O que são as Lefranjôpeas

Numa bela vida deste dia...

Num belo dia destas águas...

As águas que conheço são as águas do rio que passa por aqui.

E nunca andei até muito longe daqui.

As águas que conheço me envolvem num imenso desconhecido.

Existe esse rio que me hipnotiza. Eu existo quando estou a apreciá-lo. Não digo apreciar, poderia ser... ..."Eu existo quando estou a existí-lo".

Quando estou bem perto das águas que levam o rio, eu sinto que um perfume natural me faz esquecer de todas as memórias. Esse aroma, com sua presença suave, me hipnotiza. Mas no entanto tenho total autonomia. Não digo autonomia, poderia ser... ..."Eu harmonizo quando estou a perfumá-lo"...

Sim, em momentos como esse eu posso perfumar através do Aroma que atua em minhas memórias, onde cada essência, de cada semente contida se faz iluminar, e cresce em luz.

Sou memória.

É de manhã, e os últimos anseios noturnos se esvaem pela brisa quase fria, não muito quente. Através dela, os raios do sol, em sua sabedoria, cantam baixinho, aquecem o que encontram, por suas ondas melodiosas, cuja melodia é tão melodiosa quanto mel.

E é como me sinto agora, como os raios, estou feito mel, feito melodia tão doce que não é mais doce porque transcendeu definições. O aroma, em sintonia com o mel, fez com que eu deixasse meu corpo, assim não mais o sinto... Apenas sinto detalhes preciosos de vida que engrandecem em prósperas proporções, e nunca me senti tão vivo.

Com os olhos não posso enxergar os raios, nem com meu tato ou olfato posso sentir o contato deles. Também não importa o que não é. O que importa?

Sensações estranhas, sinto diversas coisas, é como se eu fizesse parte de tudo e tudo fizesse parte de mim... Ou, posso dizer que o "eu" é só um ponto de referência. Porque é tudo vida.

Memória universal.

Não há agora o momento anterior, ou o próximo momento. Só existe agora. Agora é que não tenho personalidade ou individualidade alguma, pois sou natureza, sou o perfume lilás que floresce no ar em tamanha harmonia, o perfume no tom da melodia de cor dourada bem clara, que alimenta o solo, e o cheiro da terra se ergue num grande bocejo e quase sou engolido, meu Deus! Mas sou a mesma coisa hahah... Coisas muito vivas! Um sorriso de pura vida... Sorriso é o vôo das borboletas e dos beija-flores, e sorriso é também as flores beijadas. Sorriso cósmico.

As plantinhas que estão tomando sol, pensando melodias, é como uma criança com sede que encontra o rio, e sua beleza por si só a satisfaz e muito mais. Pois a criança é o próprio rio e ela é por si mesma como é!

O entusiasmo da boca que gargalha alegremente, a boca que soletrava a diferença das letras, em contraste com a falta de contraste, da unidade desses versos. Dos universos.

Ao pé da colina, um trapezista adormece. Ele tem uma vestimenta engraçada e emana paz. Em sua mão direita ele segura um lustre de alabastro, do tamanho de sua cabeça. A forma do lustre lembra a face do trapezista, que parece ter sido modelada tão minuciosamente. Já em sua mão esquerda, ele carrega com admirável paz um pedaço de papel, onde há um símbolo quase imperceptível, em alto relevo e textura de resina.

O trapezista viaja pelo espaço, ele tem sonhos em perspectiva, e até transparece no ar ao seu redor alguns lampejos de seu panorama de esperança. E o rio capta suas mensagens, o rio acolhe muitos sentimentos. O som das ondas das águas sonhadoras, é um movimento de rioaeuaueiao, e ao meio destas entonações o sonho do trapezista vai tomando forma... E vai subindo pela colina, e uma realidade acontece. Há um casebre rústico rodeado de algumas árvores compridas. Neste casebre há apenas uma janela.

Há um contorno simétrico de um ser esbelto que apoia o cotovelo no parapeito da janela e permanece a avistar o lado de fora. Entre o cotovelo e a madeira, há um pedaço de papel dobrado. O ser respira mistério, e o papel sob seu cotovelo é imóvel como um papel.

Em torno deste sonho dá pra se perceber a consciência do trapezista que mergulha num salto circense, às profundezas de sua busca.

O casebre de algum modo se transforma no lustre de alabastro no alto da colina, e a janela continua, agora no lustre.

O ser move o braço, a brisa sopra o papel para dentro da janela.

Ah e tudo é sugado e pelo único!

Ponto que se engoliu e sumiu.

Agora a história começa...

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