O poço de Jacó
O poço de Jacó
j f da costa filho
Teria andado ali o patriarca? Acontecia, em resposta, o dito pelo não dito da confirmação. Mas era assunto corrente a justeza do título. Pelo socorro oferecido à leva de vizinhos. Todos carentes de água civilizada.
Isto para os pensares de hoje. Os de outrora confirmavam-se em mui-tas certezas. Sim, naquelas paragens andarilhou desenvolto certo Jacó, bem apetrechado de alpargatas, solidéu e barbicha caprina. Postulante de simpatias e adesões, em breve era seguido de pequena procissão de acólitos. Entrou pelas casas, comeu, bebeu, dormiu, sem qualquer paga ou imediata compensação. E merecia ainda o prêmio de generoso respeito. Dizia-se e diziam-no manso e pacífico de coração.
- Deixou descendente? indagou o Ferraz, suspeitoso de tão proclama-das intimidades.
Não havia registro. Registro houve, sim, da bizarra ocorrência que em-prestara nome à feitoria. De simples cacimbão, viu-se elevada às excelências do lendário entre o anoitecer e o amanhecer.
Aconteceu que o pensado israelita fazia-se dois dias ausente das vistas do lugar. Não lhe era hábito, que ficava sempre a circular em área de reduzida distância, houvesse chuva ou sol a despencar do céu. Das cismas, os moradores passaram às preocupações. Expediram-se voluntários batedores às grotas, capoeiras e sítios à cata de um vis-à-vis ou de meras notícias do sumido. Nada se conseguiu, nem ao menos algum ouvir dizer.
No vigésimo entardecer, Chica Tenório ia a escorregar o balde pela es-curidão do poço quando se achou a murmurar: “Eu, mulher pecadora, e tu me pedes para beber da água que recolho!” Ao lado, ausente o dono, estacionavam solidéu e alpargatas.
Irremediavelmente arrebanhados, seguiram os cinco para o ex-voto da crença geral.