COINCIDÊNCIAS SIGNIFICATIVAS
“ Os técnicos de cibernética construíram máquinas eletrônicas que funcionam primeiro aritméticamente, depois analogicamente. Essas máquinas servem inclusive para o deciframento de mensagens das linguagens cifradas. Mas os cientistas são assim: eles recusam-se a imaginar que o que o homem criou possa também sê-lo. Estranha humildade!”
Pawels e Bergier ― O Despertar dos Mágicos
*
Um dia fui a um hospital fazer uma pequena cirurgia. Tratava-se de extrair um pequeno cisto sebáceo que se formara no meu pescoço. O médico que me operou pegou a pequena bola de ácido graxo que tirara do meu pescoço e a cheirou, dizendo: “cara, como isso fede.” Depois mandou fazer uma biópsia do mal cheiroso pelote de sebo e dois dias depois fui ao laboratório pegar o resultado. “ Isso é apenas ácido graxo, seborreia” disse o médico. “Ótimo” pensei, “nada para me preocupar.” E assim fui para casa. Ufa! Parecia que um peso de 100 quilos havia sido tirado dos meus ombros.
Quando cheguei em casa naquele dia encontrei minha mulher chorando no quarto. De-pois de uns dez minutos tentando fazer com que ela me dissesse o que havia acontecido, ou qual dos seus parentes ou amigos havia morrido, ela me estendeu um envelope. Dentro dele havia uma radiografia e um laudo de biópsia. Aquele caroço que eu sentia no seio dela quando a acariciava, era um maldito câncer.
**
Quando jovem eu tive um amigo que era epilético. Tinha crises convulsivas nos mo-mentos mais incríveis. Ás vezes estávamos no bar tomando uma cerveja (quer dizer, eu tomava cerveja, ele só bebia refrigerante), e de repente ele desmoronava e começava a contorcer-se no chão e a espumar pela boca.
Não era uma coisa bonita de se ver. As pessoas normalmente se afastavam e ficavam com medo. Epilepsia é uma doença emblemática. Dizem que muitos personagens históricos a tiveram. Alexandre, o Grande, e Júlio César entre eles. Por isso ela era chamada de doença dos deuses. Ou então dos demônios, porque suspeita-se que a maioria dos endemoninhados da Bíblia fossem, na verdade, epilépticos que a medicina da época não sabia diagnosticar. Os sintomas descritos combinam.
Não falta quem afirme também que a grande maioria dos grandes profetas e videntes eram epiléticos. E que suas visões eram devidas a essa doença. Não sei não, mas há algumas estranhezas ligadas com esse mal. Dizem que Júlio César teve premonição de que alguma coisa lhe aconteceria naquele fatídico dia dos idos de março de 44 a.C, quando ele se preparava para ir ao Senado defender a sua pretensão à ditadura. Alexandre também teria previsto o resultado da maioria das suas batalhas antes mesmo de as ter lutado.
Enfim, são histórias da História. Pode-se crer nelas ou não. Mas o meu amigo me deu provas de que alguma coisa estranha acontece no cérebro de quem sofre dessa doença. Um dia passei na casa dele para sairmos para um passeio na cidade. Costumávamos fazer isso todos os sábados. Andávamos, encontrávamos alguns amigos, conversávamos, entrávamos num bar, bebíamos, ás vezes fazíamos algumas serenatas quando um deles trazia um violão, etc. Isso era moda nos anos sessenta, na nossa então pequena cidade, que ainda era uma prosaica comunidade de interior.
Nesse dia ele tinha um compromisso e não pode sair comigo. Então me despedi dele e fui andando. De repente ele me chamou e disse: ― Dê um abraço no Neguitinha.
O Neguitinha era um velho amigo que costumava andar conosco pelos bares de então. Bom garoto, gente fina, como a gente chamava os mais chegados, só que ele fora embora da cidade há mais de dois anos e nós não o víamos desde então. Em princípio estranhei a recomendação do meu amigo, mas logo esqueci. Mas fiquei muito perplexo quando entrei no primeiro bar da noite e lá encontrei justamente o Neguitinha. ― Vim matar a saudade dos velhos amigos― disse ele, com um largo sorriso ― E o Manolo, tem visto aquele “xarope”?
Manolo era o apelido do nosso amigo que sofria de epilepsia. O tempo passou e cada um de nós tomou o seu rumo. Eu casei, entrei para o serviço público, fui trabalhar em outro estado. Passei mais de vinte anos sem voltar a minha antiga cidade. Nesse tempo todo não vi mais o Manolo nem o Neguitinha. Nem soube o que foi feito deles. Quando voltei para minha cidade, depois desses vinte e tantos anos, nem me lembrava mais dos meus velhos amigos de juventude. A maioria dos nossos bares de antanho haviam fechado, os antigos camaradas não mais eram encontrados, tudo estava diferente então. Nem os cinemas havia mais, pois todos tinham sido superados pela televisão. A juventude se reunia agora nas discotecas e nas praças de alimentação do único shopping da cidade. Os jardins e as praças públicas tinham se tornado o território dos mendigos e dos viciados em drogas pesadas. Era perigoso ficar perambulando por esses lugares. Enfim, depois de algumas tentativas para recuperar o velho ambiente e reviver algumas daquelas experiências, eu também desisti e não pensei mais no assunto.
Uma noite, fuçando no meu quartinho de despejo em busca de um antigo livro, encontrei entre os meus guardados uma velha caixa de sapatos com um monte de fotografias anti-gas. Todas em preto e branco. Numa delas estávamos eu, o Manolo e o Neguitinha, vestidos com o uniforme do nosso time de futebol. Quase não reconheci os outros nove, mas do Manolo eu me lembrei instantaneamente. O episódio do Neguitinha me veio imediatamente à memória. “ Que coisa”, pensei. “Como é que aquele cara adivinhou que o Neguitinha ia estar lá justamente naquela noite?”
Na manhã seguinte recebi um telefonema de uma senhora chamada Marta, me comuni-cando que o Manolo havia falecido na noite anterior. “Eu não sabia como achá-lo”, disse ela, “mas um dos últimos nomes que ele pronunciou foi o seu, por isso fiz questão de lhe ligar. Estou á sua procura desde ontem à noite”.
Ele morrera justamente na hora em que eu encontrara a velha fotografia. Marta era a irmã dele. Coincidência significativa.
***
Louis Pawels, no bizarro e intrigante tratado que ele escreveu com Jacques Bergier, pu-blicado sob o nome de O Despertar dos Mágicos, conta a história da relavote. “ “Eu tinha sete anos” escreve ele. “Encontrava-me na cozinha, ao lado de minha mãe que lavava louça. Ao pegar num esfregão para tirar a gordura dos pratos, pensou neste mesmo momento que sua amiga Raymonde chamava a esse objeto uma “relavote” (de laver, limpar). Eu tagarelava, mas nesse mesmo momento parei e disse: A Raymonde chama a isso uma relavote. Não me recordaria desse incidente se minha mãe, vivamente impressionada, não me tivesse várias vezes recordado, como se tivesse adivinhado um grande mistério e sentido num acesso de alegria, que eu era ela, e que recebera uma prova mais que humana do meu amor. Mais tarde, quando eu a fazia sofrer, nos momentos de trégua ela evocava esses segundos de “encontro”, como que para se convencer de que qualquer coisa de mais profundo que o seu sangue passara dela para mim.”
Essas interseções mentais que às vezes acontecem entre pessoas emocionalmente ligadas é o que chamamos de coincidências significativas. Edgar Alan Poe, num excelente conto chamado “Os Crimes da Rua Morgue” também explora esse tema contando como seu personagem Auguste Dupin consegue “acompanhar” os pensamentos de uma pessoa através da observação das suas posturas e da sua linguagem não verbal.
Em nossos cursos de PNL praticamos um exercício semelhante ao que Poe descreve no seu conto. Brincamos durante cerca de trinta minutos de “sombra” de outra pessoa, imitando seus gestos, seus passos, sua respiração, enfim, captando todas as suas mensagens não verbais e no fim do exercício tentamos dizer qual foi seu último pensamento. A média de acertos é surpreendente.
Essas experiências mostram que existe uma possibilidade de intercessão entre os pen-samentos não manifestados e que eles podem ser captados por outra mente em momentos de grande acuidade sensorial.
Mas coincidências significativas não ocorrem apenas em forma de telepatia. Elas tam-bém podem ser produtos premonitórios, como no caso do meu amigo que sofria de epilepsia. Dizem os autores acima citados que essas “adivinhações”, ou premonições, resultam de cruzamentos de informações ocorridos no cérebro da pessoa em momentos de intensa tensão interna, causada por emoções, estresse ou mesmo moléstias próprias do sistema neurológico, como a epilepsia. Tem sentido. Personagens com envolvimento em grandes acontecimentos certamente vivem em constante estado de tensão. Se sofrem dessa doença divina (ou danada), mais ainda se justifica suas estranhas habilidades. O nosso cérebro é como um território cuja três quartas partes ainda é desconhecida. Quanta coisa ele não esconde, quantas relações inconscientes ele não estabelece a partir de um único estímulo? Por que, entre essas relações, não pode estar a capacidade, não de ver o futuro, por que este ainda não existe, mas de antecipar um acontecimento, a partir da análise e da dedução das tendências do presente?
Coincidência significativa é tudo isso. Pensar antecipadamente em algo que está para acontecer, “ver” algo que está ocorrendo além do alcance dos nossos olhos, ou simplesmente intuir o que pode acontecer num momento futuro. Por isso, diz Pawels, no livro acima citado:” Pode ser que a máquina (essa função do cérebro) funcione constantemente, mas que nós só sejamos receptivos ocasionalmente. Além disso essa receptividade pode ser raríssima. Talvez seja nula em certas pessoas. Dessa forma há pessoas que tem “sorte” e outras que não a tem.
Bom, não dá para saber se temos ou não esse dom. É preciso experimentar. Dito isso vou marcar o meu cartão para a mega sena da virada. Quem sabe este seja um desses momentos de extrema receptividade em que meu cérebro está conectado a todas as relações universais, presentes, passadas e futuras? E no meio desse cipoal de informações cruzadas eu não consiga capturar aquela que me dará os números que vão ser sorteados na passagem do ano?
Acreditem. Quem acredita faz acontecer, quem não acredita espera outro fazer para ver se é verdade. Por isso chega sempre atrasado. E quando come já está frio.
“ Os técnicos de cibernética construíram máquinas eletrônicas que funcionam primeiro aritméticamente, depois analogicamente. Essas máquinas servem inclusive para o deciframento de mensagens das linguagens cifradas. Mas os cientistas são assim: eles recusam-se a imaginar que o que o homem criou possa também sê-lo. Estranha humildade!”
Pawels e Bergier ― O Despertar dos Mágicos
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Um dia fui a um hospital fazer uma pequena cirurgia. Tratava-se de extrair um pequeno cisto sebáceo que se formara no meu pescoço. O médico que me operou pegou a pequena bola de ácido graxo que tirara do meu pescoço e a cheirou, dizendo: “cara, como isso fede.” Depois mandou fazer uma biópsia do mal cheiroso pelote de sebo e dois dias depois fui ao laboratório pegar o resultado. “ Isso é apenas ácido graxo, seborreia” disse o médico. “Ótimo” pensei, “nada para me preocupar.” E assim fui para casa. Ufa! Parecia que um peso de 100 quilos havia sido tirado dos meus ombros.
Quando cheguei em casa naquele dia encontrei minha mulher chorando no quarto. De-pois de uns dez minutos tentando fazer com que ela me dissesse o que havia acontecido, ou qual dos seus parentes ou amigos havia morrido, ela me estendeu um envelope. Dentro dele havia uma radiografia e um laudo de biópsia. Aquele caroço que eu sentia no seio dela quando a acariciava, era um maldito câncer.
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Quando jovem eu tive um amigo que era epilético. Tinha crises convulsivas nos mo-mentos mais incríveis. Ás vezes estávamos no bar tomando uma cerveja (quer dizer, eu tomava cerveja, ele só bebia refrigerante), e de repente ele desmoronava e começava a contorcer-se no chão e a espumar pela boca.
Não era uma coisa bonita de se ver. As pessoas normalmente se afastavam e ficavam com medo. Epilepsia é uma doença emblemática. Dizem que muitos personagens históricos a tiveram. Alexandre, o Grande, e Júlio César entre eles. Por isso ela era chamada de doença dos deuses. Ou então dos demônios, porque suspeita-se que a maioria dos endemoninhados da Bíblia fossem, na verdade, epilépticos que a medicina da época não sabia diagnosticar. Os sintomas descritos combinam.
Não falta quem afirme também que a grande maioria dos grandes profetas e videntes eram epiléticos. E que suas visões eram devidas a essa doença. Não sei não, mas há algumas estranhezas ligadas com esse mal. Dizem que Júlio César teve premonição de que alguma coisa lhe aconteceria naquele fatídico dia dos idos de março de 44 a.C, quando ele se preparava para ir ao Senado defender a sua pretensão à ditadura. Alexandre também teria previsto o resultado da maioria das suas batalhas antes mesmo de as ter lutado.
Enfim, são histórias da História. Pode-se crer nelas ou não. Mas o meu amigo me deu provas de que alguma coisa estranha acontece no cérebro de quem sofre dessa doença. Um dia passei na casa dele para sairmos para um passeio na cidade. Costumávamos fazer isso todos os sábados. Andávamos, encontrávamos alguns amigos, conversávamos, entrávamos num bar, bebíamos, ás vezes fazíamos algumas serenatas quando um deles trazia um violão, etc. Isso era moda nos anos sessenta, na nossa então pequena cidade, que ainda era uma prosaica comunidade de interior.
Nesse dia ele tinha um compromisso e não pode sair comigo. Então me despedi dele e fui andando. De repente ele me chamou e disse: ― Dê um abraço no Neguitinha.
O Neguitinha era um velho amigo que costumava andar conosco pelos bares de então. Bom garoto, gente fina, como a gente chamava os mais chegados, só que ele fora embora da cidade há mais de dois anos e nós não o víamos desde então. Em princípio estranhei a recomendação do meu amigo, mas logo esqueci. Mas fiquei muito perplexo quando entrei no primeiro bar da noite e lá encontrei justamente o Neguitinha. ― Vim matar a saudade dos velhos amigos― disse ele, com um largo sorriso ― E o Manolo, tem visto aquele “xarope”?
Manolo era o apelido do nosso amigo que sofria de epilepsia. O tempo passou e cada um de nós tomou o seu rumo. Eu casei, entrei para o serviço público, fui trabalhar em outro estado. Passei mais de vinte anos sem voltar a minha antiga cidade. Nesse tempo todo não vi mais o Manolo nem o Neguitinha. Nem soube o que foi feito deles. Quando voltei para minha cidade, depois desses vinte e tantos anos, nem me lembrava mais dos meus velhos amigos de juventude. A maioria dos nossos bares de antanho haviam fechado, os antigos camaradas não mais eram encontrados, tudo estava diferente então. Nem os cinemas havia mais, pois todos tinham sido superados pela televisão. A juventude se reunia agora nas discotecas e nas praças de alimentação do único shopping da cidade. Os jardins e as praças públicas tinham se tornado o território dos mendigos e dos viciados em drogas pesadas. Era perigoso ficar perambulando por esses lugares. Enfim, depois de algumas tentativas para recuperar o velho ambiente e reviver algumas daquelas experiências, eu também desisti e não pensei mais no assunto.
Uma noite, fuçando no meu quartinho de despejo em busca de um antigo livro, encontrei entre os meus guardados uma velha caixa de sapatos com um monte de fotografias anti-gas. Todas em preto e branco. Numa delas estávamos eu, o Manolo e o Neguitinha, vestidos com o uniforme do nosso time de futebol. Quase não reconheci os outros nove, mas do Manolo eu me lembrei instantaneamente. O episódio do Neguitinha me veio imediatamente à memória. “ Que coisa”, pensei. “Como é que aquele cara adivinhou que o Neguitinha ia estar lá justamente naquela noite?”
Na manhã seguinte recebi um telefonema de uma senhora chamada Marta, me comuni-cando que o Manolo havia falecido na noite anterior. “Eu não sabia como achá-lo”, disse ela, “mas um dos últimos nomes que ele pronunciou foi o seu, por isso fiz questão de lhe ligar. Estou á sua procura desde ontem à noite”.
Ele morrera justamente na hora em que eu encontrara a velha fotografia. Marta era a irmã dele. Coincidência significativa.
***
Louis Pawels, no bizarro e intrigante tratado que ele escreveu com Jacques Bergier, pu-blicado sob o nome de O Despertar dos Mágicos, conta a história da relavote. “ “Eu tinha sete anos” escreve ele. “Encontrava-me na cozinha, ao lado de minha mãe que lavava louça. Ao pegar num esfregão para tirar a gordura dos pratos, pensou neste mesmo momento que sua amiga Raymonde chamava a esse objeto uma “relavote” (de laver, limpar). Eu tagarelava, mas nesse mesmo momento parei e disse: A Raymonde chama a isso uma relavote. Não me recordaria desse incidente se minha mãe, vivamente impressionada, não me tivesse várias vezes recordado, como se tivesse adivinhado um grande mistério e sentido num acesso de alegria, que eu era ela, e que recebera uma prova mais que humana do meu amor. Mais tarde, quando eu a fazia sofrer, nos momentos de trégua ela evocava esses segundos de “encontro”, como que para se convencer de que qualquer coisa de mais profundo que o seu sangue passara dela para mim.”
Essas interseções mentais que às vezes acontecem entre pessoas emocionalmente ligadas é o que chamamos de coincidências significativas. Edgar Alan Poe, num excelente conto chamado “Os Crimes da Rua Morgue” também explora esse tema contando como seu personagem Auguste Dupin consegue “acompanhar” os pensamentos de uma pessoa através da observação das suas posturas e da sua linguagem não verbal.
Em nossos cursos de PNL praticamos um exercício semelhante ao que Poe descreve no seu conto. Brincamos durante cerca de trinta minutos de “sombra” de outra pessoa, imitando seus gestos, seus passos, sua respiração, enfim, captando todas as suas mensagens não verbais e no fim do exercício tentamos dizer qual foi seu último pensamento. A média de acertos é surpreendente.
Essas experiências mostram que existe uma possibilidade de intercessão entre os pen-samentos não manifestados e que eles podem ser captados por outra mente em momentos de grande acuidade sensorial.
Mas coincidências significativas não ocorrem apenas em forma de telepatia. Elas tam-bém podem ser produtos premonitórios, como no caso do meu amigo que sofria de epilepsia. Dizem os autores acima citados que essas “adivinhações”, ou premonições, resultam de cruzamentos de informações ocorridos no cérebro da pessoa em momentos de intensa tensão interna, causada por emoções, estresse ou mesmo moléstias próprias do sistema neurológico, como a epilepsia. Tem sentido. Personagens com envolvimento em grandes acontecimentos certamente vivem em constante estado de tensão. Se sofrem dessa doença divina (ou danada), mais ainda se justifica suas estranhas habilidades. O nosso cérebro é como um território cuja três quartas partes ainda é desconhecida. Quanta coisa ele não esconde, quantas relações inconscientes ele não estabelece a partir de um único estímulo? Por que, entre essas relações, não pode estar a capacidade, não de ver o futuro, por que este ainda não existe, mas de antecipar um acontecimento, a partir da análise e da dedução das tendências do presente?
Coincidência significativa é tudo isso. Pensar antecipadamente em algo que está para acontecer, “ver” algo que está ocorrendo além do alcance dos nossos olhos, ou simplesmente intuir o que pode acontecer num momento futuro. Por isso, diz Pawels, no livro acima citado:” Pode ser que a máquina (essa função do cérebro) funcione constantemente, mas que nós só sejamos receptivos ocasionalmente. Além disso essa receptividade pode ser raríssima. Talvez seja nula em certas pessoas. Dessa forma há pessoas que tem “sorte” e outras que não a tem.
Bom, não dá para saber se temos ou não esse dom. É preciso experimentar. Dito isso vou marcar o meu cartão para a mega sena da virada. Quem sabe este seja um desses momentos de extrema receptividade em que meu cérebro está conectado a todas as relações universais, presentes, passadas e futuras? E no meio desse cipoal de informações cruzadas eu não consiga capturar aquela que me dará os números que vão ser sorteados na passagem do ano?
Acreditem. Quem acredita faz acontecer, quem não acredita espera outro fazer para ver se é verdade. Por isso chega sempre atrasado. E quando come já está frio.