Conto com haikai (3)

Disse ele:

—Vou escrever um conto certo... Não, certo não, mas verdadeiro.

E ficou contente, os dedos sobre o teclado e a imaginação perdida. São os mistérios do computador manuseável...

Ela respondeu:

—Se é conto, não pode ser nem certo nem verdadeiro.

—Com certeza, mas podemos... posso fingir que o que narro aconteceu verdadeiramente nalgum tempo de algum lugar entre gentes certas...

Perplexo, calou. Ela, nada perplexa, afirmou... firmou:

—Eis a verdade do conto: o facto, fingido, de não ser verdade. Nisso estou certa. O conto certo é o relato incerto...

Fora, chovia... ou talvez não chovesse, mas parecia chover, como o beijo certo que, amorosos, lançaram, amantes, à incerteza.

—Se não os conhecesse, diria que tentam ser escritores de literatura certa... mesmo com a sua vida.

Opinava, em silêncio, o cliente da cafetaria que, tímido, os espiou desde o início dos tempos, dos seus tempos, dela, dele, do cliente.

...

Contar conto certo

com certeza não é certo:

Nu jogo do incerto.