Sabedoria dos antigos

Sabedoria dos Antigos

Esse fato ocorreu na década de 1950 - certo fazendeiro deixou a fazenda dele (Fazenda Acauê) aos cuidados de arrendatário e partiu com toda a família para outra fazenda, (Fazenda do Córrego) ali, ele alugou duas grandes casas, uma residencial e outra comercial, na qual, ele botou um armazém de compra de produtos gerados na terra, como café, tabaco, mamona e afins, por outro lado; vendia-se produtos de consumo, alimentos, ferramentas e outros.

- Este causo consta de dois personagens: um jumento que atendia pelo nome de Jirico e um filhote de cão que além de ser todo preto, atendia pelo nome, Preto.

- Jirico era um jumento muito miúdo (pequeno), mas muito forte, era usado na Fazenda Acauê, especialmente no transporte de água potável para uso na casa-grande e utilidades afins e é claro que esse jumento fora criado naquela fazenda e atendia com certo prazer as peripécias da criançada do lugar, que o montavam com ou sem encilhamento; todo sábado aquele fazendeiro que se chamava Tolentino, botava a carga de produtos agrícolas naquele jumentinho e dirigia-se à cidade afim vendê-los, no caminho para a cidade, que eram de doze quilômetros, fazia-se uma parada sempre no mesmo lugar e aquele jumento acostumou-se àquela parada rotineira para ligeiro descanso.

- “Lá na Fazenda do Córrego”, a vida do Jirico continuou na mesma rotina. Dois anos depois, aquele fazendeiro, Tolentino, ora comerciante, necessitou mandar um mensageiro à Fazenda Acauan, a levar remédio para o gado, ocorreu de não encontrar nenhuma pessoa conhecedora do caminho até àquela fazenda, então ele convidou um peão da região e mandou que selasse o Jirico e que se dirigisse a Fazenda Acauan com as seguintes instruções: daqui vá até a praça central da cidade, daí em diante solte às rédeas do Jirico que ele te levará direto à fazenda, são doze quilômetro da cidade até lá e ele fará uma parada em certo lugar para descanso, aguarde alguns minutos e siga a viagem, onde ele parar é a Fazenda Acauan, aproveite o resto do dia para descansar e retorne no dia seguinte. E assim foi que o pequeno Jirico levou um mensageiro que desconhecia o caminho a um local d’onde a distância era de vinte e quatro quilômetros.

- Preto era um cãozinho de um mês de idade e na mudança; percorreu vinte e quatro quilômetros sob uma carga em uma besta que fazia parte de uma tropa destas para o transporte da mudança da Fazenda Acauan para a outra, ali na Fazenda do Córrego, ele fora criado e viveu naquela fazenda por quatro anos até que o dono resolveu retornar a cuidar da própria fazenda e a deixar os negócios por conta do novo proprietário, ali, na Fazenda do Córrego, o preto cresceu e se revelou ótimo caçador, tanto que um vizinho chamado Crosueldo o levava sempre para o mato em busca de caça: (caça; animais silvestres) – é bom observar a amizade entre o cão e o caçador, isso porquê, no dia da mudança do Tolentino para a fazenda dele, ele contratou um caminhão que levou todos os pertences e é claro aquele cão chamado Preto, cujo viajou em meio a carga; a saída do transporte deu-se por volta da meia-noite e ao chegar à fazenda Acauan, Tolentino pensou: esse cão percorreu vinte e quatro quilômetros sob uma carga de um caminhão, então é crível que ele não conseguirá voltar ao lugar onde viveu e soltou-o, pela manhã ele não localizou o Preto, mas não se preocupou, mas passou o dia, a noite, o outro dia e a noite e nada do Preto aparecer, no dia seguinte ele mandou um garoto apanhar o Alazão, o encilhasse e fosse até a Fazenda do Córrego verificar se o cão havia lá chegado, assim que ele chegou e perguntou se o preto havia aparecido por lá, disseram-lhe que o cão havia chegado sim, mas que foi para casa daquele caçador, cujo morava ali perto. Preto foi levado de volta a Fazenda Acauan e Tolentino tratou de prendê-lo; quinze dias depois ele soltou-o e novamente o Preto sumiu, deu no pé de volta ao amigo caçador, no sábado, o Tolentino foi à cidade fazer feira e lá ele encontrou um amigo daquele local que o disse, olha Tolentino, o Crosueldo disse que o teu cão não retornará para ti, pois o ninho dele está feito lá, Tolentino disse então para o amigo, então meu amigo, diga para o Crosueldo que nesse domingo eu mandarei buscar o meu cão. Diga-lhe também que o cão voltará na segunda feira, tão-somente para despedir-se dele e voltar par mim.

- É claro que que Tolentino estava a falar sério: assim que o mensageiro chegou à Fazenda Acauan com o cão, Tolentino preparou um remédio deu-o ao Preto e soltou-o, ele sumiu e reapareceu só no entardecer do dia seguinte e foi direto ter-se com Tolentino que o abraçou alegremente e o agradeceu por haver regressado à casa.

- No sábado, Tolentino reencontrou aquele amigo que o informara do Crosoeldo que lhe disse: Tolentino, o teu cão apareceu lá na fazenda, latiu muito para o Crosoeldo e sumiu na escuridão da noite como uma sombra perdida, agora diga-me, que diabo você fez para que tal acontecimento se revelasse? Ah! Meu caro, isso é um segredo, mas como você é meu amigo... Aí vai, não há nada demais, trata-se apenas do poder da palavra, eu apenas apanhei uma folha de papel, escrevi nela o nome do Crosoeldo e botei fogo, mas antes de botar fogo eu falei com voz firme, Corsoeldo; aí vai fogo, Crosoeldo; aí vai fogo, Crosoeldo; aí vai fogo, depois apanhei as cinzas e misturei ao alimento e dei para o Preto comer e disse-lhe, agora vá despedir-se do Crosoeldo e retorne para mim.

É bom pensar muito nas palavras que deixamos escapar da boca, pois o poder delas é verdadeiramente incomensurável.

De: Raimundo Chaves – 26 de fevereiro de 2011

"O caçador tem um cão e a mãe do caçador é também o pai do cão"

reychaves
Enviado por reychaves em 26/02/2011
Reeditado em 08/03/2011
Código do texto: T2816826
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