O Milagre da Lua
Quando caiu a noite a Lua virou para Lucas e disse:
- Te ilumino porque tenho luz própria, meu filho. Mas você não tem... Corra atrás dela, não perca tempo.
Lucas não entendia nada daquilo. Conversar com a Lua? Será que alguém, além dele, ouvia a Lua falar? Passou dias sem dormir, pensando na frase, martelando, sentado numa cadeira de madeira, assustado com a própria sorte.
Resolveu levantar da cadeira e correr atrás daquilo que ele não fazia idéia do que seria. Saiu de sua humilde casa e foi procurar um emprego; já fazia dois anos que ele se sentara na cadeira e perdera seu emprego na lanchonete da esquina.
Passou o dia todo andando pela cidade e nada. Lavador de carro? Não. Limpador de janelas? Não. Entregador de jornal? Não. Não, não,não e não. Lucas não agüentava mais ouvir essa palavra. Chegou a se repetir tanto que ele desistiu e foi para um bar.
Chegando ao bar, pediu uma dose de uísque e depois pensou um pouco. Lembrou-se que não tinha dinheiro suficiente para a bebida. Então substituiu a dose pela cachaça, que desceu rasgando a sua garganta e cortando o estômago, já que não comera nada o dia todo.
Saiu cambaleando pela rua, e antes mesmo que pudesse capotar de bêbado, sentiu uma onda de vergonha e desprezo próprio. E por incrível que pareça lembrou: “Não segui o conselho da Lua! Com certeza ela quer que eu me levante”.
Chegou à sua casa e acendeu a luz; olhou a lâmpada e esperou um raio luminoso para sua surpresa; mas, nada. Foi para a janela e não avistou a Lua, era dia nublado.
Voltou para a cama e passou sua vida a limpo. Tudo tinha sido inútil e ele era um poço de fracasso. Não amou seus pais como deveria ter amado, expulsou sua mulher de casa, não prestou ajuda a seu filho e se meteu em encrencas.
- Ora, preciso acabar com essa dor – disse Lucas, lúcido de que só a solidão o ouvia.
Procurou uma faca e foi cortar as tiras da janela. Sua morte não incomodaria ninguém, afinal ninguém notava sua existência. Lágrimas derramavam sobre seu rosto, e ele não fazia idéia do que enxugava seu rosto com ternura e amor.
Mãos que perdoam e vozes que acalmam inundaram seu pensamento. Olhou para cima e viu a Lua brilhando mais do que nunca. Pensou que seria seu fim, e quando menos esperava, ouviu uma voz:
- Lucas! Levanta, sou seu pai. Eu amo muito a sua vida, e quero que você a preserve. Desça dessa janela, peça perdão, faça uma oração e confie no Todo Poderoso. Só ele acaba com a sua dor e alegra teu coração.