"De médico, poeta e louco"
Dizem que todos nós temos um pouco de médico poeta e louco. O que não deixa de ser verdadeiro. Conheci um personagem que se encaixa direitinho no que preconiza esse dito popular. Aparentava ser uma pessoa normal. Só aparentava. Possuía bom grau de instrução. Além da língua portuguesa, se comunicava fluentemente em espanhol e inglês. Era um maluco trilíngue. Em razão de estar constantemente viajando para a Bolívia, era por todos conhecido como boliviano. Era um sujeito boa pinta e trajava com singular esmero. Na empresa onde trabalhava fora aposentado como deficiente mental. Mas, nada indicava ser ele portador de qualquer insanidade. Bem verdade que ele tinha lá suas esquisitices. E não eram poucas não! Volta e meia aprontava das suas. Certo dia estávamos numa cantina lanchando, quando repentinamente ele me indagou:
- Amigo você não acha que o Homem devia ter rabo?
Para não contrariá-lo já que se tratava de um maluco, concordei inteiramente com sua divagação. Entretanto pedi que me explicasse o porquê daquela sua indagação.
Todas as pessoas que se encontravam no estabelecimento comercial, perplexas, se entreolharam e cochicharam algo imperceptível. Talvez se perguntando de onde saira aquele lunático. E não era para menos. Uma pergunta desse quilate somente poderia ter partido de uma pessoa fraca da cachola. Confesso que apesar de conhecê-lo fiquei, também, perplexo e curioso.
Continuando, disse ele: - veja bem, você que mora em pensionato e estuda, às vezes precisa ficar com a luz acesa até altas horas da noite. Essa atitude perturba as outras pessoas que moram no quarto com você e querem dormir. Se o Homem tivesse rabo você colocaria uma luzinha na ponta (que funcionaria como luminária) aí na hora de estudar acendia a luz e passava o rabo por cima do ombro para alumiar o livro. Garanto que ninguém reclamaria da luz acesa e você estudaria tranquilo.
- Tenho ou não tenho razão?
- Claro que tem. Respondi.
Mas, a sua maluquice não parou na pérola do Homem com rabo. Enquanto ele lanchava as pessoas que estavam no estabelecimento comercial continuaram o encarando. Essa atitude provocou nele uma súbita irritação. Sem terminar de consumir o lanche, ele se levantou abruptamente da cadeira onde estava sentado, deixou o valor correspondente à guloseima no balcão e, aos berros de que ninguém mais podia lanchar sossegado, abandonou o local.
Como “contra fatos não há argumentos”, não restam dúvidas de que o sujeito era meio pancada mesmo.