“Só enquanto caminhamos, notamos o quão frágil podem vir a serem os nossos sonhos, onde em meio as nossas lutas, muitos acabam se perdendo no caminho, outros esquecidos e outros acabam não passando de sonhos e quando nos damos conta, já não existe caminho a nossa frente e mesmo assim, seguimos caminhamos, sem saber para onde ir… Mas basta um sinal, um algo trazido pelo acaso, para que o caminho volte a nossa frente, trazendo os nossos sonhos de volta e assim, nos permitindo seguir novamente”.
Caminhando com minha câmera de mão, busco na natureza algo que me traga de volta a inspiração, algo que me traga novamente algum sentido nisso tudo. Fotografar sempre foi a minha vida e desde que o amor foi embora, parece que a minha vida foi junto, levando minhas imagens e lembranças com ele. É incrível como ao nos entregarmos a algo, nossa vida acaba que sem percebermos, se ligando a isso mais do que deveria, como se apostássemos tudo o que temos numa só escolha e quando perdemos, percebemos que nada realmente tivemos em meio ao nada que nos restou e no meu caso, a lente foi o que me sobrou.
Sobre a lente, um senhor já idoso espalhando pedaços de pão sobre a praça, enquanto os pombos se aglomeram bicando cada migalha sobre o chão. Logo é possível ouvir o canto da andorinha, que levanta vôo buscando no horizonte a sua liberdade, enquanto um beija flor plana sobre o ar com suas pequenas asas, buscando de flor em flor uma brevidade de prazeres. Alguns sonhos tão distantes, outros tão perto e os meus assim, tão inconstantes.
Enquanto eu focava a minha lente em cada momento, pude sentir um vulto passar por sobre a lente, me assustando e quebrando totalmente o meu foco… Me recompus e olhei de um lado para o outro, mas nada parecia ter passado a minha frente e por sorte, o susto me fez clicar e gravar a imagem e seja lá o que tenha sido, passou muito rápido, pois nem a minha câmera capaz de frisar o bater de asas de um beija flor, fora capaz de focá-lo, só o que ficou visível, foi uma espécie de asas brancas um pouco embaçadas, o que indicava ser apenas um pássaro.
De repente, todos os pássaros ali presentes levantaram vôo seguindo um só rumo, até pousarem sobre um chafariz em forma de anjo no centro da praça, resultando numa linda imagem que eu não poderia deixar de gravar e ao focar a lente naquela direção, tive a maior das surpresas, onde através da lente, pude ver um rapaz de cabelos negros e pele clara sentado de costas para mim e o mais incrível, é que em suas costas, havia uma espécie de asas brancas… Achando aquilo uma loucura, voltei a olhar para ele sem a lente e ele desapareceu e ao focar novamente com a lente, lá estava ele… Um anjo.
Os pássaros pareciam gostar da sua presença, pois cantavam a sua volta e ninguém além deles e da minha lente pareciam poder enxergá-lo então, eu procurei me aproximar sem deixar que ele desconfiasse de algo, usando a presença dos pássaros como o meu foco principal e enquanto focava minha lente sobre eles, eu podia vê-lo… tão lindo, tão sereno… até que parei e me sentei ao seu lado. Muitas coisas me vieram em mente, aquilo tudo parecia loucura e ao mesmo tempo tão real… um sonho eu diria, tão real quanto à luz do dia… Até que não agüentei mais e disse em tom baixo:
“Sei que está aqui entre nós”
Minhas palavras mesmo em tom baixo pareceram ecoar sobre a praça, espantando todos os pássaros ali presentes, que passaram a voar de forma desordenada em volta do chafariz e logo como se fossem me atacar, passaram a voar todos a minha volta, até que a minha câmera disparou o flash fazendo-os se refugiarem sobre as árvores e quando o meu campo de visão novamente se abriu, eu o busquei com a minha lente e foi aí o meu desapontamento, pois ele já não estava mais lá então, desesperadamente eu o busquei em cada canto, mas não o encontrei.
Em meio a isso, olhei de um lado para o outro e vi todas as pessoas seguindo com as suas vidas como se nada tivesse acontecido, andando pela praça; sorridentes, apaixonados e felizes… Confesso que me senti um pouco tola, onde o acaso então mais uma vez se fez presente e por um breve momento, me fez acreditar em algo que talvez nunca tivesse existido realmente e mais uma vez o impossível me fugiu, levando embora a minha inspiração e quase a minha sanidade… Essa ansiedade de superar o passado acaba sempre fazendo eu me apegar demais aos momentos que o acaso me oferece… acho que é hora de eu seguir realmente, me deixar levar pelo tempo, sem medo de para onde ele possa me levar, desde que me leve adiante, pois eu sozinha não consigo mais. Levei as mãos até ás águas claras do chafariz para molhar o rosto, até que um pássaro pousou sobre a borda segurando em seu bico uma pena branca que caiu sobre a água… Não era uma pena comum, seu branco brilhava junto à luz e ela emanava um perfume de flores, quase que como um jardim inteiro numa única pena que parecia atrair os pássaros e ao segurá-la, senti pousar uma borboleta azul sobre o meu ombro, até que ao olhar por sobre a lente, fui guiada por um raio de sol, que me trouxe novamente a sua imagem, com um sorriso sereno a minha frente. Ele então estendeu as suas mãos e eu não consegui oferecer qualquer resistência, pois a sua presença me acalmava de certo modo… Ele tocou a minha câmera fazendo a lente perder totalmente o foco e em meio a um sorriso sereno ele desapareceu novamente e quando eu já duvidando da minha própria sanidade, uma voz doce e suave sussurrou leve em meus ouvidos:
“Acredite”
Sua voz me calou fundo, tocou minh’alma e eu então fechei os olhos desejando acordar daquele sonho, respirei fundo até poder ouvir a brisa balançar as folhas das árvores e beijar minha a face com um leve perfume de flores. Logo o perfume se espalhou a minha volta, até se focar num só ponto caloroso a minha frente, foi quando notei que era ele… eu podia senti-lo mesmo não o vendo, mas mesmo com os olhos fechados, via uma certa luz, como quando olhamos para o sol de olhos fechados e aquela luz aos poucos foi ganhando forma, até que eu pude enxergar perfeitamente os seus traços.
“Um momento às vezes dura mais que um simples momento... Como se o tempo parasse e em meio ao êxtase, não quisesse passar e esse fora com certeza um desses momentos”.
Ele então devolveu o foque da minha lente e ao olhar nos meus olhos, me trouxe respostas, limitadas, mas respostas, onde me fez perceber que toda a minha fé, toda a minha vida, toda a minha essência estava escondida sobre a minha lente, que passou a ser o meu refúgio, isso por os meus olhos terem perdido a fé em meio a experiências frustradas e a câmera de alguma forma passou a ser o meu placebo ou a minha desculpa para seguir, mas de uma forma limitada e agora, o meu caminho está de volta, eu já posso vê-lo a minha frente… Como um horizonte que se abriu, me fazendo ir além de onde a lente tem me levado então, eu abri os olhos e ele estava ali, lindo e tão perfeito aos meus olhos nus… Então sorri e ao pegar a minha lente para fotografá-lo, ao tentar focá-lo, ele já não aparecia mais sobre ela e ao olhar para ele sem a lente, ele havia desaparecido junto ao seu perfume que envolvia todo o ambiente… Abri então a minha mão e a sua pena branca ainda estava ali intacta, mantendo viva a minha fé.
(Felipe Milianos)
Imagem via google/cuboredondo
Caminhando com minha câmera de mão, busco na natureza algo que me traga de volta a inspiração, algo que me traga novamente algum sentido nisso tudo. Fotografar sempre foi a minha vida e desde que o amor foi embora, parece que a minha vida foi junto, levando minhas imagens e lembranças com ele. É incrível como ao nos entregarmos a algo, nossa vida acaba que sem percebermos, se ligando a isso mais do que deveria, como se apostássemos tudo o que temos numa só escolha e quando perdemos, percebemos que nada realmente tivemos em meio ao nada que nos restou e no meu caso, a lente foi o que me sobrou.
Sobre a lente, um senhor já idoso espalhando pedaços de pão sobre a praça, enquanto os pombos se aglomeram bicando cada migalha sobre o chão. Logo é possível ouvir o canto da andorinha, que levanta vôo buscando no horizonte a sua liberdade, enquanto um beija flor plana sobre o ar com suas pequenas asas, buscando de flor em flor uma brevidade de prazeres. Alguns sonhos tão distantes, outros tão perto e os meus assim, tão inconstantes.
Enquanto eu focava a minha lente em cada momento, pude sentir um vulto passar por sobre a lente, me assustando e quebrando totalmente o meu foco… Me recompus e olhei de um lado para o outro, mas nada parecia ter passado a minha frente e por sorte, o susto me fez clicar e gravar a imagem e seja lá o que tenha sido, passou muito rápido, pois nem a minha câmera capaz de frisar o bater de asas de um beija flor, fora capaz de focá-lo, só o que ficou visível, foi uma espécie de asas brancas um pouco embaçadas, o que indicava ser apenas um pássaro.
De repente, todos os pássaros ali presentes levantaram vôo seguindo um só rumo, até pousarem sobre um chafariz em forma de anjo no centro da praça, resultando numa linda imagem que eu não poderia deixar de gravar e ao focar a lente naquela direção, tive a maior das surpresas, onde através da lente, pude ver um rapaz de cabelos negros e pele clara sentado de costas para mim e o mais incrível, é que em suas costas, havia uma espécie de asas brancas… Achando aquilo uma loucura, voltei a olhar para ele sem a lente e ele desapareceu e ao focar novamente com a lente, lá estava ele… Um anjo.
Os pássaros pareciam gostar da sua presença, pois cantavam a sua volta e ninguém além deles e da minha lente pareciam poder enxergá-lo então, eu procurei me aproximar sem deixar que ele desconfiasse de algo, usando a presença dos pássaros como o meu foco principal e enquanto focava minha lente sobre eles, eu podia vê-lo… tão lindo, tão sereno… até que parei e me sentei ao seu lado. Muitas coisas me vieram em mente, aquilo tudo parecia loucura e ao mesmo tempo tão real… um sonho eu diria, tão real quanto à luz do dia… Até que não agüentei mais e disse em tom baixo:
“Sei que está aqui entre nós”
Minhas palavras mesmo em tom baixo pareceram ecoar sobre a praça, espantando todos os pássaros ali presentes, que passaram a voar de forma desordenada em volta do chafariz e logo como se fossem me atacar, passaram a voar todos a minha volta, até que a minha câmera disparou o flash fazendo-os se refugiarem sobre as árvores e quando o meu campo de visão novamente se abriu, eu o busquei com a minha lente e foi aí o meu desapontamento, pois ele já não estava mais lá então, desesperadamente eu o busquei em cada canto, mas não o encontrei.
Em meio a isso, olhei de um lado para o outro e vi todas as pessoas seguindo com as suas vidas como se nada tivesse acontecido, andando pela praça; sorridentes, apaixonados e felizes… Confesso que me senti um pouco tola, onde o acaso então mais uma vez se fez presente e por um breve momento, me fez acreditar em algo que talvez nunca tivesse existido realmente e mais uma vez o impossível me fugiu, levando embora a minha inspiração e quase a minha sanidade… Essa ansiedade de superar o passado acaba sempre fazendo eu me apegar demais aos momentos que o acaso me oferece… acho que é hora de eu seguir realmente, me deixar levar pelo tempo, sem medo de para onde ele possa me levar, desde que me leve adiante, pois eu sozinha não consigo mais. Levei as mãos até ás águas claras do chafariz para molhar o rosto, até que um pássaro pousou sobre a borda segurando em seu bico uma pena branca que caiu sobre a água… Não era uma pena comum, seu branco brilhava junto à luz e ela emanava um perfume de flores, quase que como um jardim inteiro numa única pena que parecia atrair os pássaros e ao segurá-la, senti pousar uma borboleta azul sobre o meu ombro, até que ao olhar por sobre a lente, fui guiada por um raio de sol, que me trouxe novamente a sua imagem, com um sorriso sereno a minha frente. Ele então estendeu as suas mãos e eu não consegui oferecer qualquer resistência, pois a sua presença me acalmava de certo modo… Ele tocou a minha câmera fazendo a lente perder totalmente o foco e em meio a um sorriso sereno ele desapareceu novamente e quando eu já duvidando da minha própria sanidade, uma voz doce e suave sussurrou leve em meus ouvidos:
“Acredite”
Sua voz me calou fundo, tocou minh’alma e eu então fechei os olhos desejando acordar daquele sonho, respirei fundo até poder ouvir a brisa balançar as folhas das árvores e beijar minha a face com um leve perfume de flores. Logo o perfume se espalhou a minha volta, até se focar num só ponto caloroso a minha frente, foi quando notei que era ele… eu podia senti-lo mesmo não o vendo, mas mesmo com os olhos fechados, via uma certa luz, como quando olhamos para o sol de olhos fechados e aquela luz aos poucos foi ganhando forma, até que eu pude enxergar perfeitamente os seus traços.
“Um momento às vezes dura mais que um simples momento... Como se o tempo parasse e em meio ao êxtase, não quisesse passar e esse fora com certeza um desses momentos”.
Ele então devolveu o foque da minha lente e ao olhar nos meus olhos, me trouxe respostas, limitadas, mas respostas, onde me fez perceber que toda a minha fé, toda a minha vida, toda a minha essência estava escondida sobre a minha lente, que passou a ser o meu refúgio, isso por os meus olhos terem perdido a fé em meio a experiências frustradas e a câmera de alguma forma passou a ser o meu placebo ou a minha desculpa para seguir, mas de uma forma limitada e agora, o meu caminho está de volta, eu já posso vê-lo a minha frente… Como um horizonte que se abriu, me fazendo ir além de onde a lente tem me levado então, eu abri os olhos e ele estava ali, lindo e tão perfeito aos meus olhos nus… Então sorri e ao pegar a minha lente para fotografá-lo, ao tentar focá-lo, ele já não aparecia mais sobre ela e ao olhar para ele sem a lente, ele havia desaparecido junto ao seu perfume que envolvia todo o ambiente… Abri então a minha mão e a sua pena branca ainda estava ali intacta, mantendo viva a minha fé.
(Felipe Milianos)
Imagem via google/cuboredondo