Sete dias da Semana - Cap III
Quarta-feira
Ao amanhecer a primeira imagem que ele viu... Foi a da mulher! Sonhou novamente com o vulto, mas desta vez conseguiu chegar perto da sombra, mas para desespero dele, ao se aproximar nada viu, nada sentiu. Ele já nem conseguia seguir seu rito diário, ao banhar-se não fez a barba, não quis pentear seu cabelo, pegou qualquer roupa que encontrou pela frente. Passou pela cozinha olhou o que tinha, mas a anseia veio logo. Resolveu não tomar café, não sentia fome, não sentia nada!
Pegou a chave para ir de carro, queria tirar este estigma do fracasso que almejava sua mente. Ao sair de seu apartamento ouviu uma musica bem baixinho do apartamento vizinho, falava de cansaço, do seu ser estar pequeno, das lagrimas... Pegou o elevador com um vazio interno dilacerante. Brigava com ele mesmo, não entendendo o porquê? Nem na morte de seus pais chorou tanto! Aquela viagem de menos de dois minutos não acabava... Começou novamente a falar sozinho;
_ Como posso estar apaixonado por um vulto ao qual nunca estive abraçado! Que droga. O elevador chegou à garagem.
Ele tinha decidido não ir de ônibus, não queria se decepcionar novamente. Mas olhando para o carro percebeu um amor não correspondido, e de como era superficial a vida que levava. No mesmo momento que abriu a porta, sentiu que se entrasse seria um abjeto para o resto da vida. A fechou com tudo e correu para frente do prédio, nem deu bom dia ao porteiro, queria chegar logo no ponto. Seu amor poderia estar no ônibus!
Percebeu assim que chegou que a mesma moça dos outros dias também estava lá. Não quis olhar para ela, mas viu que novamente ela estava de vestido, só que desta vez era branco, e como o outro realçava seu corpo, que com ao cair da seda na pele via-se de como seu corpo era perfeito. Como estava nervoso demais resolveu dar um bom dia.
_ Bom dia! Conseguiu resolver seu problema de ontem?
Ele viu que ela respirou bem fundo, e olhou diretamente em seus olhos.
_Cansei de sua loucura! Primeiro trata-me mal, ontem eu resolvi puxar assunto, você me ignora, e hoje quer saber de como estou? Você é louco, nem ébrio deve estar?
Surpreso com a resposta, ele olha para ela e louco para pedir ajuda! Para contar para esta estranha, o que estava acontecendo, e possivelmente pedir socorro por causa de um amor! Ele apenas falou;
_ Seu ônibus esta chegando, tenha um bom dia e um bom serviço.
Ela acenou e o ônibus parou, mas antes de subir o entrega um papel na sua mão e sobe. Mais uma vez ele a olha subindo os degraus e sente seu cheiro no ar. Assim que o ônibus o saiu, ele pega o papel e abre, fica parado e pensativo com o que lê, mas como sempre no mesmo horário seu ônibus o chega, ele dobra o papel e põe no bolso. Antes de acenar o ônibus para, e abri-se a porta.
Subindo e caminhando com pressa para ver se sua dama estava no interior. Não a vendo de novo sua existência sentiu a dor! Passou com pressa e sentou no mesmo banco, e por ironia o cheiro dela fincou raiz naquele ambiente. Olhou para o pulso e seu relógio estava parado, o mesmo caminho que nunca reconhecia. O motorista e o cobrador mantinham-se da mesma forma. Ficou refletindo quem era aquela mulher, será que era uma concubina? Resolveu podar seus pensamentos não queria mais pensar naquela imagem, começou a apertar a mesma com tanta força, que deu um grito agonizante!
_ Eu quero descer agora! Parem este ônibus. Eu estou dando sinal, vocês não enxergam.
Mesmo com todo este escândalo nada movia de diferente, o silencio era mantido pelo motorista e pelo cobrador. Indignado com a situação o homem fica mais nervoso!
_ Eu pago impostos, eu contribuo para os salários de vocês, eu exijo respeito, quero descer.
Nada fez efeito, mais ele gritava, e mais seu corpo suava. De tanta humilhação vai à direção ao cobrador.
_ Você é surdo ou o que? Olhe para mim quando falo!
O cobrador nada fez, seguiu da mesma forma intocável. Sem entender ele olha em direção ao motorista e vê a mão dele, uma tinha luva preta e a outra estava toda deformada, como se fosse queimada, mas a diferença que parecia que tinha sido queimada há pouco tempo, estava na carne viva. Naquele momento o ônibus para e abre as portas. Ele houve pela primeira vez a voz do motorista!
_ Chegou, desça logo! Senão sua derrota contaminará este trajeto. Sua “deformice” é um nojo.
Abismado com o discurso, e de como era serena a voz do motorista, ele se cala.
_ Saia logo daqui, senão devoro você! O cobrador se pronuncia.
O homem fica pasmo com as falas e resolve voltar logo e descer. Assim que desce queria anotar a placa do ônibus e denuncia-lo em seguida, percebe que não tinha placa alguma no ônibus. Resolve entrar no serviço, mas antes olha seu relógio e vê que como os outros dias não estava atrasado.
Este dia estava sendo pior que os outros, chegou à hora do almoço, não quis ir, não sentia fome. A gerente preocupada com o amigo, volta com um lanche e o procura, de tanto procurar acha ele no estacionamento escondido.
_ Olha onde está o senhor! Trouxe um lanche para você, o que houve? não esta com fome?
Ele que estava de cabeça baixa, levanta e olha direto nos olhos da sua amiga, ela logo percebe que ele tinha lagrimas nos olhos, nunca o viu desta forma deplorável.
_ Fome... Só se for à minha alma! Que “merda” eu nem sei seu nome!
Sem entender nada ela olha para ele e com um sorriso, pergunta de quem ele falava, mas ele sem querer papo levanta e sai sem olhar para trás. Ele pensava que ninguém podia ajudá-lo, era uma loucura minha e de mais ninguém, essa coabitação é uma cólera que matava o gerente aos poucos.
Ele no serviço nada fez, ficou pensativo e sentado em sua mesa á tarde inteira, apenas mandou seus subordinados fazerem tudo. Terminado seu expediente, foi-se mais um dia que não a via, um desespero adentrou seu corpo. Não quis carona, queria voltar a pé para casa. Não sabendo o que fazer, e a desgraçando, simplesmente por ela o fazer ter saudade, ele caminhou por horas, até o ponto que ele pega o ônibus, parado ali já mais de onze horas da noite, cansado, com fome, sem saber o que fazer, vai para casa.
Antes de dormir ele gritava pela essência, como podia amar alguém que jamais poderia tocar.