Pesadelo Maldito no Corredor dos Espelhos

Se me permitem, recomendo ler ouvindo a música COUNTING, do HEAVENS.

Aqui: http://www.youtube.com/watch?v=gYwd9XUyxy8

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BETTER YOU FUCKIN' BELIEVE IT

Oi? Eu no teto, eu no chão, eu do lado direito, eu do lado esquerdo. Eu na frente, eu atrás. Nas diagonais. Eu nu em tudo o que olho. Uma sala de 5m de largura por 25m de comprimento. Uma sala com paredes, teto e chão de espelho. Para onde eu olho, sou eu quem vejo. Por que estou nu neste lugar cheio de reflexos meus? Não há relógio, nenhum ruído, a temperatura permite que eu fique à vontade sem roupa. Não sei qual é o dia da semana. Não sei como vim parar aqui. E o que importa, afinal? Nunca tive problema algum em ficar sozinho. Não sou claustrofóbico e adoro a solidão e o silêncio. Fico a contemplar meu corpo de todos os ângulos possíveis. Não gostei da minha bunda. Meu trapézio direito é maior do que o esquerdo. Minhas pernas são horríveis. Meu braço é razoável. Meu corte de cabelo visto por trás me deprime. Qual é o intuito de tamanho exagero na quantidade de espelhos? Querem me deprimir com as constatações das minhas imperfeições físicas. Mas já estou acostumado, não dou a mínima. Não consigo ter idéia de quantas horas ou dias eu estou preso aqui. Não sinto fome, nem sede e creio que por conseqüência disso, também não sinto vontade de evacuar ou urinar. Me olho nos olhos. Não vejo nada. Uma quase imperceptível tempestade de irritação se formando em algum lugar do meu corpo, talvez. O tédio se aproximando. Cansei dos meus pensamentos, das minhas panturrilhas feiosas, da minha cara de otário. Alguém me tira daqui? Alguém? ALGUÉM ME TIRA DESSA PORRA DE LUGAR MALDITO? MALDIÇÃO! "MALDIÇÃO", repete o meu reflexo frontal. Você está me desafiando, seu cretino? "Você está me desafiando, seu cretino?", ele repete. Seus olhos têm fúria, uma fúria louca. Vejo ímpetos de homicída no brilho de seu (meu?) olhar. Ele (eu?) cerra (cerro) o punho e o dispara contra mim (contra ele?), mas seus (meus?) dedos se chocam com o espelho que se transforma em cacos. E sob o espelho não há nada além de outra camada de espelho. E meu reflexo se contorce de dor, com os pulsos sangrando. E eu também. Desgraça, querem me foder! PORRA! Junto uns cacos e jogo por cima do ombro e eles atingem as minhas costas no reflexo. E minhas costas ardem e o sangue escorre quente. Sinto o coração pulsando nas aberturas dos pulsos e agora das costas. Mas que diabo está acontecendo? Dirijo-me à outra extremidade da sala e fico ali, parado a me fitar, em pé, ereto. Abro a boca e estico o braço direito em direção à boca do meu reflexo. Meus dedos roçam em seus dentes. Sinto sua barba. Sua língua, sua saliva. Ao mesmo tempo que vou empunhando o braço garganta adentro do meu outro eu, sinto o que ele sente: algo maior do que a abertura da minha boca permite invadindo meu corpo oralmente. Mas não há nada entrando na MINHA boca. INFERNO. Apesar da dor e da ânsia de vômito continuo enfiando a mão. Paro. Retiro. Olho. Não sinto nada. O sangue parou de escorrer. Estou morto? Como que tentando abrir caminho numa mata cerrada, escangalho a boca do meu reflexo com as duas mãos e enfio a cabeça dentro de sua boca. Olho os dentes. Hum, cáries. Alguns estão podres e fedorentos. Como sou porco! Como a saburra é escrota! Mergulho mais um pouco. Olá, Dona Glote! Não vai ser você que vai impedir a minha incursão no meu próprio corpo, não é? Sei que não! Ah, é por aqui que o ar entra!? E se eu enfiar o dedo aqui, o que acontece? Vou descendo pela traquéia. Descendo, descendo. Isso aqui incha e murcha, incha e murcha. Há ali uma crosta esverdeada, gosmenta. Como vim parar aqui? Subo de volta. Vou descendo novamente. TUM TUM TUM TUM. AH, é o coração. Ainda tenho um. Será que dentro dele há alguém? Alguma paixão perdida? E se eu for até lá pra procurar o chip de amor que instalaram em mim e destruí-lo em mil pedacinhos? Depois faço isso, agora estou com preguiça. E por falar em preguiça, eis o meu intestino, carregado de tocos marrons! Esse lugar é mal cheiroso! Continuo descendo e vejo uma luz no fim do túnel. Olá, cu! Saio por ali. Vislumbro a mais bizarra das cenas no espelho: dois corpos meus fundidos. Um está de pé com a boca do tamanho de um balde com o meu outro eu enfiado ali até a cintura, com as pernas pro ar e com a cabeça saindo pelo cu do primeiro. Que maluquice! Mas, espera: de qual lado do espelho estou agora? Minhas pernas estão do lado de dentro da salinha maldita e minha cabeça do lado de dentro do espelho. Seguro nos calcanhares do meu reflexo e me puxo pra fora. Sinto as pernas fazendo todo o trajeto pela garganta, estômago, reto, etc. Vejo a sala agora, do outro lado, vazia. PUTA QUE O PARIU! Uma dor lancinamente em todo o corpo. Dói desde a língua até o dedão do pé. Até o cu dói. Coloco a mão lá e está tudo inflamado. Horríveis hemorróidas saltando pra fora. Ah, miséria, meu estômago queima, minha cabeça dói, minha respiração arde, cuspo catarro misturado com sangue, tenho diarréia e vomito ao mesmo tempo. Por quê? O que aconteceu? Cadê aquele silêncio sem dor? Cadê os reflexos? Ainda vejo a salinha espelhada daqui. Há outra pessoa lá dentro, tão confusa quanto eu estive, só que está desesperada. Parece gritar a plenos pulmões querendo sair de lá. É uma mulher. Está nua. Tem um corpo fenomenal! Minhas dores desaparecem. Quero voltar, quero ajudá-la, quero copular com ela, procriar dentro daquele lugar, criar uma nova raça. Olho o meu outro eu parado, com o reto tão grande quanto um duto petrolífero e há uma luz vindo lá de cima - de sua (minha?) boca, suponho. Coloco primeiro o braço direito, depois o esquerdo, depois a cabeça, encolho os ombros; coloco a perna a direita, a esquerda e me esgueiro até o outro lado, onde me deparo com a mais bela de todas as criaturas jazidas no chão com os pulsos e a garganta cortados, jorrando sangue aos borbotões. Quero voltar imediatamente para a dor do lado de dentro do espelho, mas já não há mais reflexo algum. E agora sinto fome, frio, sede, falta de ar, sentimentos conflitantes e todas as dores de todos os impropérios a que me submeti submetendo meu reflexo a sentir.

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Texto que exprime a minha vontade de escrever e a falta de habilidade/conhecimento para tal finalidade. Mas vamos tentando...

Rafael P Abreu
Enviado por Rafael P Abreu em 14/10/2010
Reeditado em 15/10/2010
Código do texto: T2557128
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