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VISITA DOS SEM PÉS

 

 

Menino danado, aquele! Vivia de ‘castigo’ (coisa de outros tempos) pelas traquinagens não admitidas em casa.

Quando se juntava ao irmão maior a coisa só piorava. Foi o que seus pais disseram para justificar a presença dele na visita que fariam a um casal amigo que acabava de perder um ente querido.

Jamais o deixariam em casa brincando com o irmão. Jamais! Assim, naquele dia fatídico, ele foi obrigado a acompanhá-los, mesmo que esperneando...

Os dois casais acomodaram-se na sala e a conversa a quatro foi tomando corpo. Enquanto isso, sorrateiramente, o menino caminhou em direção a sala vizinha.

Vendo um piano, pousou a mão sobre ele na tentativa de abri-lo, contudo, o movimento foi interrompido  por uma voz que  o chamava para perto. Parecia mais um sussurro. Pedia-lhe delicadamente, que se aproximasse...

O menino olhou  meio que assombrado ao redor, pois até então, nenhuma outra presença havia sido sentida, além da sua própria figura.  Subitamente, eis que aquela senhorinha tristonha estava ali, sentada em uma poltrona, no canto da sala,  pronta a segredar-lhe alguma coisa.

Com certo receio aproximou-se em passos lentos, sabendo  que não morava mais ninguém naquela casa fora o casal que dialogava com seus pais. Mas, enfim, ela estava ali e ele havia aprendido a respeitar os idosos, ao menos isso...

Afagando suavemente seus cabelos, a simpática senhora confidenciou  aos seus ouvidos a razão de sua tristeza. Eram frequentes as desavenças do casal que morava naquela casa e continuou falando, falando...  na tentativa de dar ênfase ao seu desejo  de convivência pacífica, assim como  do quanto almejava que fossem felizes.

Finalmente, parecendo sentir-se aliviada, indicou passagem livre para que ele tocasse piano. Ao primeiro toque os pais levantaram-se abruptamente e o expulsaram daquela sala 'pelas orelhas' (coisa de outros tempos) e colocaram-no sentado junto deles.

Obviamente, acompanhando o 'puxão de orelhas' veio o discurso sobre aquilo que podia e aquilo que não podia... e que ele já era grande, apesar de pequeno (uma vez que tinha apenas  sete anos de idade), para fazer aquele tipo de coisa, etc...

Ainda assustado com a confusão instalada, o menino tentou justificar-se dizendo ter tido  permissão da velha senhora sentada na poltrona do canto da sala.

Sobressaltados pela inesperada informação, pediram-lhe detalhes. E, na inocência infantil, o menino rebelde descreveu exatamente o ocorrido.

Mesmo na dúvida, o casal saiu em busca de um álbum de fotografias e solicitou ao garoto que identificasse a  ‘tal’ senhora.

Rapidamente ele assentou seu indicador sobre uma foto e  assegurou que era ela, aquela senhora, porém,  com  vestes distintas. Além do que, estranhamente... ela  não tinha pés!

Desde então, os pais proibiram-lhe de  estabelecer qualquer tipo de contato com pessoas que não tivessem pés... O que não ocorreu, evidentemente!

Ainda hoje, com mais de sessenta anos,  não é raro ele surpreender-se com as visitas dos "sem pés".

 

 

 

 

 

 

heleida nobrega
Enviado por heleida nobrega em 08/01/2011
Código do texto: T2716025
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