O Chamado
A última vez que entrou naquele hospital foi no nascimento de sua única filha. Já se iam quarenta e três anos. Pouca coisa havia mudado, as cores da fachada talvez.
Seu Antônio parou diante da entrada, levantou os olhos para apreciar o prédio. Com chapéu de palha e uma maleta de madeira azul bem surrada - por suas viagens constantes em boleia de caminhão. Ficou ali parado, seus músculo ainda fortes não se moviam.
Passou pela porta de vidro que se abriu automaticamente, desprezou a recepcionista e seguiu até o saguão. As campainhas dos elevadores soavam e luzes verdes e vermelhas acendiam.
Parou diante da escada e pensou nos treze andares que tinha pela frente. Não tinha pressa e sua maleta leve ocupada apenas com o necessário não era ameaça. A expressão no rosto era de um homem decidido, não havia como voltar atrás.
A subida foi lenta e acompanhada de reflexão. Enquanto seus joelhos se dobram e as costas resistem sua mente confirma a necessidade da subida.
Vencido os treze andares uma porta de aços anti-chamas, com alguns escritos, incluindo palavrões, estava diante dele. Sentiu o medo percorrer sua espinha. Com um suspiro pousou a mão áspera sobre a maçaneta que teimou em resistir. Colocou no chão a maleta de madeira azul surrada e com as duas mãos virou e puxou a porta. Ela se abriu. Um corredor iluminado por luzes florescentes que piscavam surgiu. Um passo adiante e iniciou a caminhada pelo estreito corredor. As salas se estendiam pelo lado direto do corredor, do lado esquerdo apenas uma enorme parede sem interrupção. Agora sentia-se calmo. Com passos lentos e despreocupado seguiu até o final e a última porta estava ente aberta. Empurrou-a e ouviu apenas o ranger da porta abrindo. Um feche de luz descia pela janela, atravessava a mesa dificultando a visão de Seu Antônio que foi obrigado a levantar a mão esquerda para enxergar. A sala compreendia três móveis: um gaveteiro de cinco gavetas que estava ao lado esquerdo, uma mesa de madeira escura e uma cadeira também em madeira posicionada enfrente a porta. O ar era leve e o ambiente tranquilo. Sentiu-se seguro e pensou que conhecia a senhora que encontrava-se sentada, vestida de roupa branca e óculos de aros dourados. Seu olhos embora escondidos eram duas contas negras que olhavam firmemente para Seu Antônio . Apontando um bloco com um lápis. Disse com um sorriso:
- Seja bem vindo, escreva por que veio.
- Vim porque me chamaram. Respondeu colocando a mala sobre a mesa e olhando fixamente tentando lembrar de onde a conhecia.
- Precisa descansar, aprendeu o Pai Nosso?
- Lembrei! a senhora é minha avó.
A porta aberta fechou-se.