Madrugada alucinante

Já era madrugada e eu estava louca para chegar em casa. As ruas estavam mal iluminadas e o vento soprava delicadamente, o que instigava alguns de meus temores. Apressei o passo quando de repente, um objeto passou voando uns cinco centímetros acima de minha cabeça. Cautelosamente me aproximei, era um tênis. Um velho e esfarrapado tênis, cheio de furos. Aqui e ali alguns respingos de sangue.

Meu primeiro impulso foi largar o objeto, mas logo o recolhi. Era tarde. Minha curiosidade corroia meu cérebro. Começei a apalpá-lo cuidadosamente, até que encontrei uma maçaneta, do tamanho de um grão de feijão, na palmilha. Risos histéricos queriam sair da minha boca e tremores dominavam meu corpo.

O que o medo não faz, hein?

Saboreei o momento em que minha mão rodou a pequena bola.

Não sei bem o que aconteceu, mas logo depois apareci deitada embaixo de algo e pelo pouco desse algo que caiu na minha boca, era areia. Com certa dificuldade levantei-me e encarei o mar. O mais belo que já vi, possuía águas cristalinas e estava bastante agitado. Conseguia ouvir as ondas sussurrarem meu nome.

Virei para trás, avistei um menino ruivo e cheio de sardas. Sua pele clara se misturava com a areia, camuflando-o, já seus olhos negros jamais passariam despercebidos. Em alguns passos largos ele se aproximou e disse:

- Nunca entendi a expressão "esperto é o gato que já nasce de bigode!". - Continuei calada, contemplando a escuridão de seu olhar. Ele abriu a boca devagar - Eu te amo. - Colou seus lábios ao meu e depois deu uma leve mordida...

Duarte Adriana
Enviado por Duarte Adriana em 18/10/2010
Reeditado em 18/10/2010
Código do texto: T2563205
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