A Solidão que buscava o Amor

Há muito tempo, numa pequena aldeia perdida neste planeta, nasceu uma menina que logo recebeu o nome de Solidão. Ao sair das entranhas de sua mãe, não chorou, apenas olhou o mundo com os olhos marejados de lágrimas, tristemente.

Na verdade, desde o início, em sua mais tenra infância, Solidão se mostrou uma criança triste. Minguada, corpo franzino, grandes olhos negros, cabelos escuros e lisos... a boca parecia querer aprender a sorrir, mas nunca concretizando a ação. Esse era o seu aspecto.

Enquanto outras crianças se reuniam para as brincadeiras infantis, Solidão, triste em seu canto, apenas olhava, sem nada dizer.

Na adolescência o problema continuou. Ao ir aos bailes e festas, Solidão continuava sozinha, apesar da agitação reinante no ambiente.

A garota se transformou em mulher, mas nada mudou no seu cotidiano. Até que um dia, ao ir para o trabalho, viu um rapaz pela janela de um ônibus, num ponto onde os coletivos paravam. Seu coração, pela primeira vez na vida, se aqueceu, e sua face, normalmente pálida, ficou rosada, tamanha a emoção.

Solidão ficou encantada por aquele ser que lhe tocava tão profundamente o coração. Notava todo seu aspecto: os cabelos loiros que pareciam ter recebido a visita do sol logo pela manhã; os olhos de um cinza azulado que a fizeram ver o mundo numa nova dimensão.

O sorriso do rapaz era largo e branco como as nuvens. Solidão demonstrou tanto encantamento, que uma colega, notando seu entusiasmo, falou-lhe baixinho:

- Eu o conheço... Chama-se Amor.

Solidão coloriu-se de um rubro ao sentir que sua colega havia notado o entusiasmo. Mas também uma alegria enorme encheu sua alma ao saber que aquele, cuja presença inspirou tanta quentura em seu coração, era o Amor e, pela primeira vez em sua longa e solitária existência, Solidão sorriu. Um sorriso largo, profundo, envolvente e de tanta luz, que iluminou o ambiente e todos a notaram e a olharam admirados.

Mas o Amor não estava perto. Solidão teve que se contentar em ficar longe do Amor, sem poder lhe dizer sequer algumas palavras.

Quando chegou ao trabalho, Solidão procurou a colega e quis saber de todos os detalhes sobre o Amor: como era, onde morava, do que gostava… Queria saber de tudo, os menores detalhes e a cada resposta outras indagações surgiam. Ela nunca tinha encontrado o Amor e agora, maravilhada perante a situação, não sabia o que fazer.

Ao voltar para casa rezou para que o Amor estivesse no ponto de ônibus e assim pudesse se aproximar, mesmo sem saber o que lhe dizer. “Sei lá… Pergunto as horas…Comento sobre o tempo…”, pensava Solidão, que queria a companhia do Amor.

Mas de nada adiantou. Solidão não encontrou o Amor… O Amor não veio… Foi embora… E isso a entristeceu muito.

Mas Solidão não perdeu a esperança e no dia seguinte se arrumou, colocou a melhor roupa, uma blusa presenteada há séculos, mas que nunca havia usado, penteou-se e foi em busca do Amor.

Nova decepção. Mais uma vez o Amor não veio. Nem sinal do seu cabelo de sol, de seus olhos de céu... nada, e Solidão pesarosamente foi trabalhar. Arrastou-se até a empresa, pois o que queria realmente era estar perto do Amor… Sentir seus braços em volta do corpo, ouvir sua voz, que ela imaginava rouca… Mas o Amor mais uma vez não apareceu.

E assim foram todos os dias seguintes. Solidão se arrumava, colocava a melhor roupa, rezava, ficava cheia de expectativas e esperança… e mais uma vez o Amor não aparecia.

Teve até uma vez em que ela pareceu avistá-lo! Ledo engano… Não era. O Amor deveria estar longe, bem longe dali, e ela, que sonhava tanto com sua presença, havia tido apenas uma visão ilusória do Amor.

O tempo passou. Os dias foram se somando, e até hoje Solidão ainda procura o Amor, sem nunca mais tê-lo visto.

Mas Solidão não perdeu a esperança. Todo dia passa pelo ponto de ônibus, olha se o Amor está presente, e já se prometeu: quando o encontrar, ela descerá e se entregará ao Amor de corpo e alma.

Carla Giffoni
Enviado por Carla Giffoni em 14/11/2010
Reeditado em 12/01/2012
Código do texto: T2614598
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