MINHAS 7 VIDAS

Não necessariamente em ordem cronológica, pois sou ruim em cronologia e tenho preguiça de fazer cálculos.

Na primeira vez, lembro que a vida era muito difícil, mal havíamos descoberto o fogo e mulher tinha que ser disputada na porrada com os primitivos instrumentos de caça. Era muito frio e para encontrar uma mulher disponível era necessário andar dias e noites a fio. Claro que havia outras alternativas como uma cabra selvagem que precisava ser dominada. Seguidamente eu encontrava alguma ferida e me aproveitava, sabe? Não era mau, claro que depois ela virava churrasco porque a fome era maior que a tesão. Depois de certa experiência eu consegui domesticar uma delas. O pior que ela gostava e me perseguia o tempo todo. Lembro de certa ocasião em que um grandalhão barbudo corria atrás de uma bela fêmea que corria como uma gazela, claro que ela não estava a fim do dito cujo. Então eu joguei a clava, (deve ser esse o nome da pedra amarrada em uma vara) com toda a força. Ela rodopiou e o acertou na cabeça. Então a garota parou e docilmente obedeceu aos meus instintos. Carreguei-a para a caverna. Foi a minha primeira tentativa de constituir uma família. Claro que no começo a cabra ficava com ciúmes e dava um arranca rabo em família. Então virou churrasco. Era exaustivo caçar e proteger a mulher ao mesmo tempo. Acho que inauguramos as primeiras brigas conjugais, porque meu instinto de macho não permitia deixar escapar uma rapariga a fim de transar. Depois o bate boca só parava com um sopapo que a punha para dormir. Gostei da técnica e quando tinha uma fêmea avulsa eu primeiro a punha para dormir. Assim era mais tranqüilo. Logo a prole cresceu e naquela época não tinha isso de consangüinidade de formas que as filhas também entravam no pau logo que a idade permitisse. Em época de caça abundante a família aumentava com outras fêmeas adicionadas ao cardápio. Mas naquela época a longevidade era facilmente interrompida por uma briga ou um ataque. Um belo dia fomos atacados por uma fera enorme, acho que era o que agora chamamos de tigre. Tentei lutar mas ele abocanhou o meu pescoço e deu uma sacudida. Ficou tudo escuro.

Acordei para uma segunda vida num vilarejo na região onde hoje fica a Inglaterra. Éramos explorados por um reizinho mandão que levava tudo o que colhíamos a pretexto de imposto. Mas, sabem o que eu fazia? Era cobrador de impostos. Claro que os impostos da família eu deduzia um pouco de cada um dos outros, desta forma a família progredia. O outro lado é que eu me aproveitava da profissão para ganhar mulher. Oferecia desconto, claro depois de aumentar o imposto devido. Fora as que eu ganhava sem mesmo dar desconto, na lábia mesmo.

Um dia, o rei foi para uma tal de cruzada. Então a jovem rainha liberou geral. Semanas depois que o rei partiu, veio a notícia, o monarca havia sido morto numa emboscada. Claro que de amante, virei marido da rainha, isto é o rei. Aliás adorei a coroa que me dava direito de dormir com cada donzela na noite de núpcias. Era lei. Isto às vezes me obrigava a dar conta de 3 na mesma noite. Depois baixei um decreto. Tinham que aguardar na fila. Por ordem de beleza. Foram anos de vida mansa até que uma revolta dos súditos descontentes com o aumento de impostos invadiu o palácio. Eu e a rainha, fomos feitos prisioneiros e queimados na fogueira.

Na terceira vez que me lembro eu era o pseudo eunuco que cuidava das esposas do marajá Al Rajadh. Pseudo eunuco, porque na verdade troquei de lugar com meu irmão gêmeo Al Jarro. Há! Meu nome aqui era Al Sabid, porque tudo aqui tem Al no nome. Eu ia muito bem, comendo uma por dia e a vida era maravilhosa. Até o dia em que uma delas ficou grávida. Aí a vaca foi pro brejo porque Al Rajad era bicha e tinha todo aquele acervo de fêmeas monumentais apenas pra despistar e manter a honra masculina dos Marájas, famosos por suas performances sexuais.

Me preparei para ser devidamente decapitado. Mas, para surpresa geral o marajá mandou me chamar em seus aposentos. Sua esposa numero 3, ( Se elas tinham nome, ninguém sabe. Cada uma usava um anel com um número) justamente a grávida estava deitada ao seu lado. Tremi nas bases.

– Como você ousa foder as minhas esposas e ainda por cima engravidar uma delas.– Tire a roupa!

Eu obedeci e tratei de proteger o instrumento de tal sacrilégio imaginando o pior ou melhor. Pior seria ser decapitado. Mas, pensando bem, de que adiantaria viver sem poder usar o que de melhor Alá reservou para os homens?

– Tire as mãos daí! Falou o marajá. Obedeci e seus olhos arregalaram-se ao examinar de cima a baixo o meu bem dotado membro. Ele soltou um suspiro e mandou que os criados se retirassem.

– Muito bem! Falou com uma voz quase feminina.

– Deite-se aqui! Já sabe o que tem que fazer. É isso ou a lâmina do carrasco.

– Sim meu senhor, mas tem um problema.

– Que problema?

– Não posso! Não com a número 3 olhando.

– Está bem. Fez sinal com a mão para que ela saísse. E agora? Droga! O cara era bicha, mas tinha cheiro de homem, ou melhor, fedor de homem, então nem com reza brava o treco seria capaz de levantar. Eu estava em maus lençóis. Então a bicha começou a chorar.

– Desculpe! Meu senhor, ou devo chamá-lo minha senhora. Eu não consigo.

– Está bem! Como castigo você terá que engravidar todas elas, não agüento mais a cobrança do pessoal, porque não tenho filhos. Mas tem uma coisa, terá que fazê-lo aqui na minha cama, ao meu lado. Problema resolvido agora ele havia achado um jeito. Eu dava conta da número x e depois atendia o bicha. Tudo ia muito bem, já havia 90 grávidas e ainda faltavam 110. Haja saco! Até o dia que ele descobriu que eu havia roubado um jarro de barro com 50 moedas de puro ouro. Aí, não teve jeito. Fui decapitado. Não é ruim, você só sente um thuum da lâmina e depois, bem! Ficou escuro de novo.

Quarta vez! De Al Sabid a Ohane, nasci em um vilarejo do caribe. Vivíamos basicamente da pesca. Meu pai tinha tanto filho que precisava carregar um papel com todos os nomes e idades pra não se atrapalhar. Aos 20 anos eu era o tipo sarado que faz as mulheres imaginarem as mais pervertidas fantasias. Claro que eu era o dono do pedaço. Nem as freiras do convento escapavam. Mas um belo dia em plena festa, festa para mim é claro eu estava degustando o mais cobiçado petisco da cidade, a filha do sacerdote prefeito do vilarejo houve uma invasão de um enorme grupo de piratas. Velhos, crianças e pessoas doentes foram sacrificadas. Nossas mulheres foram estupradas e mortas. As mais bonitas, aprisionadas como escravas. Claro que nesta leva nossos jovens, inclusive eu, fomos feitos escravos. Tudo o que havia de valor na ilha foi confiscado, ou melhor roubado. Fomos então acorrentados no porão imundo e fedorento de um navio pirata. Mas, nem tudo era sofrimento, pois minha corrente um pouco esticada alcançava com algum esforço uma das mais belas jovens e assim a virgem Carol deixou de ser virgem já que seria vendida para deleite de um dos filhos da puta privilegiados. A comida era uma gororoba que aposto tinha até carne de rato o que, aliás, não faltava a bordo, principalmente no fétido porão em que nos encontrávamos. Caí nas graças de uma gordona que trazia uma comida melhor, mas isso também era cobrado. Ela era tarada por sexo anal. Era a única mulher da tripulação e ficava claro o por quê. Cozinhava bem e quebrava o galho nas longas viagens. Meses depois aportamos em uma ilha da Jamaica onde fomos apresentados para leilão em praça publica. Surgiu uma figura incrível, uma mulher vestida como corsário com espada e tudo. Tinha mais anéis nos dedos do que o planeta Saturno. Pra minha sorte ela e um bicha vestido com aquelas roupas bordadas e aqueles chapéus com penachos, enfrentaram-se em um verdadeiro duelo pela minha posse.

Mais uma vez tive sorte, ela ganhou a batalha com o último lance de 40 moedas de ouro. Fala sério? Será que eu valia tudo isso? Claro, (pelo jeito que ela me examinava) percebi que tanto ela quanto o bichona estavam interessados em meus atributos masculinos mais do que por qualquer outra habilidade como serviçal. Bem, a mulher era do tipo faca na bota e uma tentativa de alguns palhaços em me arrancar de seu domínio, geraram o maior arranca-rabo com bofetões e tramar de espadas. Como não sou bobo ombreei com ela e mesmo com as mãos amarradas conseguia lutar o suficiente. Ela já havia deitado uns três ou quatro que estrebuchavam ao redor de nossos pés e um mais afoito atacou-me de espada em punho. Consegui esquivar-me e mandei um pontapé direto nos bagos, o que lhe tirou as forças o suficiente para curvá-lo e me apresentar a boca aberta. Mandei um sem pulo como aquele do futebol e bem, o dentista dele deve ter tido trabalho pra caramba. Finalmente chegamos ao navio da minha dona, dona,...? Teria que esperar que alguém lhe chamasse pelo nome. Morgan? Bem! Qualquer semelhança com a personagem de “A ilha da garanta cortada” terá sido mera coincidência, apesar da semelhança entre as duas. Para meu deleite esta era de carne e osso e que carne! Claro que para todos eu era seu escravo, mas e daí quem se importa? Eu é que não. Bem, no final da viagem ela estava apaixonada e eu também. Mas então ela resolveu atacar um pirata inimigo que vinha da Bretanha com os porões carregados de ouro pilhado em escaramuças e ataques a povoados indefesos. Para minha surpresa, a mulher era taticamente especialista em batalhas e não sobrou nada exceto o ouro, claro! Assim, passamos a viver uma vida digna do mais safado conto de fadas. Isto até o dia em que não resisti aos encantos de uma camareira recém comprada em um leilão dos tantos que haviam na época. Ela nos apanhou na cama e bem na hora do clímax, tive uma faca atravessando o pescoço. Só Lamento, não ter conseguido ejacular a tempo, pode?

Bem! A quinta vez, eu nasci em um berço de ouro. Meu pai era muito rico e mesmo que eu quisesse não conseguiria gastar toda a grana, mesmo que vivesse 100 anos. Não sei por quê, talvez por que geneticamente, nossos atributos nos acompanhem por várias existências, eu era novamente dono do pedaço. Mulher aqui, era como fruta na feira, eu apalpava, comia, cobria de dinheiro e mandava passear saindo imediatamente em busca de outra. E mulher não faltava. Então caí nas graças de uma mafiosa concorrente do meu pai. Claro, meu pai era da máfia e a lei seca nos Estados Unidos favoreciam o mercado negro enchendo cada vez mais os cofres do velho. Então ela mandou simplesmente um bando de gorilas me seqüestrarem. Depois de muita porrada, acordei em uma cela subterrânea. Claro que ela aproveitou para tentar extorquir dinheiro do velho que não deu a mínima.

– Puxa! Sabe? Se eu te matar o teu pai nem vai se importar. Então eu tinha que comer a coroa todo dia, pelo menos mantinha-me vivo. Já tava cheio de ter sempre o mesmo prato, dia após dia. Até o dia em que a filha dela veio me trazer comida. 18 aninhos e sedenta por virar mulher. A coroa trazia a garota em rédea curta, provavelmente guardando-a para um futuro casamento com o filho de algum mafioso rico. Claro que isto não incluía o meu pai. Não teve como resistir e eu tratei de fazer o serviço. Então, a polícia invadiu o local e a fuzilaria interrompeu o nosso idílio. Quando a fumaça se dissipou, estava todo mundo morto. Felizmente o carcereiro caiu junto a cela e nos permitiu uma fuga. Antes limpamos o que sobrou no cofre da falecida e viajamos de navio para o Brasil. Primeiro tive que garantir que aqui não havia onças e sucuris passeando pelas ruas. Viramos agricultores e tivemos uma filharada. Ela morreu de parto. O décimo terceiro. Fiquei só, cheio de filhos e sem dinheiro. Aí, mulher, nem pensar. Tive depressão e morri logo depois, de infarto.

Sexta vida, esta tem um lado estranho, devo ter nascido no futuro e não no passado. Na verdade nasci a bordo de uma nave espacial. Me chamaram de Borgh. Era um povo diferente e cresci estudando via telepatia. Isto é, eu estudava enquanto dormia. Como pra variar eu era um incorrigível mulherengo, eu estudava pouco porque dormia pouco. O sexo era liberado e não havia casamentos, ninguém era de ninguém e bastava convidar a parceira e dele festa. Meu genoma aqui adquiriu algo a mais porque desde os treze anos eu já mandava brasa. Havia outra diferença, aqui as pessoas não envelheciam. Assim você nem sabia se estava comendo uma garota jovem ou de 80 anos. Um belo dia as pessoas caiam e pronto. Eu era piloto de uma nave de combate, mas não havia a quem combater. Minha co-piloto tinha só16 anos e então a maior parte do tempo o piloto automático cuidava da nave e nós fazíamos o que mais gostávamos. Sexo, sexo e sexo. Foi uma das minhas melhores vidas até aqui. Além de viciado em sexo, eu tinha sorte.Tive 10 co-pilotos, todas, mulheres. O problema é que a ida é curta e no melhor da festa, lá vamos nós em busca do paraíso, não por vontade própria, mas por imposição do destino. Minha última parceira era ciumenta, algo que não existia naquele planeta. Ela queria exclusividade e diante da minha negativa, ejetou meu assento. La ia eu rumo ao infinito com oxigênio para mais uma hora. Foi uma morte horrível e jamais vou esquecer minha cara roxa e disforme refletida no visor do capacete.

Sabem o que mais me intriga, é o intervalo entre uma vida e outra. Não lembro de nada, é como se apenas dormisse um sono curto. Bem, agora estou ainda vivendo minha 7ª vida.

Nesta, nasci pobre e não pude estudar muito. Mas, me apaixonei pela fotografia. Fotografia de moda e naturalmente fotografia de mulher. Prá variar na sétima existência, meu DNA estava intacto. E novamente desde cedo eu era assediado. O que mudou foi o cardápio. O ser humano evoluiu de lá pra cá e nascer brasileiro foi uma dádiva. Em matéria de mulher bonita, estamos fora da globalização. A fotografia me proporcionava tanta mulher, que era difícil escolher. Tinha que ter uma agenda só pras mulheres e estava lotada de A a Z. Foi até aqui, uma vida pra ninguém botar defeito. No cardápio misses e top models. Mas, veio a idade e tudo foi ficando no passado. É a minha vida mais longa até aqui. Apesar da idade e de ainda estar em forma, mulheres jovens, só com grana. Mas e daí? Carinho de mulher tanto faz se for sincero ou falso. Não sei até onde agüento, mas quando não der mais, dou um jeito de partir para a oitava. Pena que só posso contar sobre esta, daqui mais duas gerações. Pelos meus cálculos faltam ainda quatro. Segundo o zodíaco, são doze. Isso me lembra que meu signo é o décimo segundo e os astrólogos dizem que peixes não reencarna mais.

Sendo assim, talvez eu consiga saber como é a vida eterna. Só espero que lá tenha bastante mulher. Tenho uma dúvida! Que nome terei como fantasma? Foram 7 diferentes.

Lauro Winck
Enviado por Lauro Winck em 02/03/2011
Código do texto: T2823725
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