Sete dias da Semana - Cap II

Terça feira

Ao acordar na terça, ele percebeu um sonho! Com a imagem da moça do dia anterior.

Ele lembrava que há tempos não sonhava; “parecia tão real, invadiu a pobre moral. Mas ela gritava de um abismo, e ao mesmo tempo ouvia murmúrios”. Pela primeira vez há anos ele não fazia o ritual diário ou sequer estava preocupado com o horário.

Mas preparou-se para o serviço. Ao sair nem se lembrava da sua idéia de denunciar o porteiro, nem viu que já era outro que estava na portaria, deu um bom dia e seguiu. Dirigiu-se até a garagem, mas vendo seu carro desistiu, resolveu pegar o ônibus! Foi ao mesmo ponto, no mesmo momento do dia anterior. Pensava na chance de ir com o mesmo ônibus, era mais certeiro encontrar novamente aquela mulher. O ponto estava vazio! Ele ficou parado, esperando. Pensava na imagem da dama e nem se deu conta que falava em voz alta!

_ Como pode existir uma mulher tão bela! Quem és tu mulher? Só a vi uma vez... Não é possível que isto esteja acontecendo comigo. Mas subitamente ele ouve uma voz feminina;

_ Bom dia! O senhor esta bem?

Ele vira-se bruscamente desejando ser sua dama, mas não era. Seria a mesma moça de ontem? Ele não recordava havia apenas uma mulher em seus pensamentos, mas respondeu com veemência;

_ Estou sim! É... Passando minha fala de uma apresentação que terei hoje! Desviando a cabeça e o olhar. Mas ela continuava a olhar e perguntou mais uma coisa: O senhor conseguiu pegar seu ônibus ontem?

Veio a luz de reconhecimento, era a moça de ontem do ponto. Que mal me olhou!

Secamente ele a responde; _ Sim! E foi aqui mesmo. Friamente sai de perto dela.

_ Que bom! Enfaticamente ela retribuiu. _ Desculpe por ontem, não estava bem! Sabe uma coisa horrível... Ele a interrompe.

_ Não quero saber nada seu! Os problemas são teus e não meu. E seu ônibus esta vindo!

Desconcertada ela faz um sorriso pelo lado esquerdo da face, e sobe para o ônibus. Ele a olha subindo, ela devagarzinho põe um pé de vez por degrau, tinha um vestido azul marinho que a cada passo colava em seu corpo. Mas não era essa moça que queria ver, alias ontem foi muito estúpida para hoje querer se desculpar, como sempre dizia para seus funcionários em relação aos erros. “Ao errar não se lamente, pois isso é hipocrisia”.

Por incrível que pareça, seu ônibus não vinha, estava preocupado com duas coisas, a primeira era em ver a moça e a segunda era no tempo que poderia chegar atrasado. Nunca colocou nada além de seu profissional. Mas não se importava! Já angustiado, percebe o ônibus chegando. Acenou com um ar de felicidade.

Entrou no ônibus e viu o mesmo motorista, que como ontem nem esboçou olhares para ele. Virou-se para dentro do ônibus percebeu vazio de novo. Foi em direção ao cobrador, passou seu bilhete e seguiu para o fim, ela não estava lá. O que será que tinha acontecido? Logo venho na mente dele que ela poderia estado ali somente por algum motivo especial, e não que como ele tinha um modismo de vida!

Sentou-se no mesmo banco, e sentiu que tinha no ar o cheiro do perfume dela. Ao infestar em suas narinas ele enlouqueceu. Levantou-se e foi em direção ao cobrador perguntar se ela era assídua daquele ônibus.

Viu que era o mesmo cobrador, e do mesmo jeito estava.

_ Com licença! O senhor lembra-se de mim?

O cobrador nada reagia. Foi quando ele levantou a mão para balançá-lo, pensando que o mesmo dormia.

_ Não se atreva a me tocar, e como viu, não há ninguém aqui. Quem procuras nada quer contigo!

_ Como assim! Não entendi? Com uma voz mais áspera o cobrador o manda sentar, dizendo que sua viagem seria rápida, e por isso era melhor sentar-se de novo.

Sem perguntar mais nada ele obedece. Mas sentiu também um cheiro horrível vindo do cobrador. Ao sentar olhou o cobrador que voltou para sua posição anterior. Notou que seu relógio estava parado de novo, mas nem quis preocupar-se. Pensava na mulher que como uma luz apareceu e como uma vela no seu ato final faleceu... Um mar de ambigüidade jorrava em seus pensamentos. O ônibus parou e abriram-se as portas, tinha chegado a seu local de destino, desceu e olhou para o relógio, como ontem tinha chegado a tempo!

Entrou na loja e começou o seu cotidiano! Como era um exemplar funcionário, manteve suas funções diárias e no almoço onde se reunia os outros gerentes e seu diretor, ele comia quietamente sem esboçar nada. Na mesa com quatro cadeiras sentava ele a direita, tinha outro gerente ao seu lado, e na sua frente seu diretor e do lado dele a única gerente mulher da loja. Alias, ela, ele admirava muito por ter chegado onde estava, um mercado competitivo e machista! Naquele dia no seu silencio, ele pode ouvir os ranger dos dentes de seus companheiros de mesa, o mastigar da carne, enfiando dentro os dentes, o engolir.

Foi enfadonho, não havia congruência alguma naquele recinto, e no fim os palitos nos dentes, ele levantou-se e saiu sem se despedir. Voltando ao batente a gerente foi conversar com ele;

_ O que houve no almoço, saiu sem falar nada, e notei que não estava ali conosco, quer conversar sobre o que incomoda!

Ele a olha dentro dos seus olhos e num piscar de olhos; _ Estou bem e não quero conversar, tenho muito a que fazer.

Ela vendo que ele queria era ficar sozinho, sai e no meio do corredor olha para trás; _ quando quiser é só me procurar!

Agradecendo com a cabeça ele reflete. - Ela pensa o que? Queria que falasse tudo! Que encontrei um uma mulher no ônibus e estou amando a infeliz. Ela me acharia um louco por tal atitude. No fim do dia pega novamente carona com seu amigo, que é um vendedor da loja! No caminho de volta, ele resolve perguntar ao vendedor;

_ Você ama alguém?

O vendedor sem pensar muito e preocupado com o transito.

_ Sim!

_ Mas como assim, foi de que forma? Rápido?

_ Bem conheci uma mulher certa vez no bar, disse a ela que amava. E depois casei com ela.

Vendo que não era o único louco por amar tão rápido, tranqüiliza-se. Mas o amigo vendedor fala mais;

_ Lógico que você não acreditou não é! Jamais me casaria desta forma, olha amor não existe, é tudo fruto de nossa imaginação, como digo sempre “o amor é um jogo de interesse”. Após essa afirmação a viagem chega a seu fim, ele sai e agradece a carona.

Não entra de imediato, da uma súbita vontade de correr, e corre sem parar... Fica esbaforido, mas pensa nela sem parar, não sabe o que fazer, resolve parar e ir para casa dormir. Mas antes do fim do anoitecer, ele atenta-se e grita; só queria ter ela... Nunca tinha sentido aquela sensação de derrota, resolver buscar o sono antes que a noite acaba-se.

Pastor Goethe
Enviado por Pastor Goethe em 11/01/2011
Código do texto: T2723360