Ele...

As palavras do professor sobre o período não flutuavam o bastante para chegar até ela, se perdiam no ar. Lá fora o céu ficava cada vez mais cinza e o vento exaltado entrava pela janela, impondo sua vontade. Uma anarquia total de papéis.

Ela não se importava, danem-se os cabelos bagunçados, danem-se os papéis. Nem ao menos se abaixou para pegar seu trabalho de física, que aos poucos se espalhava.

Chuva.

Tudo bem, ela gostava de chuva e gostaria ainda mais de se molhar na sua caminhada para casa. Isso SE ainda estivesse chovendo até lá. Ainda teriam mais duas aulas e o relógio tinha empacado. Puro tédio. Até as gotas pareciam cair em câmera lenta. Chega.

Iria para o banheiro. Matava aula lá desde que se entendia por gente. Levantou a mão, chacoalhando a mão frenéticamente. O professor a encarou de mau humor.

- Posso ir no banheiro?

Ele revirou os olhos. - Se você não se importa de perder a explicação.. -Disse o velho, grande e magricelo homem dando de ombros e logo depois voltando a se encurvar para o quadro.

Ela se levantou, deixando a poeira da borracha se esvair e saiu. Passou por todo o corredor de salas do segundo ano, chegando ao hall do segundo andar e pegando a escada para o terceiro. No fundo entrou na porta escrito "meninas". O banheiro mais deserto da escola.

Em qualquer dia, menos nesse.

A porta se fechou atrás de suas costas enquanto ela parava petrificada. Seus olhos encaravam Tatiana.

- Vai embora, Elisa. Vai pra casa.

Ti (era como Elisa a chamava), que sempre tinha sido a garota mais amável e otimista, agora segurava uma arma, com um abafador caseiro. Nada estava fazendo sentido naquela manhã.

- Por que? - Indagou tentando parecer tranquila.

As lágrimas agora rolavam pelo rosta da amiga, que respondeu com a voz apertada:

- Ele está aqui. - Elisa virou a cara e tentou olhar pelas cabines - Não. - Tatiana se mostrava impaciente - Não no banheiro, mas na escola.

- Ti... - Procurava se aproximar.

- Não, NÃO CHEGA PERTO! - Elisa parou. Ti tremia compulsivamente, cada vez mais pálida.

- Você não está entendendo. Ele viu que eu o vi, ele sabe que eu sei!

- Ele quem, Tatiana? - Com aquela voz mansa, Elisa se sentia uma miserável impotente. Lágrimas brotaram nos olhos.

- O que vai matar todos nós. - Ti cochichou.

Em frações de segundos Tatiana apontou a arma para sua cabeça e puxou o gatilho. Pedaços do cérebro saltaram, respingos de sangue escorriam por todas as partes, inclusive pelo rosto de Elisa.

Sua amiga agora estava largada no chão, com a cabeça massacrada, rodeada pelo brilhante líquido vermelho.

Elisa desesperada correu. A cada passo ficava mais próxima de cair, as pernas bambas não aguentavam seu corpo. Ao passar de novo pelo hall, pode ver no canto, atrás dos armários, o que parecia ser um homem. Gritou alto se afastando.

Chegou aos portões da escola sem ar, a voz rouca. Trancado.

- EU QUERO SAIR!

Professores e alunos chegavam para olhar a maluca. O porteiro se aproximou preocupado.

- Vocês estão presos aqui. Não tá vendo a enchente lá fora? - Contorceu a cara, a menina estava ensopada de sangue.

Elisa olhou para o cadeado e se agachou. Passava as mãos pela cabeça, cheia de terror.

- Fudeu.

Duarte Adriana
Enviado por Duarte Adriana em 19/10/2010
Reeditado em 19/10/2010
Código do texto: T2564804
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.