Esta história que parece irreal. Creiam, aconteceu!
Há muitos anos, conheci uma mulher chamada Odisséia.
O que passou? Tentarei explicar para que não me chamem de mentirosa, que aumento as coisas, ou que sou pescadora, não, sou uma simples alma, contadora de histórias reais!
Bem, vou falar um pouco de Odisséia, afinal esta história é em sua homenagem, ela é minha melhor amiga, carinhosa, tem um bom ouvido e sempre se preocupou com seus amigos, penso que o seu jeito autoritário, afastou a todos, poucos a compreendiam. Uma mulher que sempre tinha em sua casa um presentinho para quando alguém a visitava. Conversava muito bem, era alegre, gostava de dançar, viajar, enfim uma mulher nobre, sofrida, sobre seu sofrimento ela nunca falava, muito menos se fazia de vítima, gostava de se vestir muito bem e adorava comprar. E sempre que eu ia a sua casa ela me mostrava suas obras de arte adquiridas pelo mundo em suas viagens. Eu lhe perguntava:
- Quando morrer, para quem vão deixar todas estas coisas?
- Amiga, acha que vou morrer tão cedo?
- Disso tenho certeza que não!
- Então, porque vou me preocupar com isto!
No dia 30 de setembro de um ano que não me recordo, eram sete horas da noite, quando Odisséia,85 anos, cansada, sentiu uma forte dor no peito e caiu desmaiada. Viviam apenas os dois em uma pequena casa, ela e seu velho marido Leopoldo de 86 anos, também cansado e pedindo todos os dias a Deus para morrer, em suas orações pedia: Assim, sem tirar nem por:
“Senhor, porque me esqueceste? Nada mais tenho a fazer aqui nesta terra maldita, sei que pequei muito, mas Senhor eu sei que não guarda mágoas! Será que sou tão mal assim? Sempre fui um marido exemplar,
Faço todas as vontades de minha mulher.
Conformei-me com sua vontade de nunca
Querer ter filhos. Somos apenas nos dois e
ultimamente ando cansado, não que eu esteja me queixando, mas, tem um marca passo a mais de 10 anos, cheia de próteses, que já perdi as contas! E não tenho mais forças para levá-la e trazê-la do hospital.
E sempre que terminava sua prece ele pensava:
”Que bobo sou! Rezando para alguém que nem sei se existe!”
Enquanto ele pensava.
Do outro lado do mundo, ou melhor, em outra dimensão, alguém o escutava, não só as suas preces, assim como de uma boa parte, pois aqui, tomei conhecimento que as preces são ouvidas por agentes divididos por sessões, assim, desta forma: Têm os escutadores de bairros, esses passam as preces mais desesperadas ao chefe de distrito, que faz uma seleção, dependendo do grau de importância leva ao conhecimento do chefe de governo, até que fazem uma reunião entre os chefes de países. Até chegar ao poder supremo, o “SENHOR”. Este sistema foi criado para poupá-lo de tanto serviço, afinal, ele está cansado, nunca teve umas férias desde que inventou o mundo! E sendo ele o criador dos sete pecados capitais e um deles é a preguiça, tinha dias que tirava para escutar a sua pobre cria, segundo ele, assim gostava de chamar a humanidade!
Assim escutou ao pobre Leopoldo e essa não foi à primeira vez...
Todas as vezes que tirava “plantão”, assim como dizia ele, ouvia as preces de Leopoldo.
Porque ele falava com o coração, com toda a sua força, ele falava em linha direta. E o senhor chamou a seu fiel e leal guardião, o responsável pelas buscas, ou melhor, pelas mortes:
- Padilha? Oh Padilha?
E Padilha, sentado em sua mesa, revisando a lista dos “procurados”, pensava com seus borbotões, enquanto o sistema acabava de cair.
- Que porcaria de sistema... Já falei com o chefe, ele tem que atualizar esta droga! Esses computadores estão obsoletos! Tenho certeza de que há falhas, deve haver muita gente tirando proveito desta situação, ah! Disso tenho certeza!
- Padilha? Está surdo homem!
- Já vou chefia!
- Chefia? Quantas vezes precisarei adverti-lo de que sou O Criador!
- Desculpe Senhor, mas este sistema vai me enlouquecer!
- Bem, desta vez passa, venha até aqui, preciso de você. Veja o Leopoldo, este pobre velhinho de 86 anos, porque ele ainda não está aqui? O pobre há anos fala comigo, tem vezes que até me ofende!
- Ah! O pobre Leopoldo! È que em sua ficha consta, que ele vem depois de dona Odisséia, mas a ficha dela é “DELE” lá em baixo. Penso em suborno!
- Suborno?
- Sim senhor, suborno!
- Como, suborno, aqui è um local de total respeito, não admito essas coisas, quero uma solução em 24 horas.
- A velhota tem costas quentes, há anos venho investigando, até com “ELE” já falei.
- Você falou com “ELE”?
- Claro santíssimo!
- Não gosto que me chamem de santíssimo, quantas vezes vou precisar falar para você que santíssimo è o Papa? Pensas que ele também subornou?
- Não senhor, o caso dele è outro.
- Como outro?
- Penso que tem costas quentes, sem falar na multidão que o manipula. “ELE” tem uma comitiva de guardas costas que o vigiam a todo o tempo? Já fomos para trazê-lo por várias vezes e não conseguimos, eles baixaram o pau no nosso lombo.
- E porque eu não soube desse ocorrido? Agora entendo porque dizem que “ELE” está me dominando.
- Perdão santidade quis poupá-lo dessa injustiça.
- Bem, já que ele me representa na terra essa noite eu mesmo vou fazer uma bela surpresa! Ele está sofrendo muito. E você Padilha trate de trazer o Leopoldo ainda
hoje.
- E dona Odisséia.
- Ela não é nosso problema e sim “DELE”
- Senhor, preciso de computadores novos, o sistema vive caindo e muitas vezes perdem os dados.
- Disso me encarrego. Ande homem vamos trabalhar.
Padilha era uma boa alma, um pouco resmungão, não gostava de modernidades, tinha dificuldade com o sistema de computação, era uma grande responsabilidade, mas, o Senhor, tinha-o como seu braço direito.
Foi então que ele chamou a Walter, seu imediato, Walter fora um bom policial e morreu em combate contra traficantes de Favela do Borel.
- Positivo, chefia, me chamou?
- Chamei Walter, o “Homem” está uma fera hoje!
- Como chefia?
- Ele me chamou de Padilha!
- Ih! Então a coisa è seria ELE, não o chamou de meu filho? Vai subir algum costa quente?
- Então? O Santíssimo!
- O Santíssimo?
- Claro, porque o espanto?
- È que o Santíssimo tem pacto com “ELE”!
- Já estou cansado “DELE”, “ELE” disse que cuidará pessoalmente.
- Eu sei chefia, mas isso vai dar uma merda!
- Por que merda? O santíssimo já está com 84 anos!
- Não se preocupe com isso, temos que trazer o Leopoldo.
- E Dona Odisséia? Já comunicou aos lá de baixo?
- Por quê?
- Por quê? E o pacto?
- O que sabes a respeito?
- Eu? Nada!
- Abra o bico, ou serás demitido!
- Com todo respeito chefia, eu nada tenho haver com isto, muito antes de eu vir para cá essa senhora já havia feito o pacto. Não tenho nada com isso. Morri heròicamente, defendendo a vida de pessoas inocentes, agora falas em me demitir?
- Perdoa-me, estou nervoso, sei que é uma boa alma, mas temos que revisar estas fichas, hoje chegará o Santíssimo e Leopoldo e “ELE” que resolva o problema de Dona Odisséia.
- Positivo e operante chefia.
Enquanto isso, “ELE”, que a tudo escutava, tudo sabia, tinha espiões camuflados e muitos fiéis. Estava nervoso e muito tenso. Pensava:
- O que farei agora? Nem pensar em ter Odisséia aqui neste recinto familiar e tradicional. Ela vai querer mandar mudar tudo e em poucos dias estará mandando mais que eu! Acho que tenho que apelar para “ELE”?
- Vais falar com “ELE”? - Perguntou seu fiel escudeiro.
- E melhor falar com “ELE” a ter Odisséia aqui. Lembra da última vez que a pegamos?
- Como havia de me esquecer?
Quando me lembro de Dona Odisséia com a bengala empinada, batendo em todos que atrapalhavam seu caminho, enquanto chegava, exigindo banda de música, água gelada, coca cola light, coro de anjos e o pior de tudo queria falar com Dom Satã, com o senhor, lembra-se?
- Olha como estou arrepiado? Ela criou caso com a cozinheira, porque sua comida tinha pouco sal. Olha que eu já domei todo tipo de gente, mas aquela ali! Nem o Senhor a quer lá, eu tão pouco.
- E se mandássemos uma ficha lá pro seu Padilha dizendo que ela está aqui?
- Como? E o Leopoldo? Ele fala direto com o Homem! Saberiam na hora de nossa falcatrua.
- Bem poderíamos então trazer o Leopoldo.
- Mas o Leopoldo é deles lá em cima.
- Neste caso não temos saída. Temos que esperar que o Leopoldo morra aí então dar um sumiço na velha.
- O pior é que ele só virá depois dela!
Bem, um verdadeiro impasse, a Odisséia conseguia tirar até o sossego “DELE”! Ela neste instante estava internada, acabara de sofrer o seu sexto infarto. Depois do seu último coma, nunca mais, admitiram que viesse a entrar novamente em estado de liturgia. Via e ouvia a tudo totalmente lúcida. Dizia que não enxergava, mas duvido disto, pois uma vez presenciei quando ela mandou voltar um prato de sopa que havia um mosquito dentro! Como que uma pessoa que diz que não enxerga pode ver um mosquito, dentro de uma sopa de legumes? Sem estar liquidificada!
Dizia que não ouvia nada, o que custou a Leopoldo uma nota preta em aparelho para surdez. Mas eu nunca o vi ligado. Uma vez estava sentada na mesa de jantar, coisa que ela adorava e muito apreciava era comer, a televisão estava ligada, ela falou para Leopoldo, falou não, ordenou, pois esta era uma de suas características: Mandar:
-Retire a roupa da corda porque está chovendo!
- Como querida está chovendo?
- Estou escutando um barulho de chuva.
- Pode ser da televisão.
- Não é barulho de televisão, é de chuva!
- Mas querida, seu aparelho está desligado, vai ver é interferência.
- Como um aparelho desligado pode fazer interferência Leopoldo, vai ver a roupa na corda.
O pobre Leopoldo saiu em direção ao quintal e viu que realmente estava chovendo. O que o deixou curioso e pensativo.
- Como é que ela escutou o barulho da chuva?
Passados dois dias mais, Odisséia saia do hospital de alta médica, Leopoldo desta vez até cemitério havia procurado. Bem, teria que esperar. No taxi de volta para casa, no banco de traz, apoiando a cabeça da mulher que cochilava, escutou na rádio a seguinte notícia:
-“Interrompemos nossa programação. Diretamente do Vaticano falamos com nosso repórter, José do Patrocínio:
- Boa noite Figueroa, é com grande pesar que acabam de confirmar aqui direto do Vaticano da morte de sua santidade, o Papa.
Essa noticia ecoou como uma bomba nos ouvidos de Leopoldo, sua santidade era mais novo que ele e já havia embarcado para a eternidade! Mesmo enfermo dirigia um Pais, uma verdadeira multidão de pessoas. Ainda decidia sobre tantos temas de suma importancia humanitária, política, econômica, etc. E ele? Quando iria?
Naquela noite não conseguia dormir, muito menos falar com o Senhor, não havia como se concentrar, era como se o sistema, a conexão direta estivesse sofrendo interferência. Houve um momento que ele até captou uma voz angelical que dizia:
- Perdão senhor, tente mais tarde, não foi possível completar sua ligação. Nossos operadores no momento estão todos ocupados. ... Até um sinal de tointointoin, escutou.
Tomou um comprimido para dormir, já bocejava, quando Odisséia o chamou:
- Leopoldo!
- Sim querida, está bem?
- Traga-me um copo de água gelada.
- Mas querida, não pode se resfriar é melhor temperar.
- Quero água gelada, já disse, e não vou me resfriar.
Leopoldo era obrigado a cumprir suas ordens. Foi até a cozinha e serviu num copo limpo e transparente de água gelada para sua velha mulher.
Chegando ao quarto, Leopoldo percebeu que Odisséia não roncava, ele tropeçou em seu chinelo e derrubou o copo com água, esperando a bronca de sua amada, para seu grande espanto acendeu a luz e viu que ela havia morrido.
Correu ao telefone e chamou a ambulância sem conseguir colocar o fone no gancho, levou a mão ao peito e ali mesmo morreu.
Despertando na sala de Padilha. Perguntando:
- Onde estou? Quem é você, sei que esse não é o hospital que levo a Odisséia.
E Padilha, com voz melodiosa, calmamente lhe respondeu:
´-Tranqüilo Leopoldo está no céu.
-No céu? Tem certeza?
-Absoluta, venha.
-Mas e Odisséia?
-Desta vez conseguiram levá-la veja!
Emocionados, olhando pela tela panorâmica onde avistava, Odisséia deitada , um médico balançando a cabeça negativamente, escutando com o estetoscópio seu coração que já não mais batia. Cerraram seus grandes olhos azuis, cruzando suas mãos e fazendo o sinal da cruz. Puxou o lençol cobrindo sua cabeça e anotava em sua ficha: Causa morte: Infarto agudo.
E Padilha com lágrimas nos olhos, abriu os braços a Leopoldo e exclamou:
- Bem vindo amigo! Vou te levar direto ao Senhor, ele quer te abraçar.
- Isso aqui é muito bonito, já tinha me esquecido! Tanto tempo!
- Pouca coisa mudou, a única mudança é o numero de almas que aumentaram muito. Vamos homem, o Senhor te espera.
Leopoldo estava preocupado com a sorte de Odisséia, mas feliz em estar de volta. Conversava agora frente a frente com aquele que durante tantos anos apenas se falavam telepaticamente. E que por muitas vezes até duvidara de sua existência. O encontro foi emocionante, quando ao entrar naquele enorme salão atapetado com grama verde, contrastando com o azul do céu, uma confortável cadeira, com um homem sentado de costas para porta de entrada, cabelos brancos e compridos, mal cortados. Pensou Leopoldo....
Sentiu um calafrio na barriga, afinal, não se tratava de uma pessoa qualquer! Era o Senhor, o bom, velho e amigo Senhor, olhando um enorme relógio perdido no espaço, onde marcavam sete horas da noite do dia 30 de setembro, a cadeira virou-se e Leopoldo frente a frente com aquele rosto que jamais esqueceu.
Enquanto isto no reino de Dom Satã chegava minha melhor amiga, Odisséia, com sua bengala, passos rápidos e ligeiros, com seu melhor vestido e a tradicional classe que só a ela competia Perguntando?
- Onde esta o vermelhão? Aposto que esta com o rabo entre as pernas tremendo de medo, cadê o fedorento? – Tá surdo homem? Já vi que continua tudo a mesma coisa, nada mudou.
Acontece que ao interar-se que Odisséia desta vez veio para ficar, o Diabo tomou todas as pílulas para dormir e varias garrafas de wuisk, o que lhe provocou um coma profundo. E minha grande amiga conseguiu sua grande odisséia, ia e vinha do inferno a terra e da terra pro inferno.
Marcia Motta
Há muitos anos, conheci uma mulher chamada Odisséia.
O que passou? Tentarei explicar para que não me chamem de mentirosa, que aumento as coisas, ou que sou pescadora, não, sou uma simples alma, contadora de histórias reais!
Bem, vou falar um pouco de Odisséia, afinal esta história é em sua homenagem, ela é minha melhor amiga, carinhosa, tem um bom ouvido e sempre se preocupou com seus amigos, penso que o seu jeito autoritário, afastou a todos, poucos a compreendiam. Uma mulher que sempre tinha em sua casa um presentinho para quando alguém a visitava. Conversava muito bem, era alegre, gostava de dançar, viajar, enfim uma mulher nobre, sofrida, sobre seu sofrimento ela nunca falava, muito menos se fazia de vítima, gostava de se vestir muito bem e adorava comprar. E sempre que eu ia a sua casa ela me mostrava suas obras de arte adquiridas pelo mundo em suas viagens. Eu lhe perguntava:
- Quando morrer, para quem vão deixar todas estas coisas?
- Amiga, acha que vou morrer tão cedo?
- Disso tenho certeza que não!
- Então, porque vou me preocupar com isto!
No dia 30 de setembro de um ano que não me recordo, eram sete horas da noite, quando Odisséia,85 anos, cansada, sentiu uma forte dor no peito e caiu desmaiada. Viviam apenas os dois em uma pequena casa, ela e seu velho marido Leopoldo de 86 anos, também cansado e pedindo todos os dias a Deus para morrer, em suas orações pedia: Assim, sem tirar nem por:
“Senhor, porque me esqueceste? Nada mais tenho a fazer aqui nesta terra maldita, sei que pequei muito, mas Senhor eu sei que não guarda mágoas! Será que sou tão mal assim? Sempre fui um marido exemplar,
Faço todas as vontades de minha mulher.
Conformei-me com sua vontade de nunca
Querer ter filhos. Somos apenas nos dois e
ultimamente ando cansado, não que eu esteja me queixando, mas, tem um marca passo a mais de 10 anos, cheia de próteses, que já perdi as contas! E não tenho mais forças para levá-la e trazê-la do hospital.
E sempre que terminava sua prece ele pensava:
”Que bobo sou! Rezando para alguém que nem sei se existe!”
Enquanto ele pensava.
Do outro lado do mundo, ou melhor, em outra dimensão, alguém o escutava, não só as suas preces, assim como de uma boa parte, pois aqui, tomei conhecimento que as preces são ouvidas por agentes divididos por sessões, assim, desta forma: Têm os escutadores de bairros, esses passam as preces mais desesperadas ao chefe de distrito, que faz uma seleção, dependendo do grau de importância leva ao conhecimento do chefe de governo, até que fazem uma reunião entre os chefes de países. Até chegar ao poder supremo, o “SENHOR”. Este sistema foi criado para poupá-lo de tanto serviço, afinal, ele está cansado, nunca teve umas férias desde que inventou o mundo! E sendo ele o criador dos sete pecados capitais e um deles é a preguiça, tinha dias que tirava para escutar a sua pobre cria, segundo ele, assim gostava de chamar a humanidade!
Assim escutou ao pobre Leopoldo e essa não foi à primeira vez...
Todas as vezes que tirava “plantão”, assim como dizia ele, ouvia as preces de Leopoldo.
Porque ele falava com o coração, com toda a sua força, ele falava em linha direta. E o senhor chamou a seu fiel e leal guardião, o responsável pelas buscas, ou melhor, pelas mortes:
- Padilha? Oh Padilha?
E Padilha, sentado em sua mesa, revisando a lista dos “procurados”, pensava com seus borbotões, enquanto o sistema acabava de cair.
- Que porcaria de sistema... Já falei com o chefe, ele tem que atualizar esta droga! Esses computadores estão obsoletos! Tenho certeza de que há falhas, deve haver muita gente tirando proveito desta situação, ah! Disso tenho certeza!
- Padilha? Está surdo homem!
- Já vou chefia!
- Chefia? Quantas vezes precisarei adverti-lo de que sou O Criador!
- Desculpe Senhor, mas este sistema vai me enlouquecer!
- Bem, desta vez passa, venha até aqui, preciso de você. Veja o Leopoldo, este pobre velhinho de 86 anos, porque ele ainda não está aqui? O pobre há anos fala comigo, tem vezes que até me ofende!
- Ah! O pobre Leopoldo! È que em sua ficha consta, que ele vem depois de dona Odisséia, mas a ficha dela é “DELE” lá em baixo. Penso em suborno!
- Suborno?
- Sim senhor, suborno!
- Como, suborno, aqui è um local de total respeito, não admito essas coisas, quero uma solução em 24 horas.
- A velhota tem costas quentes, há anos venho investigando, até com “ELE” já falei.
- Você falou com “ELE”?
- Claro santíssimo!
- Não gosto que me chamem de santíssimo, quantas vezes vou precisar falar para você que santíssimo è o Papa? Pensas que ele também subornou?
- Não senhor, o caso dele è outro.
- Como outro?
- Penso que tem costas quentes, sem falar na multidão que o manipula. “ELE” tem uma comitiva de guardas costas que o vigiam a todo o tempo? Já fomos para trazê-lo por várias vezes e não conseguimos, eles baixaram o pau no nosso lombo.
- E porque eu não soube desse ocorrido? Agora entendo porque dizem que “ELE” está me dominando.
- Perdão santidade quis poupá-lo dessa injustiça.
- Bem, já que ele me representa na terra essa noite eu mesmo vou fazer uma bela surpresa! Ele está sofrendo muito. E você Padilha trate de trazer o Leopoldo ainda
hoje.
- E dona Odisséia.
- Ela não é nosso problema e sim “DELE”
- Senhor, preciso de computadores novos, o sistema vive caindo e muitas vezes perdem os dados.
- Disso me encarrego. Ande homem vamos trabalhar.
Padilha era uma boa alma, um pouco resmungão, não gostava de modernidades, tinha dificuldade com o sistema de computação, era uma grande responsabilidade, mas, o Senhor, tinha-o como seu braço direito.
Foi então que ele chamou a Walter, seu imediato, Walter fora um bom policial e morreu em combate contra traficantes de Favela do Borel.
- Positivo, chefia, me chamou?
- Chamei Walter, o “Homem” está uma fera hoje!
- Como chefia?
- Ele me chamou de Padilha!
- Ih! Então a coisa è seria ELE, não o chamou de meu filho? Vai subir algum costa quente?
- Então? O Santíssimo!
- O Santíssimo?
- Claro, porque o espanto?
- È que o Santíssimo tem pacto com “ELE”!
- Já estou cansado “DELE”, “ELE” disse que cuidará pessoalmente.
- Eu sei chefia, mas isso vai dar uma merda!
- Por que merda? O santíssimo já está com 84 anos!
- Não se preocupe com isso, temos que trazer o Leopoldo.
- E Dona Odisséia? Já comunicou aos lá de baixo?
- Por quê?
- Por quê? E o pacto?
- O que sabes a respeito?
- Eu? Nada!
- Abra o bico, ou serás demitido!
- Com todo respeito chefia, eu nada tenho haver com isto, muito antes de eu vir para cá essa senhora já havia feito o pacto. Não tenho nada com isso. Morri heròicamente, defendendo a vida de pessoas inocentes, agora falas em me demitir?
- Perdoa-me, estou nervoso, sei que é uma boa alma, mas temos que revisar estas fichas, hoje chegará o Santíssimo e Leopoldo e “ELE” que resolva o problema de Dona Odisséia.
- Positivo e operante chefia.
Enquanto isso, “ELE”, que a tudo escutava, tudo sabia, tinha espiões camuflados e muitos fiéis. Estava nervoso e muito tenso. Pensava:
- O que farei agora? Nem pensar em ter Odisséia aqui neste recinto familiar e tradicional. Ela vai querer mandar mudar tudo e em poucos dias estará mandando mais que eu! Acho que tenho que apelar para “ELE”?
- Vais falar com “ELE”? - Perguntou seu fiel escudeiro.
- E melhor falar com “ELE” a ter Odisséia aqui. Lembra da última vez que a pegamos?
- Como havia de me esquecer?
Quando me lembro de Dona Odisséia com a bengala empinada, batendo em todos que atrapalhavam seu caminho, enquanto chegava, exigindo banda de música, água gelada, coca cola light, coro de anjos e o pior de tudo queria falar com Dom Satã, com o senhor, lembra-se?
- Olha como estou arrepiado? Ela criou caso com a cozinheira, porque sua comida tinha pouco sal. Olha que eu já domei todo tipo de gente, mas aquela ali! Nem o Senhor a quer lá, eu tão pouco.
- E se mandássemos uma ficha lá pro seu Padilha dizendo que ela está aqui?
- Como? E o Leopoldo? Ele fala direto com o Homem! Saberiam na hora de nossa falcatrua.
- Bem poderíamos então trazer o Leopoldo.
- Mas o Leopoldo é deles lá em cima.
- Neste caso não temos saída. Temos que esperar que o Leopoldo morra aí então dar um sumiço na velha.
- O pior é que ele só virá depois dela!
Bem, um verdadeiro impasse, a Odisséia conseguia tirar até o sossego “DELE”! Ela neste instante estava internada, acabara de sofrer o seu sexto infarto. Depois do seu último coma, nunca mais, admitiram que viesse a entrar novamente em estado de liturgia. Via e ouvia a tudo totalmente lúcida. Dizia que não enxergava, mas duvido disto, pois uma vez presenciei quando ela mandou voltar um prato de sopa que havia um mosquito dentro! Como que uma pessoa que diz que não enxerga pode ver um mosquito, dentro de uma sopa de legumes? Sem estar liquidificada!
Dizia que não ouvia nada, o que custou a Leopoldo uma nota preta em aparelho para surdez. Mas eu nunca o vi ligado. Uma vez estava sentada na mesa de jantar, coisa que ela adorava e muito apreciava era comer, a televisão estava ligada, ela falou para Leopoldo, falou não, ordenou, pois esta era uma de suas características: Mandar:
-Retire a roupa da corda porque está chovendo!
- Como querida está chovendo?
- Estou escutando um barulho de chuva.
- Pode ser da televisão.
- Não é barulho de televisão, é de chuva!
- Mas querida, seu aparelho está desligado, vai ver é interferência.
- Como um aparelho desligado pode fazer interferência Leopoldo, vai ver a roupa na corda.
O pobre Leopoldo saiu em direção ao quintal e viu que realmente estava chovendo. O que o deixou curioso e pensativo.
- Como é que ela escutou o barulho da chuva?
Passados dois dias mais, Odisséia saia do hospital de alta médica, Leopoldo desta vez até cemitério havia procurado. Bem, teria que esperar. No taxi de volta para casa, no banco de traz, apoiando a cabeça da mulher que cochilava, escutou na rádio a seguinte notícia:
-“Interrompemos nossa programação. Diretamente do Vaticano falamos com nosso repórter, José do Patrocínio:
- Boa noite Figueroa, é com grande pesar que acabam de confirmar aqui direto do Vaticano da morte de sua santidade, o Papa.
Essa noticia ecoou como uma bomba nos ouvidos de Leopoldo, sua santidade era mais novo que ele e já havia embarcado para a eternidade! Mesmo enfermo dirigia um Pais, uma verdadeira multidão de pessoas. Ainda decidia sobre tantos temas de suma importancia humanitária, política, econômica, etc. E ele? Quando iria?
Naquela noite não conseguia dormir, muito menos falar com o Senhor, não havia como se concentrar, era como se o sistema, a conexão direta estivesse sofrendo interferência. Houve um momento que ele até captou uma voz angelical que dizia:
- Perdão senhor, tente mais tarde, não foi possível completar sua ligação. Nossos operadores no momento estão todos ocupados. ... Até um sinal de tointointoin, escutou.
Tomou um comprimido para dormir, já bocejava, quando Odisséia o chamou:
- Leopoldo!
- Sim querida, está bem?
- Traga-me um copo de água gelada.
- Mas querida, não pode se resfriar é melhor temperar.
- Quero água gelada, já disse, e não vou me resfriar.
Leopoldo era obrigado a cumprir suas ordens. Foi até a cozinha e serviu num copo limpo e transparente de água gelada para sua velha mulher.
Chegando ao quarto, Leopoldo percebeu que Odisséia não roncava, ele tropeçou em seu chinelo e derrubou o copo com água, esperando a bronca de sua amada, para seu grande espanto acendeu a luz e viu que ela havia morrido.
Correu ao telefone e chamou a ambulância sem conseguir colocar o fone no gancho, levou a mão ao peito e ali mesmo morreu.
Despertando na sala de Padilha. Perguntando:
- Onde estou? Quem é você, sei que esse não é o hospital que levo a Odisséia.
E Padilha, com voz melodiosa, calmamente lhe respondeu:
´-Tranqüilo Leopoldo está no céu.
-No céu? Tem certeza?
-Absoluta, venha.
-Mas e Odisséia?
-Desta vez conseguiram levá-la veja!
Emocionados, olhando pela tela panorâmica onde avistava, Odisséia deitada , um médico balançando a cabeça negativamente, escutando com o estetoscópio seu coração que já não mais batia. Cerraram seus grandes olhos azuis, cruzando suas mãos e fazendo o sinal da cruz. Puxou o lençol cobrindo sua cabeça e anotava em sua ficha: Causa morte: Infarto agudo.
E Padilha com lágrimas nos olhos, abriu os braços a Leopoldo e exclamou:
- Bem vindo amigo! Vou te levar direto ao Senhor, ele quer te abraçar.
- Isso aqui é muito bonito, já tinha me esquecido! Tanto tempo!
- Pouca coisa mudou, a única mudança é o numero de almas que aumentaram muito. Vamos homem, o Senhor te espera.
Leopoldo estava preocupado com a sorte de Odisséia, mas feliz em estar de volta. Conversava agora frente a frente com aquele que durante tantos anos apenas se falavam telepaticamente. E que por muitas vezes até duvidara de sua existência. O encontro foi emocionante, quando ao entrar naquele enorme salão atapetado com grama verde, contrastando com o azul do céu, uma confortável cadeira, com um homem sentado de costas para porta de entrada, cabelos brancos e compridos, mal cortados. Pensou Leopoldo....
Sentiu um calafrio na barriga, afinal, não se tratava de uma pessoa qualquer! Era o Senhor, o bom, velho e amigo Senhor, olhando um enorme relógio perdido no espaço, onde marcavam sete horas da noite do dia 30 de setembro, a cadeira virou-se e Leopoldo frente a frente com aquele rosto que jamais esqueceu.
Enquanto isto no reino de Dom Satã chegava minha melhor amiga, Odisséia, com sua bengala, passos rápidos e ligeiros, com seu melhor vestido e a tradicional classe que só a ela competia Perguntando?
- Onde esta o vermelhão? Aposto que esta com o rabo entre as pernas tremendo de medo, cadê o fedorento? – Tá surdo homem? Já vi que continua tudo a mesma coisa, nada mudou.
Acontece que ao interar-se que Odisséia desta vez veio para ficar, o Diabo tomou todas as pílulas para dormir e varias garrafas de wuisk, o que lhe provocou um coma profundo. E minha grande amiga conseguiu sua grande odisséia, ia e vinha do inferno a terra e da terra pro inferno.
Marcia Motta