I Can't Feel

Não importava quantos eram, a dor que seus olhos exalavam ou seus gritos de terror. Ele não sentia mais o mesmo prazer com aquilo tudo.

Lambeu o filete de sangue que escorria do ventre da jovem a sua frente. Brincou com o bisturi nas mãos antes de forçá-lo contra o rosto da garota por cima do caminho que as lágrimas haviam traçado.

Novas lágrimas vieram e um grito foi sufocado pela mordaça bem presa. Era uma obra de arte. A água espalhava o sangue. Uma pintura em tons de vermelho.

Mas perdera o brilho, não era mais a mesma coisa, não trazia mais as mesmas sensações.

Esfaqueou com fúria, mais enlouquecido do que propriamente feroz. Não conseguia sentir.

Olhou os olhos vazios da vítima. Era só mais uma casca vazia, um quadro rasgado. Juntou o corpo aos demais, espalhados pelo chão.

Deitou entre eles e riu desesperadamente, uma gargalhada doente e histérica.

Deixou a pequena lâmina talhar o próprio corpo, bonitos traços no braço forte. Deixou-se chegar aos pulsos. Foi lento, exageradamente lento. Bebeu dos próprios punhos.

Não havia gosto, não havia dor.

Não havia nada.