Jesus Cristo
Era uma vez uma pequena vila cujos morados viviam em plena harmonia. Em plena luz do dia era possível contemplar a paz de espírito e amor das pessoas como se fossem realmente visíveis aos olhos da carne.
Antes do raiar do dia, a humildade já soava sua melodia fazendo todos se sentirem inspirados de bons pensamentos e principalmente de amor para com o próximo. Todos os amanheceres, no inverno ou no verão, a senhora humildade soava sua canção fazendo os corações se tornarem mais receptivos.
E quanto mais se ama, mas o tempo para ou passa, depende de cada um. Observei amigos meus morrendo de velhice, pois nenhum mal, a não ser este, atingia esta vila. A velhice era nosso único medo, pois outros males não nos afligiam.
Certo dia desses, onde reinava a ordem, chegou um senhor de cabelos ralos, com os pés descalços rogando ajuda por onde passava. Bateu em minha porta. Ofertei lhe sombra e água fresca além, é claro, de uma refeição vigorosa que o fortalecesse.
Sua feição era aconchegante e após a sua farta refeição ousei cortar o silêncio que era o ingrediente supremo entre nós.
- Então, de onde vens?
O interpelado respondeu com certa dificuldade na voz, mas com um belo sorriso:
- Venho de longuíssimos caminhos onde sua cabeça não permite penetrar. Sou um viajor do caminho e fostes o primeiro a me recitar a palavra; Me destes água e comida. Grato! Sou muito grato.
E como se era de esperar que ele contemplace, a minha face sorriu e fiquei lisonjeado, mas creio que a minha moradia tenha sido a primeira que ele resolveu bater à porta, já que todos na vila eram compreensivos e acolhedores até demais. Então, continuei a conversa.
- Não batestes em outras portas dessa vila; Quando quiser, bata. Todos são receptivos e amorosos com o próximo.
- Pois é, venho, nesta vila, de porta em porta e recebo só o desamor. És o único que me recebestes. Grato! Sou muito grato.
Surpreendido, indaguei:
- Ora, impossível. Todos são como eu, aprendi com eles a ser assim. Tens certeza do que fala?
- Claro, meu nobre jovem. O que você não deixou que lhe ensinassem por ser ingênuo é o alto ego. Este vilarejo ajuda a quem conhece - Desconhecidos não tem vez. Você é um jovem que tende a crescer cada vez mais no lado espiritual da vida e eu torço pra que isso aconteça. Cresça, mas deixe que seja expurgado do vosso coração a maldade dessa humanidade que ainda é oculta aos seus olhos.
Fiquei surpreso, é claro, pois me vi num ninho de cobras. Coloquei fé naquele pobre senhor cuja face me cativava. Rendi graças aos Céus por não enxergar o mal que eles espalhavam discretamente e por não ter me transformado iguais a ele. E no meio de meus devaneios mentais fui interrompido pela fala difícil e meiga do pobre senhor.
- Então, rogo-lhe com meu humilde coração que continue assim, pois é assim que eu desejo que a humanidade seja. Diga não as aparências e diga sim ao amor e é pelo seu amor que eu venho fazer morada na sua casa que é o seu coração. Meu nome é Jesus Cristo, filho do Rei Deus.
E num ímpeto, chorando de alegria, sentei-me na cama e disse:
- Obrigado, senhor Jesus Cristo.