BEBIDA DOS DEUSES
Certo dia, estava sozinha perdida sem rumo, caminhava numa estrada chuvosa e escura, sem saber bem onde pisava e o que buscava, já havia tropeçado tantas vezes e sentia frio.
Cansada me debrucei sobre uma pedra na beira de um imenso pântano obscuro, e ali chorei sem conter as lágrimas, meu desejo era adormecer para sempre, o choro durou por muitos dias, até cessar as últimas gotas de lágrimas, fazendo transbordar aquele pântano, já não havendo mais choro, meu corpo transpirava sangue, sem forças submergi na escuridão profunda, talvez por horas, meses ou anos.
Num belo fim de tarde fui despertada com um suave toque, e servida por uma bebida doce. Frágil ainda desfalecida não hesitei a beber, naquele instante comecei a ver um brilho intenso que dificultava o abrir dos meus olhos, só sentia um calor afável que percorria meu corpo e ao mesmo tempo um refrigério que abrandava meu coração. Ainda com os olhos fechados, e respiração profunda, eu permitia que aquela luz entrasse em minha alma e fizesse festa, pois a percepção era agradável, gentilmente consentida, com sensação de prazer e transformação.
A partir daquele momento deparei-me com asas. Hoje eu sei, sou privilegiada, pois saboreei a bebida dos deuses e agora posso voar, ver novos rumos, avistar as flores, passear como os pássaros, sentir a brisa das manhãs, sobrevoar acima das nuvens e mares, e avistar o pôr-do-sol, e a delícia de viver sem temer as sombras.