Pacto de sangue.

Era uma quinta-feira, tarde da noite, eu estava na fazenda, interior de São Paulo, um município de trinta e cinco mil habitantes. Jantamos e depois de muito bate papo com familiares me preparava para dormir. Fui até o pomar, bem lá no fundo para urinar ao luar quando percebi ao longe uma movimentação próxima a um cruzeiro existente em um morro. Me aproximei devagar e escondido, eram jovens, uns quatro ou cinco. Todos vestiam preto e em cada camisa um simbolo diferente pintado de branco se destacava ou ascendia naquela noite de sinistra energia. Se preparavam para algum tipo de ritual que francamente não posso nomear. Tomavam vinho tinto, pois no outro dia estive lá para conferir o que tinha presenciado as escondidas na noite passada. Assim que o relógio passou um pouco da meia noite, percebi que a bebedeira sessou. Um dos jovens recitou algum texto em uma língua que em minha opinião era Latim, a distancia em que me encontrava não me permitia ouvir tudo, apenas quando sua voz exaltava me chegava algumas palavras. Neste momento os jovens se encontravam em um formato circular, ajoelhados de pernas cruzadas e as palmas das mãos sobre as próprias coxas e apenas três dedos de cada mão se mostravam estendidos, o dedão, o indicador e o médio. Me esforcei mas nada ouvia. De repente um clarão, o que queimou em meio aos jovens foi pólvora, pois o cheiro não enganava ninguém. Todos se levantaram e pronunciaram nomes aos gritos e ofensas contra Jesus de Nazaré, “O Cristo”. Um objeto perfurante como um pequeno punhal foi apresentado e cada um furou seu próprio braço e bebiam o sangue um do outro em gestos frenéticos como se fosse uma orgia, um gozo, um prazer que eu não entendia. Logo tudo se acalmou e os jovens foram se retirando em fila, calmos e tranquilos, como se nada ali tivesse acontecido. Fui para cama e confesso que minha reflexão, perdurou até que a luz do Sol pudesse entrar pelas fretas de minha janela. Sempre respeitei o que ali presenciei, mas aquele tipo de adoração com certeza, me fez enxergar que o equilíbrio esta em tudo, e o bem e mal as vezes, podem caminhar juntos.