Filha da Quenga
Filha da Quenga
Seu nome é Clara! Mais conhecida como filha da Quenga! Apesar de ser hoje uma mãe de família, nunca conseguiu apagar as marcas deixadas pela profissão de sua mãe. Clara fora criada no meio das meretrizes, porém, nunca quis seguir a carreira de sua mãe, que comeu o pão que o diabo amassou nas mãos dos homens e das mulheres daquela cidade.
Muitas vezes, Clara via sua mãe-quenga choramingando ao voltar da rua e ser humilhada pelas senhoras de bem, donas da moral e do bom costume, que não se conformavam de saber que era nos braços da mulher de vida fácil que seus maridos encontravam a ardência que buscavam e que elas na sua santidade não poderiam dar a eles.
A mãe de Clara nunca conversara com ela sobre sua vida, mas sempre deixou claro, que antes de sua morte, tiraria a filha daquele lugar, mas isso nunca se cumpriu, pois a triste senhora faleceu antes do prometido.
A morte da infeliz senhora deu-se numa noite suja, no meio de uma orgia, promovida pela dona do Bordel, que atraiu todo o tipo de homem, do mais rico ao mais pobre, do mais sensível e ao mais bruto e foi por causa de um homem bruto que a mãe de Clara perdeu a vida.
Tudo começou quando a infeliz rameira tentou tirar sua filha do bordel para que ela não presenciasse o que aconteceria naquela noite. Mesmo sabendo que sua filha sabia de sua profissão, procurava sempre que podia deixá-la afastada deste ambiente fétido, que só entrou porque Deus pena dela não tivera.
Sem ter para onde mandar a filha, procurou ajuda com a cafetina, que prometeu ajudá-la, mandando a filha para cidade vizinha. Mal sabia ela, que a cafetina queria que Clara assumisse seu lugar, assim que ela se aposentasse.
Resolvendo antecipar seus planos, a cafetina aproveitou a situação para apresentar Clara aos rapazes na orgia que programara e para tanto, fingiu para a mãe da menina que a dispensaria ambas da festa, com o seu sorriso maquiavélico.
Agradecida, mãe-quenga tratou logo de arrumar a bagagem, informando a filha que faria uma bela viagem para compensar o tempo que nunca tivera para elas e prometendo mais uma vez que lutaria até o fim de sua vida pela felicidade da pobre menina.
Clarinha, que nunca dissera não para a mãe-quenga, apenas sorriu e abraçou a mãe, agradecida. Infelizmente, mãe e filha estavam tão contentes, que não perceberam o olhar maligno da cafetina, que conversava com um homem, com cara de selvagem, mostrando a ele sua vítima.
O cidadão tinha por nome Antero, um homem que apesar de muito dinheiro não tinha sorte para mulheres, pois seu jeito sujo causavam-lhes nojo. Muitas vezes, a filha da quenga vomitava, ao saber que a mãe já tinha deitado muitas vezes com aquele homem e hoje nem imagina que ela poderá ser a próxima a ser lambida por aquele homem tão desprezível.
A cafetina, para separar mãe e filha, tratou logo de arranjar uma desculpa. Disse a quenga, que ela devia fazer-lhe um favor antes da viagem e que fosse antes, que mandaria sua filha atrás, em boa companhia.
A mãe-quenga, que já havia visto de tudo nesta vida, desconfiou logo das intenções da cortesã e comentou com a filha o que estava pressentindo. Tratou rapidamente de dar orientações para a filha, que a atendeu prontamente.
Como previa, a rameira mor impediu que a doce Clara saísse do bordel e exigiu que a queria na orgia, deixando a moça assustada, mas como confiava na mãe-quenga, tentou acalmar-se e ceder às exigências da quenga-mor.
Não tardou para que o baile dionisíaco começasse e a triste Clara foi logo apresentava aos homens do cabaré, que a disputava a socos e pontapés, porém a cafetina tratou logo de informá-los que a primeira vez seria de Antero e a menina ao ouvir o nome do demônio, vomitou em pleno salão, deixando o homem irritado e com mais desejo de possuí-la.
Apesar de o desejo arder-lhe do umbigo às partes, o seu desejo de vingança, pela repugnância demonstrada pela moça foi ainda maior e no auge de sua tirania, convidou a todos a devorá-la, mas viu surgir em sua frente a mãe-quenga com todo o seu instinto materno, apontando uma arma para cabeça do devasso.
Todos que queriam provar de Clara, avançou contra a mulher, que não pensou duas vezes ao disparar a arma, matando muitos e tornando a orgia com gosto de sangue. Minutos depois do massacre, o bordel ruiu sobre a cabeça de todos, matando as prostitutas e os devassos, restando apenas a doce clara para contar a história.
Não demorou muito para as mesmas mulheres que apedrejavam a mãe-quenga, cobrir Clara de carinho, pois a via como vítima e que diante da justiça divina, Deus a poupou, livrando-a unicamente da catástrofe que abateu o bordel.
A partir da morte da mãe-quenga, a vida da jovem órfã tomou outro rumo, pois encontrou o amor nos braços de um homem nobre e construiu uma feliz família, mas a cidade mesmo vendo-a coberta de jóias nunca conseguiu para de chamá-la de a filha da quenga.