rommel derrotando os ingleses na África. E foi em El Amein, quando os alemães conheceram a derrota que minha morte em vida foi mudada definitivamente.

ví Carl à frente de soldados alemães. Ele ajudava nossos inimigos, inimigos do Egito e comandou o massacre de vários membros da Legião de Wepwawet.

Os setitas lutavam dos dois lados da guerra e aparentemente o clã sabia. Aquilo “fazia parte dos planos”

Senti desgosto ao saber a verdade. Não havia honra em combater com aqueles homens. Não havia honra em Carl, nem na maioria do Clã.

Meu batalhão e eu nos juntamos aos setitas que deixavam o clã e se uniam ao sabá.

A partir daquele momento, me tornei um Serpente da Luz e abandonei o culto ao Deus Negro.

Agora eu pertencia à Espada de Caim.

Carl me repudiou pela minha decisão e desde aquele dia tenho pesadelos com ele me caçando.

Sei que ele me observa. De alguma forma ele destila seu rancor e um dia sei que ele virá me confrontar.

Que venha. Estou a sua espera.

Oh. Sim, perdão. Deixe-me voltar à minha historia.

Estando no sabá, logo me afiliei à Mão negra e fui designado como membro nômade na Europa oriental.

Lutei na Iugoslávia, na Bósnia e vi de perto a fúria dos Lupinos contra baba yaga e seu séquito. Vi a cortina de sombras ser derrubada e simplesmente anotei toda a informação que pude e enviei à seita.

Me ordenaram que eu atuasse como uma sombra, e uma sombra foi o que eu me tornei.

Eu sigo a trilha do guerreiro e com ela mantenho a minha besta afastada.

Faço meu serviço sem questionamentos e sirvo à poderosa mão e à Caim.

Mato por que a morte faz parte da vida

é o outro lado da moeda

Você não deve temer a morte

ela chega para todos

chegará para mim

e hoje

ela chegou para você.

Não Padre, não pense que você vai conseguir fugir.

Não adianta.

Escolhi você, sua vida não vale nada. Você é tão pevertido e corrupto quanto Carl.

Eu bem sei que você é um lacaio de Mephis, aquela serpente nojenta.

Sei o que você faz com as crianças que supostamente você deveria ensinar as leis do seu Deus.

Você é um verme e por isso vai morrer.

Seja forte e não tema, não faça com que eu me arrependa de te-lo escolhido.

O sangue dos covardes nunca me sacia.

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Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 21/03/2011
Reeditado em 26/01/2012
Código do texto: T2860929
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