A MISSA DAS ALMAS

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Meus Contos

Oláia era uma velha e solteirona lavadeira que vivia sozinha num pequeno cômodo na esquina da Rua José Antônio com a Rua Paraná. Não se conheciam parentes ou amigos dela. Diziam uns, que quando jovem, amara perdidamente e fora traída pela sua melhor amiga, que lhe roubou o noivo. Outros, que essa história, é uma história imaginada. Verdade mesmo, é que Oláia vivia santamente; pois, todas as manhãs, antes de ir para o rio lavar roupa, ia ouvir a primeira missa do dia.

Uma noite, dormia em seu pequeno quarto, quando foi despertada por toques de sinos; viu no quarto uma tênue claridade (não atinou que era o luar), levantou mais que depressa, certa de estar amanhecendo e os sinos anunciando a primeira missa. Vestiu-se, pôs à cabeça a bacia cheia de roupa e desceu à rua. Reinava tamanho silêncio que nem mesmo um cão ladrava ao longe. Ao chegar à igreja, notou que, ao contrário do que era natural, nessa manhã, muita gente entrava para ouvir a missa. Como de costume, arriou a bacia à porta da igreja e entrou para fazer suas orações.

A igreja estava cheia de devotos. Ela, porém, não reconhecia nenhum dos presentes, e estava surpresa ao ver todas aquelas fisionomias estranhas e silenciosas que pareciam imobilizadas no mesmo pensamento. Homens e mulheres continuavam a chegar e iam colocar-se a um lugar, ainda vazio, e não se ouvia enquanto andavam, nem o som dos passos, nem o roçar dos tecidos.

  Ajoelhada em seu lugar costumeiro, Oláia viu o sacerdote caminhar para altar, precedido por dois sacristãos. Não reconheceu nem o sacerdote, nem os ajudantes. Começa a missa. Estavam todos atentos. Porém, Oláia, por mais que tentasse, não conseguia ouvir o som dos lábios do sacerdote, nem o rumor da sineta, inutilmente, agitada.

A missa já ia pela metade, quando um cônego muito velho passou a recolher as esmolas, apresentando uma bandeja de cobre aos presentes, que ali deixavam cair sucessivamente moedas antigas. O velho cônego parou em frente de Oláia que procurou em um saquinho grosseiro de couro, uma moeda, sem nele encontrar. A lavadeira sentiu um frio que a fazia tremer sem saber por quê. O cônego vendo que ela nada possuía prosseguiu a coleta.

Quando acabou o ofício da missa, Oláia benzeu-se e saiu. Ao erguer a bacia para colocá-la na cabeça, tremia tanto que o peso era por demais e não conseguiu erguê-la. Os devotos saiam, uns atrás dos outros. Ela pediu a um deles que a ajudasse a levantar a bacia. Ele, porém, lhe respondeu com uma voz débil, muito fora do comum:

— Não posso, porque morri de tuberculose...

Pediu a outro, que lhe respondeu:

— Não posso, porque morri de enfarte...

E, ainda, a outro:

— Não posso, porque não tenho mais sangue...

No próximo ela não mais pede ajuda, porém, completamente assustada, pergunta:

— Meu bom amigo, diga-me quem são as pessoas que assistiam a essa missa silenciosa?

— Esses homens e essas mulheres são almas do purgatório, que ofenderam a Deus, pecando, mas sem maldade. Somos tão infelizes que um anjo se apiedou de nosso martírio. Com o consentimento de Deus, nos reúne todos os anos, à meia-noite, em nossas igrejas paroquiais; onde nos é permitido, durante uma hora, realizar uma missa...

O relógio da matriz dá uma pancada e os cabelos da lavadeira arrepiaram-se de medo. Então ela compreendeu que tinha assistido a uma missa de mortos e que o luar a tinha enganado. Fez o sinal-da-cruz e, em seguida, voltando-se para a alma penada, diz:

— Finado amigo, Deus vos tenha em sua graça!

E saiu a correr, assombrada. Trancou-se em seu quarto e não mais saiu. Enclausurada, emagreceu, definhou e entregou a alma a Deus. ®Sérgio.

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A Procissão.

O Visitante da Meia-Noite.

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Agradeço a leitura e, antecipadamente, qualquer comentário. Volte Sempre!

Ricardo Sérgio
Enviado por Ricardo Sérgio em 03/02/2011
Reeditado em 06/08/2013
Código do texto: T2770573
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