A Mãe da Serpente

A Mãe da Serpente

Perto do dique, há uma igrejinha não mais visitada por fiéis, mas dentro dela, está guardada para toda eternidade a grande serpente, cuja cabeça está debaixo do santo e o seu rabo no laranjal.

Laranjal é um lugar no meio do Rio São Francisco, onde os pescadores costumam se reunir toda noite, a procura de peixes, pois acreditam que lá é o local para uma boa pescaria.

Certa vez, ao celebrar missa na pequena igreja, um padre prometeu tirar o santo da cabeça da serpente, para que ela pudesse mamar no peito da mãe e causar um rebuliço entre as moças que assistiam a missa, que saíram correndo aos gritos pela pequena cidade, o que despertou na população o desejo de saber quais das moças eram a mãe da serpente.

Reza a lenda, que uma donzela se apaixonou por um belo forasteiro, que a abandonou, fugindo da pequena cidade e deixando-o grávida e entregue a qualquer tipo de sorte, pois, na cidade, as mães solteiras eram repudiadas.

A pobre moça escondeu dos moradores e da própria família a existência da gravidez até o fim e no dia de parir foi para beira do Rio São Francisco, levando consigo apenas uma cestinha forrada de algodão par pôr o filho dentro ao nascer.

A cestinha forrada não era apenas para aconchegar a criança, mas para dar a ela o fim que a mãe já havia planejado: jogá-la ao Rio São Francisco, para que este a levasse para outras comunidades ribeirinhas que pudessem cuidar da criança, que certamente seria mais feliz que com a própria mãe, tão desamparada por todos.

Na noite em que teve as dores, a lua ardia no céu e dava para ver claramente no meio do rio, no laranjal, os pescadores na lida, jogando suas redes a cantarolar, felizes pela fartura da pesca.

Receosa, com medo que alguém a visse, a parturiente escondeu-se com a pequena cesta dentro das pedras, na beira do rio e agüentou suas dores e até que pode ver a cara do filho, que parecendo colaborar com a decisão da mãe, não chorava apenas lhe sorria.

Apavorada, mas decidida, beijou a face do filho e o agasalhou dentro da pequena cesta, que cheirava a algodão novo, que ela mesma colhera no pé, que ficava no fundo do quintal de casa.

Passado o período que escolheu para amar o filho pela última vez, saiu das pedras e caminho para beira do rio, sem perceber que um velho pescador a observava, sem entender o que estava acontecendo.

Lentamente, com os olhos cheios de lágrimas, olhou para os lados e como não viu ninguém, apenas ouvia-se os risos dos pescadores do outro lado do rio, lançou no leito do São Francisco a pequena cesta, que partiu toda banhada de luar.

Ao chegar ao meio do rio, a moça pôde observar que a cesta parou, como se não quisesse mais seguir o seu destino e a lua, batendo no rosto triste da criança, revelou para mãe toda a tristeza do abandono.

Trêmula e desesperada, olhou para os lados, desejosa de resgatar o filho, não viu ninguém que a pudesse ajudar. Bateu o remorso, mas agora era tarde! Ah, se soubesse ao menos nadar, atiraria ao rio e resgataria sua criança, mas não tinha mais o que fazer, por mais que gritasse, os pescadores do lado do laranjal não a ouviria.

Vendo o desespero da pobre moça, o velho se aproximou, mas não tinha forças para ajudá-la, apenas a amparou nos seus braços e choraram, vendo a pequena cesta emborcar e o rio sugar a criança.

Neste momento, viu-se algo se mover no meio do rio e as águas estremecerem, virando os barcos e matando vários pescadores. Parecia um monstro que se debatia nas águas, com o seu rabo forte chicoteando os pobres pescadores, que caiam um a um no meio das águas.

Depois de matar todos que estavam no rio, o bicho se revelou no meio das águas: era uma enorme serpente que exigia da mãe os seios para mamar. Apavorada, a mãe e o velho fugiram da beira do rio e saiu pela cidade contando para o povo o que aconteceu, mas antes, o velho tinha prometido a moça que nunca revelaria o seu nome para a cidade, apenas contaria sua história.

A cidade apavorada não conseguiu dormir. Logo que amanheceu o dia, saíram para recolher os corpos, mas nada de ver a serpente. Foi um dia de tristezas, com muitas esposas e filhos chorando a morte dos humildes pescadores.

Todos os moradores exigiram que o velho contasse o nome da mãe da serpente, para castigá-la por tamanha maldade que fizera ao filho, mas ele preferiu o silêncio e partiu para sempre da cidade, deixando a dúvida na cabeça dos moradores. Quem seria naquela cidade a mãe da serpente?

Não demorou muito tempo para que a fera voltasse a atacar e sua hora preferida era quando a lua brilhava no céu! Muitos pescadores morreram até o prefeito pedir reforço e finalmente com a ajuda dos homens da lei e principalmente de São Francisco, segundo o povo, a serpente foi presa e depois de ser exibida a todos, os religiosos a levou para a igrejinha perto do dique e a enterrou viva, deixando sua cabeça dentro da igreja debaixo do santo e o seu rabo no meio do Rio São Francisco, no lugar chamado laranjal.

A partir daí a lenda tomou proporções religiosas e todos os moradores acreditam que no juízo final ela aparecerá para mamar no peito da mãe e destruir a todos que a capturam. É por isso, que toda vez que alguém comete alguma infração grave aos olhos da igreja, os padres ameaçam soltar a serpente para que ela mame nos seios de sua mãe!

Larry Redon
Enviado por Larry Redon em 25/01/2011
Código do texto: T2751790