À beira-rio
À beira-rio
J f da costa filho
Deitado na relva fresquinha, olhar enfiado no espaço, interrogou-se: “Onde?”. Os pernaltas arribantes, que beliscavam na vermelhidão das águas, gritaram-lhe em coro: “logo mais! logo mais! logo mais!”.
Avaliou a coragem e a distância, e se deu conta da necessidade de espiolhar. “Mas como iria procurar, se lá não se lhe guardavam pa-recenças reminiscentes?” duvidou-se. E, duvidando-se, caminhou ar-rastadamente, com aquelas reticências de quem não tem pressa em alcançar.
Depois dos ritmados dois à frente, um atrás, chegou ao último passo que esbarrou na segunda curva do rio. Era o local indicado. Espraiou o olhar pelas beiradas e pelos alagados e viu bichos e pessoas em justa promiscuidade. Dos bichos, um colorido alegre e comovente. Dos humanos, caras enfarruscadas e vencidas, portadoras de negativas esperanças.
- Que buscas nestas paragens? perguntaram-lhe indiscretamente.
Declinou-se viandante que tinha dúvida sobre se ali já estivera em outras datas. Insistiram-lhe nas raízes: Silva? Santos? Moreira? Necessário dizer.
Examinou-se de memória a memória e não atinou. Remexeu a fundo na busca da avoenga. Nada lhe ocorreu até então. Até então, diga-se bem, porque seguiu-se-lhe, em lampejo, um tal de Pedrinho. Mas este não era vínculo indicativo. Não apontava raízes ou caules. Apenas adorno de nome, um prenome.
Enquanto se absorvia em ver desfilarem essas maquinações do espírito, chegou-lhe ao pé a matriarca, conhecedora extrema de todas as laborações que ali se produziam. Mirou-o por instantes e, prontamente, deitou-lhe solução.
- Pedro Miranda, filho de Tibúrcio? A tua ave não cansa de cantar lá em casa. Não queres vê-la?
“Fogo-pagou, fogo-pagou, fogo-pagou” – entrou-lhe nos ouvi-dos, repentinamente, a ternura do canto que não era do momento, mas de passados tempos. Acordou-se-lhe o entendimento quebrantado.
- Vó?!
- Ainda viva, menino! Vamos que o sol está a esconder-se.